Que habilidades deve ter o professor da Educação 4.0
Disponibilizar recursos e tecnologias não é garantia de que o aluno vai aprender; para isso, o professor deve ser mediador e colaborador
POR: Débora GarofaloEstamos vivendo um momento de grandes mudanças com o avanço da Inteligência Artificial (AI), Internet das Coisas (IoT), robótica e programação que têm aberto novos caminhos e perspectivas para o desenvolvimento de uma aprendizagem dinâmica. Da mesma forma, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fica determinado que as tecnologias são competência de ensino. E os professores, como ficam nessa história?
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A formação dos professores é essencial para acompanhar tamanha maré de desenvolvimento. As políticas públicas deverão dar suporte para que isso ocorra, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula. Com a inclusão de ferramentas digitais, o poder público precisa entender a prática docente como uma atividade transformadora cujo papel é mediar o conhecimento.
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Por outro lado, é preciso que os docentes renovem suas práticas pedagógicas. Como? O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno.
Ainda que as transformações não ocorram na mesma velocidade na Educação, já é possível perceber avanços como no learning by doing, em que o aprendizado segue na mesma linha dos espaços makers – priorizando uma educação através da vivência e experimentação, resgatando o conceito de jardim da infância.
A participação efetiva de todos os atores, a fim de que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem vai contribuir para o desenvolvimento intelectual do aluno. O professor deverá ter um olhar mais profundo sobre as diferentes práticas adotadas, para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.
Tá dominado
Para Marta Relvas, doutora em Psicanálise e membro efetiva da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, “a sala de aula passa a ser considerada o ambiente para aquisição dessas novas possibilidades tecnológicas, por meio das metodologias ativas e híbridas”. “O professor deixa de ser o detentor do saber e torna-se um colaborador da aprendizagem discente, necessitando o conhecimento de aplicativos básicos eletrônicos para ser capaz de exercer sua função”, afirma. Marta ressalta ainda que o professor também tem que dominar e usar computadores, projetores de multimídias, quadros interativos, tablets, smartphones e outros equipamentos tecnológicos tanto no seu dia a dia para estudar, quanto no processo de interação dos conteúdos das aulas.
Nessa interação, o contato com o outro será a porta de entrada para que os alunos possam construir, descontruir e reconstruir a aprendizagem, numa espiral de conhecimento, seja com o objeto de estudo ou como o exercício da docência. A mediação pedagógica assume novo enfoque, no qual o professor exerce o papel de orientador e incentivador – tornando-se parceiro do aluno e instigando-o a compartilhar e refletir. Os desafios são grandes nessa troca e o uso de metodologias ativas se torna essencial na resolução de problemas.
É importante deixar claro que disponibilizar altos recursos tecnológicos e ambientes virtuais de aprendizagem não garantem aos alunos uma aprendizagem efetiva. Para que tenhamos apropriação de conhecimento no processo de aprendizagem, devemos olhar para a educação integral, mediada pelo professor e pautada por uma aprendizagem rica em experimentação, envolvente e significativa. Nesse contexto, as relações socioemocionais e interpessoais possibilitarão a elaboração e reelaboração por parte de professores e alunos. Ao redefinir o papel do professor, o sucesso dos processos educacionais repousa no trabalho colaborativo e com direito à experimentação.
Para Marta Relvas, ao utilizar ferramentas tecnológicas, o professor consegue ativar o cérebro do estudante por meio de “rotas alternativas” para produção de novas conexões neuronais e aquisição do aprendizado. O ato de fazer estabelece e fortalece as interligações neurais, formando o que a neurobiologia denomina de “teia neuronal”. Em seus estudos, Marta diz que as células neuroglias são as responsáveis por esse “mosaico e citoarquitetura” do potencial de ação entre as sinapses elétricas e químicas dos neurônios da atenção e da memória, conhecidas como funções executivas e cognitivas do aprendizado. Evidências revelam por meio das neuroimagens que as metodologias ativas estimulam a base da ativação do sistema de recompensa, do interesse e prazer. Com as evidências científicas em relação aos processos da aquisição do aprendizado, educar torna-se uma tarefa complexa e que requer de seus educadores a competência e a dedicação nas práxis pedagógicas. “O maior desafio, no entanto, é planejar uma educação capaz de preparar o docente, o educando e a família para essas transformações, onde o estudante assume o protagonismo do aprendizado escolar”, afirma a professora Marta.
O professor 4.0 deve ter percepção e flexibilidade para assumir diferentes papeis: aprendiz, mediador, orientador e pesquisador na busca de novas práticas. Ele deverá criar circunstâncias propícias às exigências desse novo ambiente de aprendizagem, assim como propor e mediar ações que levem à aprendizagem do aluno. Para isso, é preciso ter metas e objetivos bem definidos, entendendo o contexto histórico social dos alunos e as dificuldades do processo.
Citando novamente Marta Relvas, “a neurociência pode contribuir para a ação pedagógica por compreender as estruturas e o funcionamento do sistema nervoso central”. “A didática é a ciência que reconhece as metodologias e as abordagens da sistematização dos conteúdos acadêmicos escolares, e a tecnologia vem como ferramenta que permeia e ativa as curiosidades no sistema de recompensa cerebral. Portanto, pode-se considerar, que uma ciência complementa a outra e devem ser utilizadas como proposta para delinear a escola mais humanizadora que queremos para o futuro que já chegou”.
É preciso explorar os novos recursos e ferramentas, mediando o espaço entre o aluno e a informação, de forma participativa e interativa, próxima da realidade no processo de construção e reconstrução do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem. Porque, sim, o futuro já chegou.
E você, querido professor, como tem percebido estas mudanças na sua sala de aula? Conte aqui nos comentários.
Um abraço,
Débora Garofalo é professora da rede Municipal de Ensino de São Paulo, Formada em Letras e Pedagogia, Mestranda em Educação pela PUCSP, colunista de Tecnologias para o site da Nova Escola.
Marta Relvas é bióloga, Dra e Ms em Psicanálise, neuroanatomista, neurofisiologista, psicopedagoga e especialista em Bioética. Tem certificado de Reggio Emília Study Abroad Program na Itália e Title in Education Neurosciences and childhood and adolescence learning of Erasmus+ University – Europe – Portugal. É Membro Efetiva da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, e da Associação Brasileira de Psicopedagogia RJ. Autora de livros e DVDs sobre Neurociência e Educação pela Editora WAK e Editora Qualconsoante de Portugal. Professora Universitária da AVM Educacional/UCAM, UNESA – RJ, Universidade de João Pessoa – UNIPE, e Professora Pesquisadora convidada no curso de Pós-graduação de Neurociência do IPUB/ UFRJ. Coordenadora do Programa de Pós-graduação de Neurociência Pedagógica na UCAM/AVM Educacional.
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