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Mestres das paletas

Use as obras de artistas famosos para ensinar a garotada a gostar de arte e a reconhecer estilos

POR:
Cristiane Marangon
Fabiana mostra trabalhos de Volpi para os alunos (acima) e os orienta na hora da produção (abaixo): estudos teóricos e criação artística. Foto: Gilvan Barreto
Fabiana mostra trabalhos de Volpi para os
alunos (acima) e os orienta na hora da
produção (abaixo): estudos teóricos e
criação artística. Foto: Gilvan Barreto

Parece incrível, mas ainda há alunos que encaram as aulas de Arte como um momento de "descanso", em comparação com a "seriedade" das outras disciplinas. Nesta reportagem, você vai conhecer uma das muitas formas de aumentar o interesse e a sensibilidade da turma. Como? Usando obras de grandes mestres, a exemplo do que faz, há sete anos, a Escola Cooperativa, de São Paulo.

 

"Conhecer essas personalidades permite compreender a mensagem da arte", explica a educadora Ana Maria Neto Nogueira, mestre em Artes Visuais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, produzir trabalhos artísticos e conhecer a produção de outras culturas faz com que o aluno entenda a diversidade de valores. E, enquanto cria peças, a criança desenvolve as competências de relacionar informações novas com antigas, de fazer uma leitura artística e estética e de produzir um trabalho pessoal.

 

Todos esses benefícios, porém, só serão completos se você tomar o cuidado de evitar que os alunos simplesmente copiem obras-primas. O que se recomenda é que as telas sirvam apenas como inspiração e instrumento para compreender o estilo. "Só assim o professor promove o fazer artístico do aluno", explica Rosa Iavelberg, especialista em arte-educação.

Aplicação prática

O projeto da Escola Cooperativa abrange todas as turmas do Ensino Fundamental e é um bom exemplo de como implantar o trabalho em sala de aula. A cada ano, um artista é escolhido. Em 2001, foi Alfredo Volpi (antes, foram Pablo Picasso, Candido Portinari e Tarsila do Amaral, entre outros). "É fundamental apresentar nomes muito conhecidos", explica Fabiana Delboni, professora que comanda a atividade.

O ponto de partida é estabelecer objetivos e apresentar o artista. Além de falar sobre a vida e a obra de Volpi, por exemplo, é preciso garantir que os alunos, inspirados no que vão ver e ouvir em classe, criem produções com materiais diversificados. Um bom começo é perguntar o que a garotada já conhece, antes de levantar a biografia em livros, CD-ROMs e na internet. Esse material servirá para a primeira apresentação formal do artista aos estudantes. Deixe que todos questionem à vontade e discorra sobre onde o pintor nasceu, onde viveu e com quem se relacionou. "Essas questões são importantes porque toda a obra está ligada à vida pessoal do artista", ensina Fabiana.

O passo seguinte é identificar aspectos marcantes na produção artística e distribuí-los como objeto de estudos. Aqui vai uma dica importante: não se limite à pintura em tela.
Nas doze turmas que comandou, Fabiana usou materiais não empregados por Volpi, como argila, caixas de papelão, tecidos e fotografias. É uma boa dica para você montar um projeto semelhante em sua escola. Veja a seguir como foi feita, na Cooperativa, a distribuição dos temas entre as oito séries.

1ª série: abordou a figura da sereia mostrando quem era a personagem e onde ela aparecia. O produto final foi uma instalação com pinturas.

2ª série: estudou os brinquedos que marcam o retorno de uma viagem de Volpi. A produção foi um móbile de sucata.

3ª série: o tema foram os barcos a vela. Nesse caso, o coqueiro que existe na entrada da escola serviu de mastro para a montagem de uma grande vela.

4ª série: se dividiu entre as pinturas que lembram o velho brinquedo Pequeno Engenheiro e as bandeirinhas principal marca do artista. Como produto final, os alunos pintaram caixas de papelão simbolizando o brinquedo em tamanho gigante e painéis de tecido com formas geométricas.

5ª série: ficou com as imagens religiosas e, por isso, criou os próprios santos. Primeiro, inventando a história; depois, desenhando em papel; e por fim, modelando em argila.

6ª série: também estudou as bandeirinhas, mas sob o aspecto da abstração geométrica. Enfocou a perda de referência figurativa nas obras e o resultado foi um painel de azulejos pintado a guache e cola branca.

7ª série: estudou as fachadas. Os alunos saíram pelos arredores da escola fotografando casas e edifícios, depois revelaram os filmes em preto e branco e usaram as cores fortes que caracterizam o trabalho do pintor para colorir as fotos.

8ª série: também teve as fachadas como tema. O produto final foi uma grande tela numa das paredes da escola.

 

 

Inventividade ao transformar o pátio em galeria temporária
Inventividade ao transformar o pátio em
galeria temporária

Os trabalhos foram desenvolvidos em sala de aula, no ateliê, no pátio e até na rua. Se você não dispõe de tanto espaço, não se aflija. "Para produzir grandes obras, o melhor é afastar as carteiras e trabalhar no chão", diz Fabiana. Outro cuidado importante: acompanhe a produção munido de um caderno e faça anotações sobre aspectos como autonomia, cooperação e desempenho de cada aluno. Só assim a avaliação será completa.

No ano passado, a conclusão do projeto foi a exposição das obras de todos os estudantes, em setembro, numa mostra batizada de Primavera com Volpi. Foi um momento de congraçamento com os pais, de orgulho para os jovens artistas e de sentimento de dever cumprido para a escola.

Quer saber mais?

Escola Cooperativa, Av. Cons. Rodrigues Alves, 138, CEP 04014-000, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 5579-4819

A Imagem no Ensino da Arte, Ana Mae Barbosa, 152 págs., Ed. Perspectiva, tel. (0_ _11) 3885-8388, 22 reais

 

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