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Trabalho em equipe que transforma e leva à universidade

Escola no Ceará junta a experiência de programa surgido sem professor nem sala de aula com a teoria da aprendizagem cooperativa

POR:
Tory Oliveira

TODOS POR UM: Os jovens estudam em grupos de três e ensinam uns aos outros. Crédito: Jarbas Oliveira

Sete moradores da zona rural de Pentecoste, no interior do Ceará, começaram a estudar juntos. Era 1994 e o grupo, que estava fora da faixa etária escolar e havia sido estimulado por um professor universitário, conseguiu ingressar, um a um, no Ensino Superior. Quem chegava à universidade retornava para a comunidade para ajudar os colegas.

A iniciativa ganhou corpo no Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece), que levou ao menos 500 pessoas à universidade e inspirou outros grupos. Em 2011, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a secretaria de Educação do estado, foi inaugurada a primeira escola com esse DNA: a EEEP Alan Pinho Tabosa. “Eu fui um desses estudantes que passaram pelo Prece, assim como 70% dos professores aqui”, conta o diretor, Elton Luz.

A escola, em tempo integral, conjuga a experiência empírica e a cultura do retorno à comunidade da cidade de 25 mil habitantes com a teoria norte-americana da aprendizagem cooperativa.

Na Alan Pinho Tabosa, os alunos do Ensino Médio estudam em células de três, que mudam a cada semana. As metas de aprendizagem são individuais e coletivas: a nota depende também de como o aluno cooperou com os colegas. E todos compartilham, já na primeira semana, suas histórias de vida, estreitando os laços da comunidade. “A célula só se dá bem se todos conseguirem aprender. Assim, o que sabe mais se esforça para ensinar o que sabe menos. E o que sabe menos se esforça para aprender para não prejudicar o grupo”, resume o coordenador pedagógico Renato Cruz.

A escola atende 521 alunos e é parte do programa Escolas Transformadoras, parceria entre o Instituto Alana e a ONG Ashoka. A iniciativa mapeia escolas que promovem “competências transformadoras”: empatia, trabalho em equipe, criatividade e protagonismo. Para Raquel Franzin, coordenadora do programa, a Alan Pinho destaca-se pelo compromisso com o outro. “É uma das escolas que mais exemplificam a importância do trabalho em equipe”, diz.

Além disso, a autonomia dos alunos é estimulada, e os conflitos são encarados como positivos. “Aprendi a ser assertivo e a não falar de forma agressiva”, explica Ewherton Costa, 17 anos, que está concluindo o Ensino Médio e cultiva a vontade de colaborar com a comunidade escolar. “A escola planta essa vontade de retornar. Isso nutre minha vontade de ser professor. Quero dar aula aqui.”

A OPINIÃO DE QUEM PARTICIPA


"Antes de estudar aqui, não pensava muito no coletivo. A escola abriu minha mente, desenvolvi habilidades sociais. E resolvo os conflitos de forma diferente" Diego Souza, 17 anos, aluno do 3º ano. 



"Valores que aprendemos aqui, como a empatia e a solidariedade, vão me ajudar na vida. Aprendemos melhor o conteúdo quando estudamos com colegas"  Livia Mota, 17 anos, aluna do 2º ano. 



"Um dos maiores desafios é ganhar os alunos que vieram da cultura da escola tradicional para a aprendizagem cooperativa" Janayna Maciel, 28 anos, professora. 



A APRENDIZAGEM COOPERATIVA

Em todas as disciplinas, alunos se dividem em grupos de três, que mudam a cada semana.

O que é: Nascido nos EUA, é um método de ensinoaprendizagem baseado na aprendizagem com base na cooperação entre um grupo de estudantes. Há cinco elementos básicos: interdependência positiva, interação promotora, processamento de grupos, habilidades sociais e responsabilidade individual.

Avaliações: Alunos são organizados em células de três.
Quando o grupo vai bem, ganham bônus para
melhorar seu desempenho individual.


Tempo de aula:
Professores falam de 20% a 30% do tempo.
O restante da aula é conversado entre os próprios alunos.