Portal Iede

Crie sua conta e acesse o conteúdo completo. Cadastrar gratuitamente

Metodologias ativas: o papel do professor como facilitador do aprendizado dos alunos

Alguns educadores acham que método desperdiça seu conhecimento ou habilidade. Esse é um grande equívoco

POR:
Priscilla de Albuquerque Tavares
Foto: Getty Images

Nos artigos “Metodologias ativas: entenda como elas favorecem a aprendizagem

” e “Metodologia ativa x aula expositiva: é possível dizer que uma é melhor que a outra?”, publicados neste espaço em 2018, apresentei os fundamentos e elementos presentes  nas metodologias ativas, bem como os resultados de estudos acerca de sua efetividade sobre o aprendizado dos alunos e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Quero abordar agora o papel do professor nesse modelo de aprendizagem.

Discutimos que as bases para o aprendizado profundo e efetivo estão na promoção de mecanismos cognitivos que facilitem a construção do conhecimento, a retenção de informações na memória de longo prazo e o acesso e utilização delas para compreender fenômenos e resolver problemas. O desencadeamento desses mecanismos depende dos elementos presentes no processo de aprendizagem: a contextualização do conhecimento teórico e sua relação com a prática; a conexão entre novas informações e o conhecimento já adquirido; a colaboração e o trabalho em grupo entre os alunos; e, principalmente, um ambiente de aprendizagem em que o aluno é ativo.

LEIA MAIS   Matemática: 7 dúvidas sobre metodologias ativas e a BNCC

Ao planejar e implantar metodologias ou práticas pedagógicas com essas características, o professor emerge como figura central na construção de cada um desses elementos. O sucesso dessas metodologias depende das características e do comportamento exercido pelos docentes. Um resultado curioso de alguns estudos acadêmicos (Hmelo-Silver e Barrows, 2006; Leary et. al., 2013) é que, em média, o desempenho dos alunos no ambiente de aprendizagem ativa é maior quando seus professores são menos experientes. Essa evidência contra-intuitiva sugere, na verdade, que docentes menos experientes estariam mais abertos a modelos alternativos de aprendizagem, enquanto que os professores com muitos anos de profissão seriam mais céticos e resistentes a experimentar outras estratégias de ensino.

De fato, a evidência sobre a percepção dos gestores na implantação de metodologias ativas de aprendizagem é a de que há uma grande preocupação dos professores com relação ao papel que se espera que eles exerçam nesse modelo. Isso porque, uma condição para colocar o aluno num ambiente ativo é que o professor assuma a postura de facilitador do aprendizado, ao invés de único provedor de conhecimento. Ou seja, ao desempenhar a função de tutor ou mentor de uma turma, espera-se que o professor deixe a posição central e focal da sala de aula e promova a discussão e o debate entre os estudantes; que ele estimule a troca de informações e ideias, ao invés de fornecê-las diretamente. Antes de experimentá-las, alguns professores criticam as metodologias ativas de aprendizagem por acreditar que elas prescindem ou desperdiçam seu conhecimento e suas habilidades (como o aluno vai aprender se eu não ensinar?). E é aí que está o maior equívoco.

LEIA MAIS   Metodologias ativas: entenda como elas favorecem a aprendizagem

Pesquisas qualitativas com alunos do método PBL (problem-based learning) acerca dos fatores que facilitam seu aprendizado mostram que os estudantes acreditam que a formação acadêmica e experiência do professor são fundamentais para que eles se aprofundem na compreensão dos conteúdos (Almajed et. al., 2016). No entanto, os estudantes também pontuam que aprendem mais quando o professor demonstra habilidade em motivá-los e engajá-los e em permitir que eles exponham suas ideias e cooperem uns com os outros no entendimento de uma questão ou um problema.

Em conjunto, essas evidências sugerem que professores especialistas, experientes e que possuem habilidades de facilitação são os mais efetivos em ambientes de aprendizagem ativa. As habilidades de facilitação incluem: estimular a discussão entre os alunos, manter o foco em informações e conteúdos importantes, evitar lacunas de conhecimento, promover associações entre informações novas e as já absorvidas, relacionar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, corrigir ideias, prover informação quando os alunos apresentarem dificuldades de expor suas ideias ou quando houver oportunidade para aprofundar a discussão.

Botar em prática novas formas de ensinar parece um desafio? O curso sobre metodologias ativas vai te mostrar como é possível.

Alguns professores ainda demonstram receio de que o uso de metodologias ativas os faça perder o controle do conteúdo aprendido. Esse receio é ainda maior quando a prática pedagógica é focada na aprendizagem aos pares (entre os alunos). De fato, para tirar o maior proveito dessa estrutura, o professor deve ter a capacidade de lidar com o caos criativo gerado por todas as informações e ideias discutidas pelos estudantes, bem como com as dúvidas e questionamentos trazidos por eles, que ficam muito mais evidentes no ambiente em que o aluno é ativo e participativo, do que no modelo de aulas tradicionais.

No entanto, esses modelos também permitem que o docente acompanhe o desenvolvimento de todos os alunos: quando os estudantes são ativos, os professores são capazes de observar o processo de aprendizagem (muito além de seus resultados finais) e fornecer feedback frequente e individualizado, para ajudar o estudante a identificar as melhores estratégias de estudo para si. Em resumo, o conhecimento, a experiência e as habilidades do professor não são apenas importantes para que as metodologias ativas de ensino tenham êxito em melhorar o aprendizado. Eles são fundamentais!

 

Priscilla de Albuquerque Tavares é doutora em Economia pela FGV, mestre e bacharel em Economia pela USP. É professora da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, pesquisadora na área de Economia da Educação e autora de diversos artigos que avaliam impactos de políticas educacionais no Brasil.

 

Para saber mais:

 

Almajed, A. , Skinner, V. , Peterson, R. , & Winning, T. (2016). Collaborative Learning: Students’ Perspectives on How Learning Happens. Interdisciplinary Journal of Problem-Based Learning, 10(2). 

Hmelo-Silver, C.; Barrows, H.. (2006). Goals and Strategies of a Problem-based Learning Facilitator. Interdisciplinary Journal of Problem-Based Learning, 1(1). 

Leary, H.; Walker, A.; helton, B.; Harrison Fit, M. (2013). Exploring the Relationships Between Tutor Background, Tutor Training, and Student Learning: A Problem-based Learning Meta-Analysis. Interdisciplinary Journal of Problem-Based Learning, 7(1). 

.