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Séries, filmes e documentários para discutir os papéis sociais das mulheres com seus alunos

Use situações concretas para falar sobre a representação da mulher na sociedade

POR:
Nairim Bernardo
Da esquerda para a direita: as personagens Moana, do filme de mesmo nome; Samantha White, da série Cara Gente Branca; e Anne Shirley, de Anne with an E, além da ganhadora do Nobel da Paz Malala Yousafzai. Crédito: Nairim Bernardo e Lucas Magalhães

Como discutir, em sala de aula, questões ligadas a mulheres e sua atuação e representação na sociedade? Aulas expositivas não são a única opção para fazer isso, e utilizar materiais familiares e atrativos para os alunos é uma ótima opção para apresentar o feminismo de forma leve (ou nem tanto) e concreta. Separamos séries, filmes de ficção e documentários que vão te ajudar a trabalhar essa temática não só em uma época específica do ano, mas de forma transversal durante todo o período letivo.

A potência da literatura produzida por mulheres

Atenção: confira a classificação indicativa para escolher o melhor material e os trechos mais adequados de acordo com a faixa etária da turma.

 

Séries

Anne with an E

via GIPHY

“Eu amo ser mulher”

Baseada no livro “Anne The Green Gables”, a série conta a história de Anne Shirley, uma garota adotada por engano (os pais queriam um menino) para ajudar a realizar tarefas em uma fazenda. A série traz temas interessantes, como adoção, desconstrução do conceito de família tradicional (ela é adotada por dois irmãos), rejeição e o feminismo presente nas atitudes de uma criança do século 19 considerada desajustada para a época. Através da relação da protagonista com outras personagens, tanto mais velhas quanto da mesma idade, é possível discutir com os alunos os papéis sociais das mulheres daquele período e estabelecer paralelos com os dias atuais.

The Crown
Se hoje o mundo ainda não está fácil para as mulheres, imagine em 1952, quando a rainha Elizabeth II assumiu o trono da Inglaterra. A série acompanha os bastidores da monarquia inglesa desde o início de seu governo e o relacionamento da rainha com sua família e com o príncipe Philip, seu esposo. Ao longo dos capítulos, percebemos que nem mesmo mulheres com grande destaque social, político e econômico escapam do machismo, seja nos pequenos detalhes ou grandes situações. Por meio da série, que já está com a terceira temporada confirmada, o professor de História pode trabalhar o conteúdo relacionado a monarquias sem deixar o recorte de gênero de lado, por exemplo.

Além disso, vale discutir que na "vida real", a protagonista, Claire Foy, ganhava menos do que o ator coadjuvante Matt Smith, intérprete do príncipe Philip. O fato ganhou destaque internacional e levantou a discussão sobre disparidade salarial entre os gêneros.

Cara Gente Branca
Depois que uma festa considerada racista ocorre no campus, alunos negros da Universidade de Winchester, no Reino Unido, veem a necessidade de discutir questões raciais no espaço acadêmico. O diferencial da série está em retratar diversos temas, como raça, sexualidade, feminismo, violência e questões de classe de forma interseccional (ou seja, correlacionada) e, quando possível, leve.

A obra tem capítulos curtos (o que facilita o trabalho em sala de aula), apresenta personagens negros em um contexto universitário (o que, infelizmente, é difícil de encontrar) e traz um protagonismo feminino bastante forte através da personagem Samantha White, que encabeça a luta antirracista com seu programa de rádio. Como muitas questões são discutidas na série, a turma toda pode se beneficiar, principalmente alunas negras, que nem sempre têm suas questões de gênero e raça olhadas com atenção.

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The Handmaid's Tale - O conto de Aia
Sucesso mundial de público e crítica, a série se passa em uma distopia com Estado teocrático e totalitário (que, na narrativa, já foram os Estados Unidos da América). Nesse contexto, as mulheres têm seus direitos revogados e são propriedade do Estado e dos homens, tendo papéis específicos e obrigatórios na estrutura social. A personagem principal, Offred, é designada para ser aia, ou seja, pertencer ao governo e existir unicamente para procriar. A realidade apresentada é bastante cruel, mas ajuda a refletir sobre liberdade, direitos humanos e visões fundamentalistas em ascensão nos dias atuais. Vale discutir com a turma quais fatos apresentados já aconteceram, mesmo que indiretamente, na História do mundo.

 

Filmes

Sierra Burgess é Uma Loser

“Você tem alguma ideia do que é ser uma adolescente com essa aparência?”

