Blog de Alfabetização

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Nós, professores, precisamos ler (ouvir, visitar e assistir) mais

Para a blogueira Mara Mansani, a formação cultural dos professores interfere diretamente na aprendizagem dos alunos

POR:
Mara Mansani
Crédito: Getty Images

Essa semana, li que a nossa formação cultural impacta e influencia a formação de nossos alunos como um todo:

“Educação e formação cultural são processos históricos em contínuo movimento de transformação e de renovação. Em cada um de nós, a transformação ocorre pelo alargamento dos limites de nossa percepção, dado pela participação nas produções culturais. Ao mesmo tempo, educação e formação cultural nos mobilizam e nos situam em um conjunto de valores, crenças e comportamentos, deslocam-nos de hábitos e nos fazem pertencer a um lugar e a um coletivo. Nossa história, na coletividade, configura-nos, impregna-nos de sentidos e nos faz sentir o mundo de modo singular e plural ao mesmo tempo. Singular porque esta vida é minha vida, neste lugar e neste tempo que particularizam meu imaginário e minha percepção, meus humores e amores, meus saberes e meus fazeres, enfim, porque é única. Plural porque compartilho com aqueles com quem convivo uma história de valores, sentimentos, língua, ideias, modos de morar e de vestir, crenças e hábitos. Na convivência, juntos, participamos de uma rede de significados e nela significamos nossas particularidades”

Caderno 1 - Ser Docente na Educação Infantil: Entre o Ensinar e o Aprender / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. - 1.ed. - Brasília: MEC /SEB, 2016, página 18.

Pois é: levamos para a sala de aula o que somos, o que lemos, o que estudamos, nossa maneira de ser, viver, pensa, nossas crenças e contradições. Isso não é uma novidade, mas nos leva a uma reflexão:  Como anda a nossa formação cultural? Como estamos influenciando a formação de nossos alunos? Que tipo de referência estamos sendo?

Claro que essa formação não é somente nossa responsabilidade, mas em grande parte, é sim. Não digo isso no sentido de "culpar" a nossa categoria, mas de entendermos que, como professores, precisamos e merecemos ter acesso aos bens culturais: ler livros, frequentar exposições, assistir a filmes.

Com essa nossa vida de professores, tão corrida, atropelada, sobra pouco tempo para investir em nós mesmos. Somos engolidos pelas tarefas, e investir em nossa formação cultural deixa de ser prioridade. Mas precisamos mudar isso!

Quando eu era criança, meu pai me apresentou ao "Auto da Compadecida", a maravilhosa obra de Ariano Suassuna. Eu tinha dez anos, e me encantei com Chicó e João Grilo.

Meu filho, por exemplo, teve a oportunidade de aprender sobre as obras de Tarsila do Amaral, na Educação Infantil, em uma escola pública. No mesmo ano, os quadros dela vieram para a Pinacoteca de São Paulo, e ele conseguiu fazer sua própria apreciação, ao vivo.

Mas a realidade de meus alunos atualmente é outra. Quem vai criar a oportunidade para que eles conheçam e tenham acesso a maravilhas da nossa cultura, como Cora Coralina, Paulo Leminski, José Mauro de Vasconcelos, Luís da Câmara Cascudo, Carolina Maria de Jesus, e tantos outros escritores?

Mas não é só de literatura que se faz um bem cultural. Quem vai apresentar Guerra Peixe e sua magnifica obra, quem vai falar da arqueóloga brasileira Niède Guidon e sua luta na preservação no Parque Nacional da Serra da Capivara? Ou os retratos de Sebastião Salgado, a obra de Chiquinha Gonzaga, a música de Villa Lobos e Noel Rosa?

Quem vai impactar e influenciar a formação dos meus alunos? Quem vai proporcionar as experiências e vivências nesse mundo cultural? Sou eu mesma, a professora! Penso que meu papel não deve se encerrar na alfabetização, é preciso formar alunos com o que há de melhor!

Quando mergulho em obras como Quarto de Despejo, de Maria Carolina de Jesus, carrego comigo, entre outras coisas, o acreditar que meninas podem ser protagonistas em sua vida, que mulheres negras podem ser escritoras.

Quando me deixo levar pela música de Guerra Peixe e Villa Lobos por exemplo, compreendo que a diversidade não é fator que separa, mas sim que nos une e que nos envolve. Quando conheço o trabalho de Niède Guidon, valorizo e entendo melhor a nossa própria história. E tudo isso se reflete nas atividades que planejo, na maneira como vou mediar as conversas com a minha turma. A cada imersão cultural, vou me formando um ser humano e uma profissional melhor.

E você, professor? Se lembra do último livro de literatura que você leu inteiro? Qual era o seu título? Isso aconteceu há quanto tempo? Atualmente, está lendo alguma coisa além das obrigações? Conte pra gente nos comentários!

Um grande abraço a todos e até a próxima semana!

Mara Mansani