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4 movimentos de extrema direita

Muitos grupos e partidos com bandeiras conservadoras e, às vezes, xenófobas e racistas, existem no mundo. Veja quais são os mais conhecidos

POR:
Aurélio Amaral

Marine Le Pen, líder da Front National, partido de direita francês. Foto: Wikimedia Commons

No mapa político global, chama a atenção o crescimento de movimentos de extrema-direita ou direita ultraconservadora - a francesa Marine Le Pen, líder do partido Front National (FN), entrevistada por VEJA (VEJA 2414, 25 de fevereiro de 2015), é uma das expoentes dessa corrente ideológica. Uma série de fatores explica a ascensão desses movimentos. Historiadores, como o francês Gérard Noiriel, mostram como as crises econômicas e seus efeitos devastadores tendem a favorecer os discursos que fazem dos imigrantes os bodes expiatórios. Esse fenômeno é ainda mais forte nos contextos onde o Estado-providência (também conhecido como Estado de bem-estar social) é tradicionalmente forte (como é o caso da Europa), mas se encontra ameaçado por cortes orçamentários. Gera-se nesses casos uma luta política pelos recursos onde os mais fracos - os estrangeiros - terminam sendo acusados de abusar dos benefícios estatais.


Porém, o incremento da extrema-direita não pode ser explicado apenas por problemas socioeconômicos. Há também uma crise profunda da democracia representativa, com uma perda de confiança generalizada nos partidos de governo tradicionais. A corrupção e a aparente incapacidade dessas organizações em lidar com o sistema financeiro global contribuíram para sua perda de legitimidade. Além disso, o aumento dos fluxos globais de população tem desestabilizado certos setores da opinião pública, que ficaram sem saber como adaptar-se a essa nova realidade multicultural e hoje conhecem uma forte crise de identidade. Os lideres políticos dos partidos tradicionais têm uma grande responsabilidade nisso porque não prepararam as sociedades para essas mudanças a partir de uma perspectiva integradora.
Nesse contexto, os movimentos de direita ganharam força.

É importante entender que há enormes diferenças entre eles, segundo os contextos nacionais e regionais, pois as fontes intelectuais e as trajetórias de cada uma delas são extremadamente diversas. Na Europa, por exemplo, eles são nacionalistas e defendem a soberania nos planos políticos e econômicos, rejeitando a União Europeia e suas instituições tecnocráticas. Porém, em cada região, têm características próprias, que se vinculam com uma longa história de ultranacionalismo. Veja a seguir:

1. Front National (França)
Partido criado em 1972 por Jean-Marie Le Pen, mas que tem raízes anteriores, e relacionadas com o colonialismo e o regime de Vichy, que comandou a França entre 1940 e 1944 e era um governo fantoche da Alemanha nazista. Hoje, a herdeira da legenda, Marine Le Pen, tem um discurso que se apresenta como muito mais moderado que o do pai: tenta não dizer nada diretamente racista ou xenófobo para evitar a demonização da Front National, mas segue muito ambíguo. Aproveita, por exemplo, o medo e os preconceitos sobre o Islão para enfatizar esse tema em suas campanhas. Marine Le Pen é uma figura carismática que tem boas probabilidades de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais de 2017, mas poucas chances de ganhar. Até o momento, nenhum partido de direita tradicional aceita fazer alianças com o FN, mas isso poderia eventualmente mudar no futuro.

2.Jobbik (Hungria)
Diferentemente do FN, o Jobbik é um partido mais novo (2003), mas que já tem uma impressionante presença na Hungria. Nas últimas eleições nacionais, em 2014, o partido conquistou 20% do parlamento - em 2006, eles detinham apenas 2,2% dos votos. O partido também detém 3 das 21 cadeiras húngaras no Parlamento Europeu. Como o FN, critica a integração europeia, mas é muito mais radical. Alguns de seus representantes já deram declarações incisivas contra judeus, ciganos e outras minorias no país (em 2014, o FN e FPÖ austríaco até recusaram se aliar no Parlamento Europeu com o Jobbik). Também se refere à longa história do nacionalismo húngaro, reclamando por exemplo, voltar à "Grande Hungria" (prévia ao Tratado de Trianon de 1920, que desmantelou o Império Austro-Húngaro). É muito pouco provável que um partido como esse possa entrar numa coalizão governamental sem provocar fortes reações dos países membros da União Europeia.

3. Pegida (Alemanha)
Não é um partido político e não concorre à eleições. Trata-se de um movimento claramente islamofóbico criado apenas em 2014, que teve repercussão mundial em atos no leste da Alemanha. É difícil saber se poderá sobreviver ao tempo. A sociedade alemã carrega traumas em relação a sua historia nacional e ao nazismo, por isso grupos de extrema direita ainda encontram muita resistência. De qualquer forma, a existência do Pegida é sintomática de uma tendência europeia de rejeitar o Islão, e que não foi levada a sério por nenhum partido tradicional.

4. Tea Party (EUA)
Movimento com certa influência dentro do Partido Republicano, mas que não se configura como partido nem como uma tendência oficial entre os republicanos. Batizada em referência ao Boston Tea Party, episódio de insurgência de colonos norte-americanos em 1773 contra os impostos britânicos sobre o chá, essa ala surgiu a partir de uma crise do Partido Republicano, que depois da era G.W. Bush e do neoconservadorismo, ficou órfão de uma linha política clara. O Tea Party diverge da extrema-direita europeia em particular em relação ao papel do Estado. Enquanto os radicais do velho continente defendem intervencionismo na economia em prol da defesa dos interesses nacionais, a ala republicana prega o estado mínimo. Embora defenda diretrizes mais rigorosas de imigração, a xenofobia tampouco é um eixo central do discurso Tea Party, que defende outros temas tradicionais da direita estadunidense, como a diminuição dos impostos e a defesa do porte de armas. Ainda assim, dentro do movimento existem divisões ideológicas sobre alguns temas, como a política externa dos Estados Unidos.
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