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Folclore: 12 livros ilustrados sobre o tema para saber mais

As narrativas da cultura popular já foram temas de diversos títulos literários e podem ser apresentados para sua turma até mesmo no ensino remoto

POR:
Paula Salas, Duda Oliva
Ilustração: Duda Oliva

A diversidade e imensidão do Brasil se reflete em seu folclore. As diferentes manifestações da cultura popular aparecem nas lendas, músicas, danças e nas histórias da cultura oral que são passadas de geração em geração. Muitos autores e ilustradores buscaram representar em seus livros um pouco dessa riqueza de narrativas e personagens.  

Como um produto de um contexto histórico, essas manifestações podem trazer preconceitos que são importantes serem discutidos ou levados em consideração ao selecionar trabalhar textos folclóricos para apresentar aos alunos. Outra discussão levantada por pensadores indígenas e negros é a importância de separar mitos (ou figuras religiosas) herdados da cultura indígena e africana das lendas do folclore. 

O folclore diz muito também sobre a história e identidade cultural do Brasil, por isso desde cedo é importante que as crianças tenham contato com essas narrativas. Por isso, no Leitura de Cabeceira desta semana selecionamos livros ilustrados (para crianças, adolescentes e adultos). Confira: 

1. Contos folclóricos brasileiros (Marco Haurélio e Mauricio Negro, Editora Paulus)
A obra foi resultado de uma pesquisa de campo realizada pelo professor e pesquisador Marco Haurélio em 2005. Os contos reunidos nesta edição fazem uma retomada da tradição de narrativas orais e da memória popular. O livro infantojuvenil foi selecionado, em 2012, pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola, do Ministério da Educação (MEC). 

2. O abecedário de personagens do folclore brasileiro (Januária Cristina Alves e Cézar Berje, SESC São Paulo e FTD Educação)
Finalista do 60º prêmio Jabuti, em 2018, na categoria ilustração e impressão, o livro traz 141 personagens folclóricos. Cada figura é apresentada em um verbete ilustrado com a origem, características e as narrativas. Apesar de ser um livro com mais de 400 páginas, a linguagem e o formato de textos curtos tornam a leitura acessível para alunos do Fundamental 2. 

3. O unicórnio do sul e outras lendas poéticas (José Couto e Luiza Maciel Nogueira, Autobiografia Editora)
Nesta obra, os autores trazem histórias clássicas do folclore em outro formato. As narrativas são recontadas com a sensibilidade da poesia. O diálogo entre o texto poético e a delicadeza das ilustrações ampliam a experiência de entrar entrar em contato com os personagens. Outro livro que traz históricas folclóricas nesse formato é o Cirandas Brasileira (Elias José e J. Borges. Editora Paulus), que reúne poemas e xilogravuras inspiradas no folclore das regiões norte e nordeste do Brasil. 

4. Bumba meu boi bumbá (Roger Mello, Global Editora)
O Bumba meu boi é uma das festas mais populares do folclore brasileiro. Com manifestações por todo o país, o mais popular é o bumba meu boi maranhense que é Patrimônio Cultural do Brasil e Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Neste livro infantil, Roger Mello reconta a história do sacrifício e ressurreição do boi pelo Pai Francisco. 

5. Monstronário, Monstros e Assombrações do Brasil de A a Z (Lúcia Tulchisnki e Alexandre Carvalho, Estrela Cultural) 
O livro é um guia, organizado em ordem alfabética, de 37 personagens folclóricos. Figuras que poderiam ser construídas para passar uma imagem assustadora ou malvada são representadas de forma bem-humorada. Esse mundo colorido de encanto e imaginação é ideal para crianças dos Anos Iniciais do Fundamental.

