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Brincadeiras com papel e lápis que rendem muita aprendizagem

Veja como usar brincadeiras que já estão no cotidiano da escola a favor da alfabetização

POR:
Mara Mansani
Imagem de cima de criança apoiada em mesa de madeira com caderno aberto e dois nomes escritos com lápis coloridos espalhados ao redor do caderno
Crédito: Getty Images

Stop, forca, história maluca, caderno de perguntas… Conhece ou já participou de alguma dessas brincadeiras? Todas elas têm em comum o fato de fazerem parte do cotidiano das crianças. De tempos em tempos, ressurgem e viram febre nas escolas. São muito divertidas, acessíveis (pedem apenas lápis e papel), envolvem leitura e escrita e favorecem a participação de todos. Ou seja, reúnem elementos que podem render muita aprendizagem para crianças em processo de alfabetização.

Ao participar dessas brincadeiras, a criança é levada a pensar sobre o funcionamento do sistema de escrita alfabético, construindo suas hipóteses em relação à escrita e estabelecendo relações entre o oral e o escrito. A seguir, indico como utilizar essas brincadeiras na alfabetização da turma:

Brincadeira: Caderno de perguntas

O que é? Um caderno que tem, em cada página, na primeira linha, uma pergunta.

Como jogar? O participante da brincadeira é convidado a escrever seu nome na primeira pergunta ao lado de um número que faz parte de uma sequência para ser identificado. Nas páginas seguintes, vai respondendo as perguntas por escrito sempre indicando seu número de identificação. As perguntas são simples, que investigam características, preferências e outras informações sobre os participantes. Exemplos: Qual o seu programa de televisão preferido? Quem é seu melhor amigo?

Para a alfabetização: utilize um caderno de 50 folhas de sua preferência. Proponha que as próprias crianças criem uma capa personalizada para ser o caderno da turma. Você pode colocar uma mensagem carinhosa de apresentação do caderno, se quiser. Abaixo, listo algumas sugestões de perguntas que podem compor o caderno, mas você pode pedir contribuição da turma para eles dizerem o que querem saber sobre seus colegas:

  • Qual seu nome e sua idade?
  • Qual sua cor preferida?
  • O que você mais gosta de comer?
  • Qual seu programa de televisão preferido?
  • Qual foi o filme mais legal que você já assistiu?
  • Que tipo de música você mais gosta?
  • Quem são seus melhores amigos?
  • Qual seu animal de estimação preferido?
  • Qual o nome das pessoas da sua família?
  • O que você mais gosta de fazer quando não está na escola?
  • Você pratica alguma atividade física? Qual?

A proposta é que cada aluno fique com o caderno por pelo menos dois dias e que, junto com a família ou mesmo em sala de aula, responda às perguntas. O professor ou outro adulto pode ler as perguntas e a criança responde, escrevendo de acordo com suas hipóteses. Se a atividade for na escola, você deve fazer as intervenções de forma que a criança avance na escrita alfabética. Se for em casa, oriente os pais para que eles auxiliem os filhos na escrita, mas se não for possível, faça as orientações e intervenções a partir da escrita trazida de casa. Atenção para não perder o caráter lúdico da atividade, as intervenções devem ser feitas à parte das atividades em sala.

Quem pode participar? Essa atividade é mais indicada para alunos em hipótese silábica-alfabética ou alfabética, mas alunos de todas as hipóteses podem participar. Quando as crianças já tiverem autonomia na leitura e na escrita, incentive-os a criarem seus próprios cadernos de perguntas.

Brincadeira: STOP

O que é? Uma tabela com colunas e linhas, onde os participantes escrevem categorias diferentes de substantivos, como “Nome próprio”, “objeto”, “fruta”, “animal”, “brinquedo ou brincadeira”, etc. A última coluna deve ser reservada para a soma dos pontos ganhos em cada rodada.