Se você dá aula para adolescentes, é bem provável que boa parte dos seus alunos já tenha assistido a esse filme. Na trama, a protagonista, Sierra, é uma jovem muito inteligente e fora dos padrões de beleza. Ela se apaixona por Jamey, que manda mensagens para ela acreditando conversar com Veronica, uma líder de torcida que se encaixa perfeitamente nos padrões de beleza, além de ser popular. Sierra continua conversando com ele, se passando por Veronica, e toda a trama é construída a partir desse momento. O termo em inglês para isso é catfish e deve ser problematizado com os alunos. Interessante levantar também os motivos que a levaram a tal atitude, como a baixa autoestima e o bullying típico praticado entre meninas, que ocorre por meio da exclusão, difamação, exposição pública e comentários sobre a forma física. Outro tema interessante presente no enredo é a busca pelo corpo perfeito.

Vale ressaltar na discussão, porém, que o filme cai em estereótipos típicos de comédias românticas adolescentes ao retratar uma menina loira, popular e bonita que não entende o conteúdo escolar e outra que é tida como feia mas é muito inteligente.

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Estrelas Além do Tempo
O filme, baseado em histórias reais, mostra a vida e o trabalho de Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, cientistas negras que trabalharam na NASA e tiveram papel crucial na conquista espacial nos anos de 1960. Através desse importante acontecimento é possível debater a importância das mulheres negras para a Ciência e seu apagamento dos documentos e registros históricos.

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Grandes Olhos
Já imaginou ter os créditos de um trabalho seu dados para outra pessoa? Foi isso o que aconteceu com a pintora Margaret Keane, que, devido ao machismo e à violência psicológica exercida por seu marido, Walter Keane, cedeu a autoria de suas obras a ele durante anos. Interessante notar toda a pressão e o conflito psicológico vivenciados pela artista até a sua decisão de entrar na justiça contra o esposo. A narrativa é baseada em uma história real. Vale levantar com os alunos questões como: Há outras mulheres que já tiveram a autoria de suas obras assumida por homens? Quantos homens e quantas mulheres artistas você conhece? Como as mulheres são representadas nas artes visuais?

Mulan, Valente e Moana
A maioria dos filmes de princesas e contos de fadas reforça a ideia de fragilidade da mocinha que espera por um príncipe encantado que finalmente irá conduzi-la à felicidade. Nessas animações, porém, as personagens conseguem ser protagonistas não só da história, mas também de suas próprias vidas e caminhos. Mulan se disfarça de homem e vai para a guerra para poupar seu pai. Valente se recusa a seguir o plano da mãe de achar um esposo e luta pelo sonho de ser uma grande arqueira. Moana parte em uma corajosa viagem pelo oceano para conseguir descobrir mais sobre seus ancestrais. Todas se mostram jovens mulheres fortes e que quebram padrões pré-estabelecidos para elas mesmas, com o intuito de defenderem suas liberdades individuais e aqueles que amam.

Documentários

She's Beautiful When She's Angry
Atualmente, muito se fala sobre feminismo, e, em muitos casos, de forma equivocada. Para entender corretamente o movimento como o conhecemos hoje, é fundamental saber como ele surgiu. O filme apresenta imagens de arquivo e entrevistas com mulheres envolvidas na criação e no desenvolvimento do movimento feminista norteamericano dos anos 60 e 70. Nele, vemos que temas como saúde da mulher, gravidez, maternidade, sexualidade e raça já são pautas há muitos anos. Levante a questão com a turma: das causas defendidas no contexto do filme, quais já foram alcançadas e pelas quais as mulheres ainda lutam?

Malala

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“Eu sou aquelas 66 milhões de garotas que são privadas da Educação”

Você já deve ter ouvido falar dela, que é a mais jovem ganhadora da história do Prêmio Nobel. O documentário mostra o ativismo da pasquistanesa Malala Yousafzai em prol do direito de meninas e jovens ao estudo. Em um país dominado pelo talibãs, que acreditam que mulheres não devem frequentar a escola, ela foi vítima de um ataque que quase lhe tirou a vida. Hoje, Malala continua lutando por essa causa e já acumulou diversos prêmios.

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Absorvendo o Tabu
Você já parou para pensar que boa parte das suas alunas se sente não só desconfortável mas também envergonhada em relação à menstruação? Além disso, a maioria dos meninos provavelmente nem sabe como o ciclo menstrual funciona. O documentário mostra mulheres de uma cidade rural do interior da Índia, onde o estigma sobre a menstruação é muito maior do que aqui, lutando contra esse tabu ao produzirem absorventes de baixo custo em uma nova máquina.

Diários de Classe
Essa dica é direcionada especialmente para as educadoras e educadores que querem entender melhor seus alunos.

Com estreia marcada para 7 de março, o documentário brasileiro Diários de Classe discute a educação de mulheres jovens e adultas da periferia de Salvador que sofrem com o racismo, o machismo, a desigualdade social, a homofobia e a precariedade do sistema educacional. O filme levanta ainda uma reflexão necessária sobre as recentes Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

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