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Jogos com variações de regras

Ao promover cinco adaptações em modalidades com bola, você ajuda os alunos a desenvolver diferentes habilidades e a melhorar estratégias

POR:
Cinthia Rodrigues
Foto: Marcelo Almeida
REGRAS TRADICIONAIS A professora Ivete iniciou o trabalho na EM Ko Yamawaki com o jogo caçador, ou queimada

Pense na última vez que aprendeu um jogo. Pode ter sido de cartas, de tabuleiro ou algum desafio corporal. No início, provavelmente, você demorava para tomar decisões, precisava consultar as regras, errava mais e, por insegurança, arriscava pouco, certo? Com os alunos, ocorre o mesmo. Eles precisam de tempo e contato com a prática para melhorar o desempenho. As modalidades com bola, especificamente, exigem atenção a outros pontos, além desses. As preocupações incluem o conhecimento do próprio desempenho motor, a consciência da trajetória da bola e da destreza dos parceiros e adversários. Para que desenvolvam essas habilidades diante de tantas variáveis, eles precisam ser submetidos a desafios diversos. Como os jogos não possuem regras rígidas, que caracterizam os esportes tradicionais, eles podem ser recriados conforme os objetivos que se quer alcançar. Para isso, em vez de propor sempre as mesmas competições, modifique as regras alterando cinco itens: gestos, participação das pessoas e uso dos recursos, do espaço e do tempo.


Em Curitiba, a professora Ivete Denise Welsel, da EM Ko Yamawaki, diversificou as normas de um jogo com bola chamado caçador - conhecido como queimada em outras regiões do país. Para começar, ela ensinou as regras da partida tradicional: cada time ocupa uma das metades da quadra e um jogador arremessa a bola para o campo contrário. O objetivo é atingir o oponente. Se ele a agarra, pode arremessá-la de volta, contra-atacando. Se tem o corpo atingido, sai da quadra (a partida termina quando um dos times tem todos os componentes eliminados). Aulas depois, Ivete percebeu quais eram as dificuldades dos alunos e iniciou a variação das regras. Nenhuma proposta foi feita à toa: "Vi no que a turma precisava melhorar e planejei as atividades".

 

Para alcançar seus objetivos, ela mudou as cinco variáveis

Foto: Marcelo Almeida
GESTOS E ESPAÇOS As crianças utilizam a cabeça para passar a bola (à esq.) e usam melhor a quadra (acima)

- Uso dos recursos A primeira interferência foi feita quando espalhou na quadra cadeiras que serviam de obstáculos para quem lançava a bola.

- Gestos Depois de reparar que muitos participantes só corriam, a educadora disse que perdia ponto quem deixasse a bola cair no chão. Dessa forma, todos precisavam mandá-la de volta seja lá de que jeito fosse. "Com chutes e cabeçadas, eles perceberam diferentes formas de interferir na trajetória da bola", diz.

- Uso do espaço Nas semanas seguintes, notou que os estudantes não se deslocavam para facilitar o ataque e a defesa. Por isso, usou um elástico para diminuir e aumentar a área que pertencia a cada time, incluindo, portanto, uma variação que permitia diferentes explorações da área da quadra.

- Uso do tempo Nas aulas seguintes, o jogo terminava em um tempo preestabelecido pela professora - e não mais com a eliminação de todos os participantes de um time. Nesse caso, o desafio era jogar durante um tempo diferente.

- Participação das pessoas Em outras ocasiões, a proposta foi fazer com que os participantes não fossem excluídos, deixando um número variado de jogadores. Por essa regra, os atingidos pela bola deveriam usar uma faixa na cabeça e passar para o time oposto.

Com a mudança nas aulas, mais alunos aprendem

Foto: Marcelo Almeida
TEMPO E PESSOAS Ivete estabelece o fim do jogo (à esq.) e que quem usa a faixa na cabeça muda de time (acima)

Para Andrea Freudenheim, do Laboratório de Comportamento Motor da Universidade de São Paulo (USP), uma vantagem de mudanças de regras como essas é que o professor cria novas situações de aprendizagem. "Não adianta apontar com qual força se deve bater na bola, pois cada aluno precisa achar uma potência. Também não basta pedir que os estudantes explorem a área da quadra. O mais proveitoso é dar condições para eles compreenderem que quanto melhor se posicionam maior o êxito", afirma. Isso quer dizer que treinar uma habilidade durante uma partida é diferente do que praticá-la fora do contexto. No jogo, a criança encontra um desafio real e procura fazer o melhor para vencer (leia a sequência didática).

Assim como o caçador, muitos outros jogos podem ser adaptados. Basta que permitam a participação de todos e sejam desafiadores. A quantidade de variações também é livre - Ivete optou por fazer as cinco, mas isso não é obrigatório. É importante também atentar para o tempo da prática: não deve ser nem tão curto (o que impediria que as crianças aprendessem) nem tão longo (para que não se torne um novo jogo).

Para avaliar atividades como essa, é possível registrar a evolução de cada estudante, produzir vídeos durante as aulas e pedir para a turma analisá-los e investir nas discussões coletivas. "Quando pergunta sobre as estratégias usadas, o educador ajuda a turma a internalizar o que aprendeu", conclui.

Quer saber mais?

CONTATOS
Andrea Freudenheim
EM Ko Yamawaki, tel. (41) 3367-5843

BIBLIOGRAFIA
Jogo - Entre o Riso e o Choro
, João Batista Freire, 134 págs., Ed. Autores Associados, tel. (19) 3249-2800, 32 reais

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