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Malas pedagógicas: como elas fortalecem laços entre aluno, família e escola

Veja exemplos dessa prática que trabalha afetividade, motivação, leitura e até Matemática

POR:
Mara Mansani
Malas antigas com livros antigos
Foto: Getty Images

Com certeza você conhece ou pelo menos já ouviu falar, em sua escola, da tal “Mala Viajante”. Para quem ainda não conhece, a Mala Viajante é uma prática pedagógica, que geralmente faz parte de um projeto desenvolvido em sala de aula, onde os alunos levam para casa uma pasta ou sacola, com uma tarefa escolar para realizar com o apoio e participação da família.     

A Mala Viajante mais comum nas escolas é a de leitura e a proposta é que as crianças levam para casa a Mala com um livro de literatura infantil para ler com sua família. Além da leitura por prazer, o aluno precisa fazer um registro, escrito e em desenho, em um caderno que também acompanha a mala, contando como foi o momento de leitura em família, onde o aluno e os pais dão sua opinião, falam sobre suas impressões sobre o livro, e as vezes também escrevem um breve resumo sobre a história, se recomenda o livro para outras crianças, entre outras coisas. Hoje em dia muitas creches também realizam essa prática, onde até os bebês tem sua própria Mala Viajante de Leitura, como a que eu contei em outro post aqui no blog.

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Mas essa prática pedagógica vem tomando outros rumos. Além dos projetos de incentivo à leitura, muitos professores a utilizam como instrumento potencializador na aprendizagem da Matemática, em malas que carregam diversos jogos matemáticos e outros elementos que exploram a disciplina como calculadora, instrumentos de medida, números móveis, etc.

Mas não para por aí, conheço Malas Viajantes onde os alunos têm acesso à brinquedos como pião, bolinhas de gude, elástico, vai-e-vem, corda e muitos outros, todos para brincar em família. Em todas as propostas a ideia é explorar uma aprendizagem iniciada em sala de aula, geralmente como atividade de desenvolvimento de um projeto da turma ou escola, que necessariamente a família participa diretamente e se envolve, onde há sempre um relato escrito acompanhado de desenho ou uma fotografia do momento em família, que depois é compartilhado em sala, na devolutiva, com os colegas de classe.

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“Maleta Mágica”

Estive na cidade de Assis (SP), para falar aos professores e gestores de algumas escolas sobre a alfabetização, Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e práticas pedagógicas. Lá conheci a professora de uma turma de 1º ano, alfabetização, Marcia Regina Escame Gimilani, da Escola Emeif. Professora Angélica Amorim Pereira, onde a Diretora é Adriane Gallo, ganhadora do Prêmio educador Nota 10 em 2017, no segmento Gestão Pedagógica.

Marcia também adotou em sua prática pedagógica a Mala Viajante, que lá tem o nome de “Maleta Mágica”

“A Maleta Mágica faz parte do Projeto ‘Motivando, Brincando e Aprendendo com Responsabilidade e Organização’ do 1º ano B. Este projeto visa trabalhar a afetividade, a motivação, o respeito e o estabelecimento de vínculos entre os pares, a professora e a família. A fim de atingir os objetivos mencionados é proposto um conjunto de ações como: o semáforo dos combinados, o pote das estrelinhas que são adquiridas durante as aulas por meio da participação do aluno nos desafios Matemáticos, de leitura e de escrita, e de respeito entre os pares, além da pasta itinerante”, explica Marcia.

Maleta artesanal com brinquedos, lápis, canetinhas, estojos, letras de plástico, tudo muito colorido e reunido por ideia da professora Marcia Regina Escame Gimilani, de Assis (SP)
A "Maleta Mágica" criada pela professora Marcia Regina Escame Gimilani  Foto: Acervo Pessoal/Mara Mansani

“O projeto conta com um encontro explicativo aos pais, estabelecendo a parceria entre a família e a escola, antes da Maleta Mágica iniciar sua viagem pelas residências. Um aluno por vez leva a maleta para casa por três dias, podendo usar como quiser. Ao devolver a Maleta Mágica, o aluno apresenta um registro do que mais gostou e o registro da sua família, apresentando para a sala de aula. Desta forma trabalha-se a importância de se realizar as atividades propostas em sala e em casa, respeitar os colegas mantendo um ambiente alfabetizador saudável de aprendizagem, a partir de simples ações que fazem parte da realidade das crianças”, afirma.  

Propostas

Como vocês podem ver, são muitas as possibilidades para explorar o uso em sala de aula. E, para explorar essas possibilidades, pensei em duas outras propostas, diferentes, para a Mala Viajante.

Para crianças pequenas de creche, uma Mala Viajante Brincante com pequenos brinquedos e outros objetos que explorem formas, cores, texturas e tamanhos. É preciso disponibilizar aos pais um pequeno roteiro de algumas atividades que explorem sentidos e percepções das crianças. Algo de fácil entendimento, que faça parte da rotina das crianças na escola, que possa contribuir no desenvolvimento dos pequenos.

Isso pode estimular e orientar os pais para que tomem isso como hábito no dia a dia dos seus filhos. Dessa forma, todos ganham: família, escola e principalmente as crianças, que são o motivo e foco de todo nosso trabalho como professores e educadores. Inclua também, na mala viajante, o caderno de registro para os pais, afinal não podemos deixar de registrar esse momentos tão importantes da vida em família. Para crianças pequenas o mais indicado é enviar a Mala aos finais de semana, um aluno por vez, para que os pais possam desenvolver as atividades propostas com calma, prazer e tempo necessário.

Mas essa é uma sugestão para usar a Mala Viajante como instrumento de apoio da aprendizagem em sua turma. Verifique o currículo de sua rede e as necessidades de aprendizagem da sua turma.

Para alunos do 1º ao 3º ano, minha sugestão é uma Mala Viajante Musical, com instrumentos musicais feitos artesanalmente pelos próprios alunos, com alguns das bandinhas rítmicas que muitas escolas têm em seu acervo, com CDs ou pen drive com músicas voltadas para as crianças, de diferentes gêneros e ritmos e também com livros que explorem a biografia e obras de compositores.

Podemos incluir também uma pasta com letras de músicas e também um vídeo de karaokê para as crianças soltarem a voz e se divertirem cantando com suas famílias. Nesse caso a Mala Musical pode servir como instrumento apoiador para projetos integradores na área de linguagens: Língua portuguesa, Arte e Educação Física, envolvendo várias formas de linguagem como música, leitura, dança e etc.

Mas como já disse, faça antes um diagnóstico das necessidades de aprendizagem de seus alunos. Como na proposta para os pequenos de creche, o mais indicado é enviar a Mala Musical nos finais de semana. Inclua também o caderno de registros.

E vocês, professores, conhecem e fazem uso dessa prática pedagógica da Mala Viajante? Sua escola já adota essa prática? Utilizam para explorar a leitura? Quais são suas sugestões para explorar o uso da Mala Viajante? Compartilhe suas experiências!

Penso que essa prática, além de render muita aprendizagem para nossos alunos, pode promover uma integração, um elo, entre a escola e a família.

Um grande abraço e até semana que vem,

Mara Mansani

Professora há quase 30 anos, lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF, no livro “Muda o Mundo, Raimundo”. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga.