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Estratégias criativas que os professores encontraram para dar aulas a distância

NOVA ESCOLA foi buscar relatos de educadores e especialistas sobre quais ferramentas podem ajudar o ensino neste contexto desafiador para a Educação

POR:
Victor Santos
Professora usa aplicativo do celular para ensinar operações de Matemática, uma das possibilidades de ferramentas digitais para ensino remoto    Crédito: Getty Images

Desde o registro do primeiro caso de covid-19 no Brasil, o mundo escolar virou de cabeça para baixo: com o esquema 100% remoto, professores, alunos e pais precisaram experimentar diferentes ferramentas e formatos de aula para dar continuidade aos estudos. “O que se viu, desde então, é que uma grande rede de apoio se formou, na qual todos os educadores estão trabalhando juntos para alcançar um nível de aprendizado e desenvolvimento nessas novas ferramentas”, afirma Renata Capovilla, formadora de professores e capacitadora do Google For Education. “Os professores se descobriram muito criativos nesse momento, ao mesmo tempo em que encaram uma demanda de trabalho surreal”.

Os desafios para testar e aplicar essas ferramentas digitais são inúmeros: além da própria demanda elevada, muitos estudantes não têm acesso regular à internet, ou dividem aparelhos celulares com outras pessoas da casa. Some-se a isso que poucos educadores tiveram contato com tecnologias educacionais em sua formação e, em muitos casos, não possuem equipamentos adequado para produzir conteúdos digitais.

NOVA ESCOLA foi buscar experiências de professores de diferentes estados do Brasil, que testaram diversas ferramentas para continuar levando o ensino aos seus estudantes.

WhatsApp é um dos aplicativos mais usados por professores para se comunicar com colegas, com alunos e famílias   Crédito: Getty Images

WhatsApp e YouTube: ferramentas mais conhecidas

Todos os professores ouvidos pela reportagem destacaram a importância do WhatsApp para comunicação e compartilhamento de conteúdos. A professora de Matemática Helenita Nagatani, da rede municipal de São Sebastião (SP), vem utilizando constantemente o aplicativo desde o fechamento das escolas. No começo, o aplicativo foi usado para debater as novas estratégias de ensino com seus colegas e, atualmente, para conversar com os alunos e enviar atividades em formato PDF.

No entanto, não bastava apenas ter esse canal de contato. “Em sala de aula, eu sempre gostei de apresentar a Matemática de forma prática, como por exemplo, ensinando unidades de medida por meio de receitas. Nesse momento da pandemia, resolvi registrar atividades desse tipo em vídeo”, conta a professora.

Crie e edite aulas no Youtube


Considerando que alguns alunos têm acesso limitado à internet, Helenita diz que o seu maior desafio foi selecionar os conteúdos básicos de Matemática para ensinar nesses vídeos. Fazer uma filtragem do conteúdo é, inclusive, uma etapa recomendada pela especialista Renata Capovilla. “Nesse momento, o professor precisa selecionar o que é essencial para o aprendizado do aluno dentro daquele conteúdo”, diz a formadora de professores. “Não dá para transpor toda uma aula presencial para o ensino remoto”.

Para seus vídeos, Helenita utilizou o próprio celular e um tripé. Com a ajuda do filho, ela gravou dois conteúdos: um com a lenda do Tangram, que contou com a ajuda de um amigo para uma edição mais elaborada, e outro ensinando uma receita de esfiha com ingredientes que vão no kit merenda entregue pela escola. Ambos foram disponibilizados no YouTube e via WhatsApp. “Os alunos gostaram muito”, diz a professora, “recebi vídeos de pais e filhos fazendo a atividade do Tangram, outra mãe me mandou um vídeo de um aluno, que é surdo, fazendo as esfihas todo feliz. Fiquei muito emocionada com esses retornos”.


Telas das ferramentas Canva e Inshot que permitem criar telas, editar imagens e vídeos    Crédito: Reprodução

Canva, Inshot, TikTok e Spreaker Studio: ferramentas para imagens, vídeos e podcasts

A dificuldade de Helenita para editar um dos seus vídeos é compreensível, pois a edição não é algo simples de se fazer, especialmente quando a única ferramenta disponível para gravar e editar vídeos é o celular.

Uma das soluções para isso é o aplicativo Inshot. Disponível gratuitamente na loja de aplicativos do seu celular (App Store para iPhone, Play Store para aparelhos Android), esse app possibilita, de forma muito intuitiva, juntar, cortar ou inserir figurinhas e músicas em fotos e vídeos – que podem ser salvos em diferentes tamanhos.

Já em relação a imagens, muitos professores estão montando cartazes com outro aplicativo, o Canva, que também é bastante intuitivo. Após baixá-lo, selecionando as opções “Cartaz” e “Cartaz escolar”, o professor encontra vários modelos prontos e facilmente editáveis para criar imagens, como avisos ou chamamento para aulas. É possível, ainda, compartilhar essas imagens editadas diretamente no Inshot, para então produzir montagens.

