Depressão: reconhecer a própria dor é o primeiro passo
A depressão está no topo da lista dos principais problemas de saúde em todo o mundo, inclusive entre educadores brasileiros. Saiba mais sobre esse transtorno mental e sobre a importância de cuidar do próprio sofrimento
POR: Ana Carolina C D'Agostini"Falto eu mesmo, e essa lacuna é tudo"
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
Certa vez, uma educadora e colega de profissão me confidenciou que temia que algumas pessoas do trabalho soubessem que ela sofria de depressão. O medo, segundo ela, é que achassem que ela não daria conta das exigências de gerir a própria sala de aula, que não seria capaz de cumprir todas as suas demandas e, até mesmo, que poderia não ser promovida a coordenadora de área. Tinha pavor que achassem que ela era frágil demais e temia ainda mais ter que tomar remédio anti-depressivo por toda a vida. A palavra depressão, pronunciada por ela em voz baixa e com expressão envergonhada, ilustrou o grande estigma que esse tema fundamental de saúde mental carrega.
O mal-estar, o tédio, a angústia e a tristeza são inerentes à nossa condição humana. De tempos em tempos, essas emoções podem nos visitar e nos convidar a momentos de recolhimento, de validação do que estamos sentindo e análise do momento presente. A própria vida, em certos instantes, envolve o sentimento de estarmos fora de lugar e distantes de nós mesmos, e esse mal-estar pode assumir a forma de sofrimento intenso que pode evoluir para quadros mais graves. Entretanto, depressão não é uma simples tristeza passageira que podemos controlar ou contar com o tempo como fator de cura. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgados em 2017, a depressão estava no topo da lista dos principais problemas de saúde em todo o mundo, atingindo mais de 300 milhões de pessoas. Em consonância com os dados publicados pela OMS, a pesquisa A saúde do educador brasileiro, realizada em junho de 2018 pela Nova Escola, aponta que a depressão é o principal problema de saúde enfrentado por educadores de todo o país, seguido por ansiedade e estresse.
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A depressão, segundo o DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Health), é um transtorno mental multifatorial caracterizado por tristeza persistente, perda de interesse em atividades antes consideradas prazerosas, perda ou ganho excessivo de peso, alteração significativa de apetite, sensação de fadiga e de falta de energia, diminuição da habilidade de concentração, inquietação, culpa, desesperança, sentimento de inutilidade, ideação suicida e pensamentos de autolesão. Para o diagnóstico efetivo de depressão, o indivíduo deve apresentar cinco ou mais desses sintomas por, no mínimo, duas semanas. Os sintomas de depressão afetam significativamente a qualidade de vida do indivíduo e podem trazer grande comprometimento social, interferindo na vida pessoal e profissional. Além disso, a ausência de debate sobre o tema, a falta de informação e de apoio às pessoas com depressão, juntamente com o peso do estigma sobre o transtorno mental, impedem muitas pessoas de buscarem tratamento médico, psicológico e demais redes de apoio.
No ano passado, em uma palestra sobre angústia e depressão com um dos mais importantes psicanalistas da atualidade, compreendendo que a tristeza é um sentimento comum a todos nós, um dos espectadores fez uma pergunta inquietante: “Mas afinal, como você cuida da sua angústia, doutor?” Concluo que para além da importância de pensar naquilo que nos faz felizes, devemos considerar de maneira bastante criteriosa como cuidamos da nossa angústia, do nosso sofrimento e das nossas fraquezas, pois tais sentimentos são sobretudo humanos e merecem ser reconhecidos. Não acolher o nosso sofrimento, ou seja, deixar de compartilhar o que estamos sentindo, não reconhecer a própria dor e não buscar apoio, pode ser um elemento definidor para que a depressão assuma papel central em nossas vidas. Frente a números alarmantes, embora essencial, a necessidade chave de reduzir o estigma associado à depressão e compreender que ela é tratável, é apenas o começo. Sobretudo, é urgente que serviços de saúde mental sejam acessíveis a todos e que momentos de fragilidade não sejam vistos como sinal de fraqueza, abrindo espaço para que cada vez mais possamos falar abertamente sobre o tema.
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