Projeto ensina cultura de paz e comunicação não-violenta
Professora do 5º ano construiu projeto sobre o poder da não violência, reconhecido no Brasil e no exterior
POR: Paula SalasEra o início do ano letivo passado quando os alunos da professora Patrícia Wanderlinde levaram um susto. Folheando as páginas do jornal durante a roda de leitura, um garoto do 5º ano ficou indignado com um caso de violência no trânsito. E ele não foi o único. Logo, a turma toda estava abismada com a notícia.“Vi aquela preocupação de todos e pensei em partir daquele ponto para falar sobre cultura de paz”, conta a docente.
Patrícia já tinha grande interesse sobre esse tema, mas precisava saber mais. A Unesco conceitua a cultura de paz como um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados em valores como liberdade, justiça, democracia e tolerância. De posse dessas e outras referências, ela criou o projeto Juntos pela Paz: É Tempo de Semear, que mais tarde envolveria toda a EB Prof. Judith Duarte de Oliveira, em Itajaí (SC), onde trabalha.
Para começar, a professora pediu que os alunos fizessem desenhos sobre como entendiam a cultura de paz. As produções mostraram que a maior parte da turma associava o conceito à ausência de guerra. Então, começou uma sequência de atividades com músicas, poesias, pinturas e vídeos que tinham por objetivo ampliar essa noção.
O passo seguinte foi pesquisar a vida de personalidades que seguiram os princípios que a turma estudava (veja no quadro ao lado algumas das figuras escolhidas). O material produzido foi transformado em livros e audiolivros – ideia dos próprios alunos, que queriam tornar a obra acessível a todos. “Eles interiorizaram essa postura inclusiva”, conta Patrícia. Este ano, a proposta se expandiu e a escola passou a publicar o Informativo Semeadores da Paz, focado em notícias positivas e inspiradoras. Com auxílio de patrocinadores, o material tem uma tiragem de 3 mil exemplares e é construído por toda a comunidade escolar.
Vencedora na categoria regional do Prêmio Professores do Brasil, Patrícia teve a oportunidade de levar seu projeto para uma conferência internacional na Armênia e para um evento sobre Educação, ensino e aprendizagem na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Guiado pela professora, o inconformismo dos meninos e meninas de Itajaí vai ecoar cada vez mais longe.
DOIS LIVROS SOBRE CULTURA DE PAZ
Comunicação Não-Violenta: Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais
Marshall B. Rosenberg
Editora Ágora - R$ 85,90
O manual ensina ao leitor meios para construir um mundo com mais empatia com base em novas formas de comunicação.
O Ódio Que Você Semeia
Angie Thomas
Galera Record- R$ 42,90
A obra ficcional conta a história de Starr, jovem negra que, após o assassinato de um amigo por um policial, decide fazer algo para mudar essa realidade.
LUTA SEM VIOLÊNCIA
Quatro personalidades que apostaram na resistência pacífica e deixaram lições
Mahatma Gandhi (1869 - 1948)
Nascido na Índia quando o país ainda era colônia britânica, Gandhi ajudou na conquista da independência, na década de 1940, pressionando a Inglaterra com uma resistência pacífica, que incluía boicote a produtos ingleses e desobediência civil.
Madre Teresa de Calcutá (1910 - 1997)
Homenageada com o Nobel da Paz em 1979 e canonizada pela Igreja Católica em 2016, a religiosa abandonou a Macedônia, seu país de origem, para viver em uma das regiões mais pobres da Índia. Levou uma mensagem de amor ao próximo e generosidade.
Martin Luther King Jr. (1929 - 1968)
O pastor e ativista americano sempre foi defensor dos protestos não violentos. Entre os anos 1950 e 1970, organizou marchas e boicotes contra a segregação racial nos Estados Unidos. Acabou reconhecido com o Nobel de Paz em 1964.
Anne Frank (1929 - 1945)
O drama da menina alemã se tornou símbolo da barbárie praticada pelos nazistas. Os diários que ela escreveu, entre 1942 e 1944, ficaram mundialmente famosos e até hoje influenciam as discussões sobre a construção de uma cultura de paz.