Ainda considerando aplicativos de vídeo de fácil edição, é difícil não mencionar o TikTok, que permite a gravação e o compartilhamento de vídeos de 15 a 60 segundos, com inúmeros efeitos para inserção de músicas, figurinhas e dublagens. Trata-se de um verdadeiro fenômeno – com mais de 1,5 bilhão de downloads no mundo todo –, especialmente com o público jovem.

A duração curta dos vídeos pode ser um desafio para explicações mais aprofundadas; com isso, os professores têm aproveitado para propor as devolutivas dos trabalhos em formato do TikTok, unindo a facilidade dos estudantes com o uso do app ao formato de vídeos curtinhos, que são mais fáceis de serem compartilhados por WhatsApp e outras ferramentas. É possível, inclusive, produzir futuramente uma montagem no Inshot com os vídeos do TikTok enviados pelos alunos.

Mas tem professor investindo tempo em outros formatos de mídia. “Eu acredito muito na força do áudio como uma ferramenta para aprendizagem”, afirma a professora Thamires Martins Viana, que trabalha com Língua Portuguesa e outras disciplinas na rede pública e privada de Aratuba (CE). Após gravar alguns vídeos e não gostar muito do resultado final, que ainda gerava um arquivo muito pesado para compartilhar pelo WhatsApp, ela resolveu experimentar o formato de podcast, que havia conhecido por meio de conteúdos de NOVA ESCOLA.

Depois de pesquisar tutoriais na internet, Thamires chegou ao app Spreaker Studio, que permite gravar todo o podcast pelo celular. Ela baixou algumas trilhas gratuitamente pela biblioteca de áudios do YouTube, inseriu na aba “Playlists” do Spreaker Studio, e selecionou a opção “Auto Ducking” nas configurações do app, o que faz com que a modulação da trilha fique automática (ou seja, a música diminui quando ela está falando, e aumenta quando para de falar). Então, ela dá play na trilha, aperta o botão “REC” e começa a gravar seu programa.

“Em relação ao roteiro, faço uma saudação, apresento o tema, faço a leitura de uma história e me despeço. Mas já estão surgindo outras ideias, como por exemplo, inserir áudios dos meus alunos no podcast”, conta a professora, “e os estudantes que têm internet estão gostando bastante, principalmente por causa dos efeitos de música”.

Tela do Padlet usado pela professora Debora de Andrade, de São Gabriel (RS)    Crédito: Reprodução

Padlet, Telegram e Google Classroom: ferramentas interativas e agregadoras

Uma das vantagens das ferramentas tecnológicas na Educação é a possibilidade de utilizar recursos interativos e colaborativos, que podem agregar e compartilhar conteúdos em diversos formatos. Um dos aplicativos que permite esse tipo de trabalho é o Padlet, no qual é possível criar murais colaborativos – e que pode ser utilizado no celular ou computador. Esse app despertou a atenção de professores como Debora de Andrade, que atua com ferramentas interativas no Ensino Fundamental, na rede estadual de São Gabriel (RS).

“Ele é fácil de editar, você pode criar uma página à sua maneira, e enviar o link para os alunos acessarem”, descreve a professora, que trabalha com sete turmas na escola, do 1º ao 5º ano. “Já usei o Padlet com todas elas, criando, por exemplo, um mural de fotos e de produções textuais, em que eles descrevem os livros que leram”. O aplicativo permite o envio de diversos formatos de arquivo, como texto, imagem ou áudio.

Agregar diferentes formatos foi também o que motivou a professora de Geografia Eliane Chaves, da rede estadual em Campo Belo (MG), a trabalhar com o Telegram, aplicativo de comunicação similar ao WhatsApp. “Depois de me atualizar sobre ensino remoto por meio do Nova Escola Box, do qual sou assinante, e dos cursos do Educação em Rede, eu estava buscando uma forma prática, fácil e acessível de adquirir e compartilhar conhecimentos, e minha filha sugeriu um canal no Telegram”, conta.

Para criar um canal no Telegram, basta clicar nos três riscos do canto superior esquerdo e selecionar a opção “Novo canal”. Eliane criou o Dicas Geografia, em que compartilha uma infinidade de materiais, como textos, explicações em áudio, enquetes, vídeos do YouTube, podcasts e dicas de filmes, e o retorno dos alunos tem sido muito bom. “Esse momento é um divisor de águas em minha vida profissional”, diz a professora.

A especialista Renata Capovilla, com sua visão de capacitadora do Google For Education, compartilha das perspectivas da professora Eliane. “O Google também oferece inúmeras ferramentas, todas colaborativas e gratuitas”, destaca a formadora de professores, salientando que o Google Classroom, mencionado por vários educadores ouvidos pela reportagem, pode ser o centralizador de tudo, e a partir daí, o professor pode testar outras potencialidades. “O momento é de valorizar as diversas maneiras de se trabalhar e de receber devolutivas dos alunos, seja em vídeo, áudio ou texto. Dificilmente voltaremos a ter uma escola como era antes, e mesmo as escolas que resistiam à tecnologia vão passar a incorporar mais essas ferramentas”, conclui Renata.

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