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Como as competências socioemocionais promovem saúde mental?

Rosane Voltolini, representante da Associação pela Saúde Emocional das Crianças, ressalta a importância de reconhecer a dor e de desenvolver estratégias para lidar com situações difíceis e com os sentimentos

POR:
Paula Salas
Crédito: Lucas Magalhães

“Usualmente, nossa sociedade educa ou deseduca emocionalmente nossas crianças?”, provoca Rosane Voltolini, coordenadora dos dos núcleos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (ASEC) durante o evento Saúde Mental na Escola,realizado pela NOVA ESCOLA, com apoio do Facebook e Instagram no dia 15 de setembro. A pergunta leva todos a pensarem. “Deseduca”, respondem pessoas na plateia.

Para exemplificar como a sociedade deseduca as crianças emocionalmente, após lançar a pergunta, Rosane descreve uma situação comum: a reação de adultos ao virem uma criança que acabou de cair e começa a chorar. ‘Não é nada’, ou ‘Não doeu’, essas frases soam familiares?

“Dizemos para a criança se descolar de si mesma e sem perceber passamos por um processo de desalfabetização emocional”, comenta a especialista. Se a reação fosse reconhecer que está doendo e acolher a criança, a palestrante diz que, em questão de segundos, ela pararia de chorar. Não reconhecer a dor daquela criança é o que faz com que ela continue gritando, clamando por atenção.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como saúde mental  estado de bem-estar, no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com sua comunidade. Os pesquisadores perceberam que desenvolver competências socioemocionais - além das cognitivas -  é essencial para ter sucesso e qualidade de vida.



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LIDANDO COM OS SENTIMENTOS
Mas como desenvolver as habilidades socioemocionais nas crianças? Para auxiliar nessa missão, foi criado o programa Amigos do Zippy, da ASEC. A iniciativa consiste em desenvolver a alfabetização emocional com crianças entre 6 e 8 anos. Elas aprendem a identificar - nelas e nos outros- os sentimentos. “Tem muito adulto que diz ‘eu estou sentindo uma coisa’, mas ele não sabe dar nome. As crianças aprendem, aos 7 anos, que isso tem nome e que muitas vezes se chama tristeza”, comenta Rosane.

O programa parte da premissa que os sentimentos são naturais ao ser humano e é preciso conectar-se com eles até quando são vistas como negativas como, por exemplo, a raiva. “O problema não está no que eu sinto, mas no que eu faço quando estou sentindo”, comenta a palestrante.

O que é ensinado para as crianças, é que ao enfrentar uma situação difícil, é possível lidar primeiro com o que aconteceu e com o sentimento despertado no momento. Ter uma reação impulsiva pode ser natural, mas os que as crianças devem descobrir, é que suas ações podem ter consequências ainda mais danosas. É necessário desenvolver as habilidades para criar estratégias positivas de enfrentamento e as socioemocionais permitem que elas criem esse repertório. Assim, as crianças - que praticam essas competências com a mediação do professor - vão estar munidas para poder fazer a melhor escolha em momentos de conflito.

Rosane comenta que é indicado, Diante de uma situação difícil enfrentada por um aluno, o professor não trazer seu julgamento pessoal, mas sim questionar o aluno para refletir sobre cada uma das perguntas acima. É importante que a criança formule suas próprias respostas e aprenda a escolher o melhor caminho de enfrentamento.

Os educadores que ministram as aulas do programa dos Amigos do Zippy recebem uma formação e ao vivenciar o passo a passo da metodologia que será passada para as crianças. Eles passam por uma transformação e começam, consequentemente, a olharem mais para si mesmos. “Percebemos que os professores estão sedentos de algo para eles também, é uma carga muito pesada”, comenta Rosane. Questionada sobre como a gestão escolar pode trabalhar as habilidades socioemocionais do professor, ela dá uma dica: “comece validando essa dor e entender como eles lidam com as dificuldades em sala de aula”.

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Como as habilidades socioemocionais podem auxiliar a prevenir o suicídio?
Rosane comentou o caso de  cidade em Santa Catarina que desenvolve iniciativas de Educação emocional há 10 anos. Com a explosão da Baleia Azul - “jogo” que consistia em receber desafios on-line que evoluíam para metas mais perigosas como, por exemplo, automutilação e dizia-se que a “missão” final era cometer suicídio - as comunidades se organizaram para acolher os jovens.

Pesquisas feitas pela Secretaria de Saúde e Educação do município constataram que não haviam casos de suicídio entre os que haviam participado do programa. “Significa que os jovens dessa cidade não tem problema? Não, mas são jovens que tem uma mochila de competências socioemocionais e toda vez que se deparam com um problema, eles têm estratégias para lidar com aquele sofrimento”, comenta Rosane. Durante o levantamento da pesquisa, os gestores também notaram que no município os jovens recorriam aos professores por ajuda - que segundo a especialista, é uma atitude importante para prevenir suicídios.

Ter a habilidade de criar estratégias positivas que cria um fator de proteção que funciona como um antídoto para a falta de opção. “A criança ou jovem conclui que o suicídio e os comportamentos autodestrutivos não são uma opção, na verdade, eles são uma falta de opção. Se ela tiver habilidade de criar essas estratégias, a falta não é uma opção”, afirma Rosane.

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Aproveite para assistir a palestra da Rosane na íntegra:

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