Crie sua conta e acesse o conteúdo completo. Cadastrar gratuitamente

Como vencer o ódio: é preciso estar aberto ao diálogo

O diálogo não precisa terminar em acordo. O importante é manter aberta a comunicação

POR:
Rodrigo Ratier
Grafite Girl with Balloon de Banksy, nas ruas de Londres   Foto: Wikimedia Commons/Wikipedia

Se estamos numa situação de guerra e se queremos sair dela, vale a pena investigar as estratégias usadas para curar feridas de povos que estiveram em conflitos. Há dois caminhos básicos. O primeiro, da punição e da revanche, aprofunda as divisões e alimenta o desejo de vingança. A outra rota é a das reparações, que começa pelo diálogo. Não vamos falar da ideia voluntarista do diálogo como varinha mágica para desfazer desavenças e mal-entendidos. A conversa sem preparação, aliás, pode romper pontes e piorar o problema.

A meta é ver o diálogo como ferramenta para ajudar pessoas a se compreender mutuamente. Há uma tradição milenar de investigação sobre o tema, originada em Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) e Platão (428 a.C.-348 a.C.), com lugar central na obra de pensadores como Hannah Arendt (1906-1975), Martin Buber (1878-1965) e Paulo Freire (1921-1997) e na ação de líderes pacifistas, como Gandhi (1869-1948) e Martin Luther King Jr. (1929-1968). Diálogo se aprende e se ensina. Aqui entra a Educação, que ainda pouco fala sobre os recursos que ajudam a combater o ódio em interações presenciais e nas redes.

Como o diálogo é uma conversa, é preciso atenção às duas ações que a compõem: a escuta e a fala. Comecemos pela menos exercitada, a escuta. Estar aberto a ouvir de verdade e com interesse é essencial para que o diálogo ocorra. O objetivo é a empatia, a compreensão respeitosa do que os outros estão vivendo. Rosenberg, o psicólogo americano, defende que ela só ocorre quando suspendemos os julgamentos sobre a ação das pessoas. Isso não significa concordar com elas, mas entender que mesmo escolhas erradas podem ser motivadas por necessidades genuínas - o exemplo clássico é do assaltante que rouba um mercado para alimentar a família. Quando a empatia funciona, vilões viram humanos, dizem os coaches Kerry Patterson, Joseph Grenny, Ron Mc-Millan e Al Switzler, autores de Conversas Cruciais. Eles sugerem uma indagação: "Toda vez que se pegar rotulando uma pessoa, pare e pergunte: 'Por que alguém razoável, racional e decente faria o que essa pessoa está fazendo?".

10 ações para vencer o ódio na escola

O contato pessoal é a situação mais fértil para o diálogo

1. Escolha o melhor momento
Muitas vezes é preciso esperar para dialogar. Converse com a outra pessoa e decidam, juntos, a hora e o local mais adequados.

2. Escute de verdade
Procure entender de onde vem a opinião do interlocutor. Não interrompa. Dê tempo para ele se exprimir e pergunte a si próprio: "Por que essa pessoa pensa como pensa? Por quais motivos ela tomou as decisões que nos trouxeram até aqui?"

3. Pense antes de falar
Escolha as palavras com cuidado e adote um tom diplomático: "Quero escutar você e convidá-lo a ouvir o que tenho para dizer".

4. Descreva fatos, não julgue
Avaliações põem as pessoas na defensiva. Em vez de "Fulano é indisciplinado", prefira "Fulano foi para a diretoria quatro vezes neste mês".

5. Evite certezas absolutas
Indique que suas opiniões são provisórias e você está aberto a outras versões: "Tenho pensado da seguinte forma", "Do que posso ver, entendo que?"

6. Expresse seus sentimentos sem violência
"Senti raiva quando você começou a gritar" é melhor do que "Você é histérico", que agride o outro.

7. Busque o terreno comum
Sinalize se houver alguma parte do argumento do interlocutor com que você concorde. Isso ajuda a aproximar vocês.

8. Abra espaço para as emoções
Choro, risos ou raiva são reações possíveis e naturais em conversas sobre temas difíceis.

9. Se for o caso, peça desculpas
Se lhe parecer claro que você desrespeitou o outro, diga que sente pelo erro.

10. Se não estiver convencido, não aceite a versão contrária
Dialogar não significa concordar automaticamente com o interlocutor, mas conhecer melhor seu ponto de vista e suas motivações para agir.

Este conteúdo é parte da reportagem de capa da edição 304 de NOVA ESCOLA. Clique nos links abaixo para ler o resto do conteúdo:
Você pode parar a guerra
13 estratégias para identificar o discurso de ódio
10 dicas para acabar com o ódio no Facebook

Tags

Guias