Alfabetização matemática: 14 materiais para colaborar com a aprendizagem
Materiais de simples confecção podem despertar curiosidade e oferecer aos alunos contato prático com os números
POR: Selene ColettiSempre que o ano letivo começa nos preparamos para receber nossos novos alunos com grandes expectativas. Elas se refletem, por exemplo, na reorganização dos nossos materiais ou da sala de aula, espaço destinado à construção do conhecimento, da discussão, do ensinar e do aprender.
Pensamos em criar um ambiente “letrado” com livros, revistas, alfabeto, cartazes com os nomes... Focamos, na maioria da vezes, nosso olhar somente na alfabetização da leitura e escrita, mas e a alfabetização matemática? Ela também precisa ser pensada e estar presente desde os Anos Iniciais.
Decorando a sala de aula
Além dos itens matemáticos, é importante pensar na organização da sala de forma geral como um espaço que colabora para a aprendizagem dos alunos. E já imaginou que é possível usar essa atividade para fazer com a sua turma?
Na edição do NOVA ESCOLA BOX sobre decoração educadora, você confere ideias práticas de como fazer isso:
Precisamos criar um ambiente alfabetizador em Matemática. Para isso, um bom caminho é criar oportunidades para que as crianças possam estar imersas em materiais que remetam não só à função social da escrita, mas também da Matemática, apropriando-se da leitura e escrita e da linguagem matemática.
Dentro desta perspectiva, a sala de aula é o espaço onde acontece o diálogo, as interações, as descobertas pautadas nos questionamentos por parte do professor e dos alunos. Ou seja, ela auxilia na formação de uma “comunidade aprendiz” em que todos aprendem colaborativamente.
Por onde começar?
Para organizar a sala como um espaço para a alfabetização matemática é importante levar em conta o brincar, o imaginar e o expressar-se nas múltiplas linguagens. Tudo isso contribui para a aprendizagem e para o desenvolvimento da criança.
Esse processo envolve também trazer para a sala de aula alguns materiais que possibilitem reconhecer a sala como um espaço alfabetizador em Matemática. Certamente muitos deles já estão presentes, porém é necessário pensar sobre o seu uso. Abaixo, compartilho 14 dicas de itens “matemáticos” para sua sala:
1) É importante ter um quadro de números ou uma tabela numérica de um a 100 para que os alunos possam consultá-las e também explorar as regularidades.
2) A reta numérica, construída com os alunos e depois feita pelo professor para ser afixada na parede, é outro instrumento que permitirá contribuir com a construção do número e o trabalho com as operações matemáticas.
3) Os símbolos numéricos, que toda sala possui, é também um material que as crianças, principalmente dos primeiros anos, recorrem para a construção da grafia dos numerais. É interessante ter os algarismos de zero a nove, lembrando os alunos que com eles podemos formar qualquer numeral.
4) Potes com diferentes materiais de contagem, que podem ser coletados em conjunto com as crianças, como lacres, tampas variadas, bolinhas de gude (estas dão ótimas sequências de atividades para explorar inúmeros conceitos). Materiais importantes que precisam estar presentes na sala.
5) O calendário pode ser usado também como recurso para exploração da contagem (dia, mês e ano) e do reconhecimento dos números. Além disso, os alunos poderão reconhecer sua função social anotando eventos e aniversários, por exemplo. Muitos são os questionamentos que podemos fazer com o uso diário do calendário: quantos dias já se passaram, quantos dias faltam para determinado evento (aniversário de alguém, uma festa na escola) ou para o final do mês, dentre tantos outros, que permitirá trabalhar ideias da adição e da subtração, por exemplo.
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6) Os quadros de aniversariantes presentes na grande maioria das salas trazem dados que podem ser utilizados em tabelas e gráficos demandando boas perguntas.
7) Outro instrumento “matemático” presente nas salas de aula é o relógio analógico que permite a compreensão do tempo e inúmeras explorações.
