A Nova Escola e as eleições de 2018: respeito, carinho e confiança
Acreditamos que a escola deve ser um lugar de prazer, tanto para ensinar quanto para aprender
POR: Leandro BeguociA calma é uma ótima conselheira. Como diz um grande amigo, a pressa vai, o prejuízo fica. Por isso, resolvi escrever este texto para você só hoje, alguns dias após Jair Bolsonaro vencer a corrida eleitoral. Quando a agitação diminui, a clareza surge.
Antes de tudo, é preciso reconhecer que essa eleição derrubou uma série de ideias pré-concebidas sobre Educação e sobre os professores. Havia um senso comum de que a maior parte dos professores gravita entre a esquerda e a centro-esquerda. Pelos dados prévios, isso não é mais verdade (se já foi um dia).
Bolsonaro venceu entre pessoas com curso superior e teve votação expressiva entre as mulheres, dois universos em que os professores estão inseridos. Além disso, basta uma análise dos comentários nas nossas reportagens e redes sociais para notar que muitos educadores deram apoio entusiasmado ao capitão do Exército. Some-se a isso muitos comentários em favor do Escola Sem Partido, bandeira cara ao presidente eleito pelo PSL. Ainda são dados preliminares, mas é inegável que algo aconteceu entre professores, coordenadores e diretores de escolas.
Tem mais. A disciplina ressurgiu como grande assunto escolar. Nos últimos anos, saúde mental, inclusão e clima escolar, com foco em bullying, estavam se destacando entre as principais preocupações docentes. Essa eleição trouxe o controle dos alunos como tema.
Conversando recentemente com uma professora que votou pela primeira vez contra o PT em uma eleição presidencial (ela foi de Bolsonaro no segundo turno), percebi o quanto esse assunto estava silenciado. A professora me relatou o caso de um aluno que levou uma arma para a escola. Também me contou de estudantes que espancavam outros educadores. Em cada história, vivida por ela ou pelos colegas, um retrato triste de algumas salas de aula Brasil afora. “Alguns colegas dizem que acabou essa história de aluno no centro, que com Bolsonaro será disciplina ou rua”, me conta a professora, que pediu anonimato. “Eu não concordo com eles e acho essa frase péssima, errada, contra tudo o que acredito em Educação. Porém, precisamos fazer alguma coisa. Não dá mais para ter tanta violência dentro da escola”.
Por fim, percebi claramente que muitos educadores se sentem sem voz. A crise de representação, tão forte nesta disputa eleitoral, também tem seu capítulo na Educação. Analisando pesquisas recentes, vê-se claramente que os professores estão dizendo um enorme “não me representa” para as instituições que, tradicionalmente, faziam esse papel. Sindicatos, escolas de pedagogia, associações. Isso é muito grave e exige reflexão por parte de quem trabalha para fortalecer os educadores. É a partir deste ponto que trago as posições da Nova Escola.
Nossos valores
A missão de Nova Escola é fortalecer os professores para transformar o Brasil. Nós existimos para apoiar cada pessoa dedicada à Educação. No trabalho diário, elas fazem seus melhores esforços para garantir uma Educação de qualidade a todas as crianças do país.
Nós não fazemos isso a partir de um território neutro. Somos herdeiros da Constituição de 1988. Por isso, acreditamos que a Educação deve ser direito de todos e todas no Brasil. Também reconhecemos a dívida histórica que o país tem com seu povo. Primeiro, privado de acesso. Nunca canso de me surpreender com o fato de que só universalizamos o acesso ao Ensino Fundamental nos anos 1990. Depois, privado de qualidade com equidade. Há progressos, mas mal distribuídos pelo Brasil.
Tem mais. Acreditamos que a escola deve ser um lugar de prazer, tanto para ensinar quanto para aprender. Por isso, as escolas devem estar abertas à diversidade e à colaboração. Por fim, acreditamos que a Educação é tão boa quanto são seus professores – e que o objetivo final dos melhores educadores é colocar o aluno no centro do processo de aprendizagem.
Há muitos meios para atingir esses objetivos, que foram perseguidos por todos os governos desde a redemocratização, de formas diferentes. A partir de 2019, nós esperamos que o governo de Bolsonaro seja fiel à Constituição também na Educação. E é por essa fidelidade à lei do país e aos nossos princípios que nos posicionamos de forma clara, embora nunca agressiva, em alguns pontos.
Nós somos contra ditaduras militares por um sem número de motivos – mas também porque as duas que tivemos no Brasil foram incapazes de entregar uma Educação de qualidade para o nosso povo mesmo quanto outros países, em situações muito piores, assumiram essa responsabilidade.
Nós somos contra o Escola Sem Partido porque entendemos que o projeto cria um clima de desconfiança terrível para o ambiente escolar e aumenta os conflitos entre alunos e professores. Além disso, entendemos que o projeto terceiriza para a Justiça algo que deveria ser basilar em uma escola: o diálogo franco e permanente entre pais e professores. Afinal, escola é o lugar em que vamos para aprender a pensar. Um certo desconforto é inerente. A forma como lidamos com ele mostra como nós, sociedade brasileira, decidimos resolver os nossos conflitos.
Dito isso, estamos dizendo que está tudo bem nas salas de aula do Brasil? Não. Há claramente problemas. A questão é que, no nosso entender, eles são pontuais e não justificam uma lei que consome tantos esforços num momento em que há tanto para fazer em Educação. Afinal, se existisse doutrinação na escala defendida pelo Escola Sem Partido, Bolsonaro não teria tido uma votação tão expressiva – inclusive entre os professores.
Mas não somos apenas contra. Acreditamos na força das propostas. Nós somos sempre a favor de projetos que melhorem as condições de trabalho dos professores e o aprendizado dos alunos. Por isso, somos a favor do PNE (Plano Nacional de Educação) e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), para ficar em duas políticas públicas muito importantes, agendas muito claras para o futuro da Educação no Brasil. Também somos a favor do fortalecimento de todas as instituições que representam os professores e fortaleçam a voz de cada um deles no debate público, especialmente em políticas educacionais. Afinal, Nova Escola não é partido, sindicato ou órgão de representação.
Somos uma associação sem fins lucrativos com valores claros e disposta a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance em prol da Educação brasileira, sempre nos nossos universos de atuação – formação de educadores e jornalismo de Educação. Fazemos isso em diálogo com quem concorda e com quem discorda de nós. Nós aprendemos com as conversas francas, mesmo as mais difíceis.
Para encerrar, gostaria de lembrar algumas críticas das quais fomos alvo no passado recente. Já fomos acusados de ser de direita, centro-direita, centro-esquerda e esquerda. Para alguns veículos de comunicação, isso seria um elogio – afinal, significa que estamos igualmente desagradando todas as correntes políticas. Porém, desagradar não é o nosso objetivo – muitas vezes, cria mais ruído do que entendimento. E, para ser honesto, tampouco queremos agradar todos os educadores o tempo inteiro – isso significaria que não fazemos nenhuma diferença no mundo ou que não estamos falando do que é importante.
Nosso objetivo é inspirar em você o que você desperta em nós: respeito, carinho e confiança. Podemos discordar muitas vezes – faz parte. Mas jamais vamos perder os princípios que nos guiam e os sentimentos que nos movem.
Vamos nessa?
Um abraço,
Leandro Beguoci
Diretor da Nova Escola
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