6. Quem matou o Saci? (Alexandre de Castro Gomes e Cris Alhadeff, Editora Escarlate)
O autor cria uma narrativa bem-humorada de suspense em que os detetives Billy Conrado e Joaquim de Jeremias precisam investigar quem matou o Saci Perereira e qual foi o motivo do crime. Os principais suspeitos são conhecidos personagens folclóricos também. O livro infanto-juvenil já foi premiado e é ideal para aqueles alunos que adoraram livros como os da coleção Os Karas, de Pedro Bandeira. 

7. Pula, boi! (Marilda Castanha, Editora Scipione)
Nesta narrativa, a curiosa protagonista queria descobrir tudo sobre a Festa do Boi, então foi convidada pelo boi a acompanhá-lo em todos os preparativos. Até que na noite de São João ela compreende todos os detalhes da história e da festividade. Os alunos de Fundamental 1 irão se encantar com as aventuras da personagem principal e conhecer a história por trás da famosa festa popular (falada bastante para os pequenos da Educação Infantil).

8. O Livro da Com-Fusão Brasil (Ilan Brenman e Fê, Editora Melhoramentos)
O que teríamos se misturássemos diferentes personagens folclóricos em um só? Essa é a brincadeira proposta por esta obra. Com muitas cores e criatividade, é um ótimo título para os mais novos, pois o texto do livro é apresentado em letra bastão - favorecendo o contato das crianças com a obra. 

9. Cavalhadas de Pirenópolis (Roger Mello, Global Editora)
Em um livro cheio de cores e que presta homenagem aos jogos equestres (de cavalos) que ocorrem no interior de Goiás, o autor utiliza as fortes cores e movimentos gestuais do traço para traduzir a dança e o teatro da tradição. E ao redor disso, conta  uma história de amor e desafios ao sabor de baladas medievais.

Brincadeiras cantadas: Valorizando a tradição popular

Neste curso gratuito, a proposta é contribuir para a ampliação do repertório de canções e brincadeiras da tradição oral brasileira. O repertório escolhido possibilita desafios rítmicos, melódicos e de coordenação entre movimento, palavra e música para potencializar o desenvolvimento integral da criança nos diversos aspectos da sua formação: emocionais, físicos, cognitivos, sociais e motores.

10. Tutu-Moringa (Elizabeth Rodrigues da Costa, Gabriela Romeu e Marilda Castanha, Companhia das letrinhas)
Quem já não teve problemas pra dormir por causa de monstros no armário ou debaixo da cama? Criaturas como Pisadeira e Bicho Papão atormentam crianças em todo o mundo, mas você já ouviu falar do Tutu-Moringa? Com ilustrações fortemente táteis e com influência do barro e tons terrosos, a ilustradora Marilda Castanha valoriza também as origens africanas deste conto popular

11. Bumba meu boi (Fernando Vilela e Stela Barbieri. WMF Martins Fontes)
Existem muitas versões do Bumba meu boi e nessa os autores recontam a versão maranhense da história para as crianças. Trabalhando sobre fundos escuros sob tons vibrantes, Fernando Vilela transporta o leitor para um universo místico de dança através de carimbos e fitas de cor. A técnica artística valoriza os padrões e os tecidos da celebração, criando uma experiência quase tátil sobre as folhas negras do livro que remetem a noite.

12. Contador de historias de bolso: Brasil (Ilan Brenman e Fernando Vilela, Editora Moderna)
Uma das primeiras parcerias desses autores, a obra apresenta  contos populares das cinco regiões do país, brincando com causos cômicos e surreais passados de geração em geração. As ilustrações de Fernando, remetendo fortemente ao cordel, apoiam as narrativas sem tornar o livro infértil demais para a interpretação dos leitores.

Entenda sobre a ilustração e a criação visual nos livros folclóricos
O folclore abre uma possibilidade infinita de traduções visuais possíveis. Das tintas e pastéis de Maurício Negro ao traço mais limpo e dos blocos de cor de Luiza Maciel, a ausência de uma representação absoluta para estes personagens é um convite para a diversidade de representações: os traços mais simples a lápis e o formato investigativo de "Quem matou o Saci" propõem uma leitura própria da personagem, ao passo que a interpretação mais monstruosa (remetendo vagamente a Maurice Sendak e seu clássico "Onde Vivem os Monstros") de Alexandre Carvalho no seu "Monstronário" confere outra atmosfera a estes relatos populares. 