8) A régua para medição da altura na parede é mais um material que os alunos poderão usar no decorrer do ano, construindo tabelas nas quais possam perceber o crescimento, coletando dados para a produção de gráficos. Também é possível trabalhar sequências envolvendo a medição da altura das crianças, começando no primeiro ano com medidas não convencionais até chegar na “régua de altura” propriamente dita.
9) Nas salas existem cestos ou cantos com livros de histórias com o foco de trabalhar a leitura e escrita. Vale acrescentar a eles outros tipos de textos como jornais e revistas, em que apareçam gráficos e tabelas, além livros de histórias que abordam conceitos matemáticos a serem trabalhados ao longo do ano. Muitos professores organizam os varais literários com diferentes gêneros textuais e é interessante inserir textos que abordem o conteúdo matemático que está sendo trabalhado como curiosidades ou mesmo textos informativos.
10) Trazer para a sala - organizando-os em potes ou caixas - materiais manipuláveis (ábacos, material dourado, sólidos geométricos, blocos lógicos, cuisenaire, fio de contas, dentre outros). Os manipuláveis são importantes para trabalhar a alfabetização matemática.
11) Os jogos, comprados ou confeccionados pelo professor, precisam também estar presentes na sala de aula: jogos de tabuleiro (são muitas as possibilidades), tangram, quebra-cabeças variados, dominó, baralho, bingos, jogos de memória, dados, boliches... Eles irão contribuir para a construção de muitos conceitos matemáticos de forma significativa.
12) As calculadoras não podem faltar! O melhor seria uma por aluno, mas pode ser uma para cada dupla. Esse é um tipo de material que a escola pode adquirir montando kits para serem usados pelas turmas. São muitas as propostas de trabalho envolvendo a calculadora.
Sinal verde pra calculadora? Sim!
Há quem diga que o uso da calculadora pode “atrapalhar” a aprendizagem do aluno, fazê-los calcular mecanicamente e não consolidar os conhecimentos necessários para fazer contas. No entanto, essa ferramenta pode ter uma importante função pedagógica. Ela favorece a reflexão dos estudantes sobre os conhecimentos matemáticos em propostas, por exemplo, de investigação, levantamento de hipóteses e validação.
Quer saber como usar bem a calculadora com a sua turma? Clique no botão abaixo e confira sugestões práticas e exemplos reais de quem desenvolveu propostas sobre o tema:
12) Outra proposta é o “kit escritório”: uma caixa com agendas, teclados de computador, calculadoras, canetas e telefones (tudo usado). Deixe disponível em um canto da sala para que os alunos possam vivenciar práticas sociais de leitura, escrita e de Matemática, descobrindo o valor social do número. Utilizava nas classes de Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental. Sempre foram um sucesso!
13) Seria muito valioso ter na classe um computador ou tablet com jogos instalados para que os alunos pudessem, no momento da atividade diversificada, por exemplo, trabalhar em duplas, explorando as ferramentas ali disponibilizadas. Nas minhas salas sempre havia um, as crianças gostavam muito e eu podia complementar com vários conteúdos.
14) Ao utilizar isso tudo, você, professor e professora, estará permitindo que seu aluno se aproprie da linguagem matemática, vivenciando práticas culturais e sociais matemáticas.
Vale ressaltar que seu papel é fundamental na exploração disso tudo. Criar um ambiente alfabetizador e problematizador requer planejamento e um olhar atento ao observar a classe para que seus alunos possam investigar, experimentar, compartilhar saberes numa mão dupla, permitindo que todos aprendam - alunos e professores.
E a sua sala de aula, é um espaço de letramento e alfabetização matemática? Já pensou nessa relação ao (re)organizar os materiais nela existentes? Essas são questões que merecem serem pensadas neste início de ano e ao longo do percurso.
Um abraço e até a próxima,
Selene
Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1º ao 5º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.
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