Como jogar? A cada rodada, uma letra é sorteada e os participantes preenchem as células da tabela com palavras iniciadas com aquela letra. Quem terminar de escrever primeiro uma palavra de cada item pedido, fala STOP (que significa “pare”, em inglês). Os demais devem parar imediatamente de escrever. Todos conferem juntos as escritas e anotam uma pontuação para cada palavra: quem escreveu a mesma palavra em algum campo ganha 5 pontos. Quem escreveu uma palavra “inédita”, ganha 10 pontos (essa é uma sugestão que pode ser alterada pelos participantes). A soma dos pontos acumulados em cada categoria pode ser anotada na última coluna. Ganha quem marcar o maior número de pontos. Veja, abaixo, o exemplo de um jogo em que a letra sorteada foi B:

Nome de Pessoas Fruta Brinquedo ou Brincadeira Cidade, Estado ou País Animal Objeto Comida Total de Pontos
Bento Banana Bicicleta Belém Burro Bacia Beiju

Para a alfabetização: na sala de aula, apesar do nome da brincadeira, o tempo não deve ser levado em consideração. Deixe que as crianças escrevam, fazendo as devidas intervenções de maneira que todos os alunos possam escrever o máximo de palavras. Se for preciso, dê alguma sugestão ou dica para que os alunos se lembrem de palavras em todas as categorias (vocês podem combinar uma ajuda da professora para cada uma delas, por exemplo).

Quem pode participar? Crianças de todas as hipóteses podem participar individualmente, mas uma saída adequada é fazer agrupamentos produtivos, para que todos possam aprender brincando.

Brincadeira: História maluca

O que é? Uma história surpresa que é construída coletivamente, com contribuições individuais.

Como jogar? O participante recebe uma folha sulfite com uma frase previamente escrita, que dá o início da história que será escrita coletivamente. Ele deve ler a frase e escrever uma sugestão de continuidade da história. Após escrever, o participante deve dobrar o papel na linha demarcada, cobrindo a primeira frase em formato de sanfona, de maneira que o jogador seguinte veja apenas a última frase escrita e não tenha acesso à história completa para, então, dar a sua contribuição. A folha de sulfite deve ser configurada mais ou menos desse jeito:


CAROLINA SAIU DE CASA EM UM TEMPORAL E …

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Ao final, quando não houver mais linha para completar ou todos tiverem colaborado, é só abrir toda a folha e ler para as crianças a narrativa completa. O resultado é sempre uma história divertida e maluca, já que foi feita às escuras. E a diversão está justamente na surpresa da história produzida. Vocês podem, ainda, dar um final coletivamente à história se acharem necessário.

Para a alfabetização: Você pode adaptar a brincadeira substituindo a frase de início por uma palavra. Quem recebe a palavra deve escrever outra que lembre a primeira, por exemplo: RATO -> QUEIJO -> MACARRONADA -> PANELA… e assim por diante.

Quem pode participar? A atividade original é mais indicada para alunos alfabéticos. A adaptada pode ser feita por crianças em qualquer hipótese de escrita. Ao final da brincadeira, escreva as palavras na lousa e faça revisões com as crianças e intervenções para a escrita alfabética, se for necessário.

Brincadeira: Forca

O que é? Um jogo em que um participante ou grupo precisa adivinhar uma palavra com base em seu número de letras e nas dicas dadas pelo comandante antes que o desenho do boneco na forca se complete.

Como jogar? O jogador ou grupo de jogadores sugere uma letra para o comandante. Se a letra fizer parte da composição da palavra, ela é anotada no seu espaço correspondente nas lacunas. Se não fizer, é desenhado um pedaço do corpo humano em uma forca também de desenho. Os participantes têm que tentar adivinhar a palavra antes do boneco ser “enforcado”.

Para a alfabetização: O comandante será o professor alfabetizador, e deve escolher palavras seguindo os mesmos princípios de quando vai realizar uma sondagem diagnóstica, conforme eu escrevi nesse post em 2016:

“Não deixo de colocar palavras que julgo difíceis para as crianças escreverem porque os desafios colaboram com a reflexão sobre o sistema de escrita. Se a turma é de alfabetização inicial, não escolho palavras que tenham vogais repetidas nas sílabas, como em batata. Isso porque, por exemplo, se o aluno estiver na fase silábica com valor sonoro, pode ser que se utilize somente de vogais para escrever e não vai aceitar uma palavra que pode ser escrita assim: AAA.”

Quem pode participar? Essa atividade é indicada para crianças em qualquer hipótese de escrita, mas de preferência para alunos em hipóteses silábica com valor sonoro e silábico-alfabética, em momentos diferentes, durante a aula, seguindo os agrupamentos produtivos.

Como você pode ver, são brincadeiras que têm potencial de criar muitas oportunidades para as crianças aprenderem. São práticas de escrita e leitura que podem ser incorporadas na sua rotina na alfabetização como complementares às atividades permanentes.

E vocês, professores, quais são as brincadeiras que só precisam de lápis e papel que vocês conhecem? Já pensaram em inseri-las na sala de aula? Conte aqui nos comentários!

Um abraço e até a semana que vem,

Mara Mansani.

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