Tendo uma herança folclórica tão diversa, não é surpresa a quantidade de ilustradoras e ilustradores que já se aventuraram atrás do Curupira ou dos rastros do Saci. De fato, aqui costuma se descortinar um universo tão grande e plural que alguns artistas, além de emprestarem sua voz pontualmente a contos folclóricos, incorporam ao seu próprio processo partes deste rico universo, herdando materiais, tons e modos de criar destas danças e festas para seu modo de contar histórias. 

Cores, formas, técnicas. Tintas, carimbos, gravuras e colagens. Imagens abstratas, realistas ou mesmo naif (arte ingênua, geralmente atribuída à produção de artistas sem formação acadêmica) são características incorporadas por autores de livro ilustrado em suas obras. Existe algo no dançar do pincel sobre a página, na explosiva combinação de cores, nos desenhos no limiar do figurativo que se fundem e se potencializam nos livros de temática folclórica.

Vencedor do Hans Christian Andersen (espécie de Nobel do livro ilustrado), o artista Roger Mello sabe bem como imprimir as imagens na página. Profundamente interessado na cultura popular brasileira, seus livros são povoados por danças típicas, lendas e carrancas, não raro incorporando padrões e texturas das festividades e contextos locais aos seus personagens e cenários. 

Com composições em cores fortes e uso de formas soltas semelhantes a quadros de Joan Miró, ele transporta os leitores para um mundo quase surrealista, apesar de ainda ancorado na realidade: os cavaleiros interioranos - à moda das justas medievais - parecem fazer parte de um Brasil mítico, ao passo que em seus traços, o Bumba meu boi parece flutuar sobre os personagens em sua dança cerimonial, confundindo-se com estes e com o espaço. 

O caráter mágico - surrealista -  em cores e formas também fazem parte do repertório do ilustrador Fernando Vilela e de algumas de suas obras. Pesquisador das artes do livro e das relações entre imagens, Fernando investiga diferentes formas de se criarem narrativas e é amplamente reconhecido pelo seu uso de carimbos e xilogravuras, atividades manuais que relacionam sua arte aos tradicionais contos de cordel.

Ao brincar com a repetição de padrões e formas, os carimbos multiplicam os floreios e saias rodadas de tradições populares, ao mesmo tempo que ajudam a transmitir toda a euforia da dança e jogam com a subjetividade do que é gente e do que é bicho. Técnica semelhante também pode ser apreciada em composições que Fernando cria de cenários e paisagens onde torres, castelos e palafitas se equilibram precariamente sobre blocos de cor e sulcos de madeira, carregando consigo uma linguagem tão própria para uma miríade de cenários brasileiros. 

O ilustrador consegue (através dessa valorização de uma linguagem tradicional de um povo) universalizar uma linguagem visual, transpondo fronteiras através do desenho, da mesma forma que as representações espontâneas e atmosfericamente infantis de Marilda Castanha visitam o interior do país. Ilustradora premiada com uma abordagem que valoriza a materialidade das técnicas e vibração das cores. Seus desenhos, visualmente próximos a arte naif, são uma ode à tradição popular, a pintura das crianças e a tradução em imagens de contos e lendas relatados ao pé do ouvido. 

Estas diversas traduções visuais, antes de imporem uma forma de enxergar o folclore, deixam ainda mais amplas as molduras destas histórias, com ilustrações que frisam a subjetividade destas tradições e a riqueza obtida da polifonia de vozes e representações. Cada técnica é, portanto, veiculo para uma visão possível (não-absoluta), aberta ao novo e - portanto - ao ingresso do leitor em si e neste universo.

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