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Resolução de problemas: como aplicá-la no ensino remoto?

Vamos discutir um pouco sobre essa forma de trabalho e suas ligações com as atuais demandas educacionais

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Image

A resolução de problemas é uma estratégia de trabalho que dialoga com as questões trazidas pela alfabetização matemática e as competências socioemocionais. Ambas vêm ganhando também espaço nas discussões que envolvem a Educação e o cenário da pandemia.

Ao utilizar essa estratégia cria-se um ambiente investigativo na sala de aula – presencial ou virtual – mobilizando conhecimentos, dando um significado maior a aula e ao fazer matemático. Os alunos aproximam-se da Matemática a partir de situações reais, desmistificando a ideia de que ela é para poucos. Pelo contrário, é para todos uma vez que todos podem opinar, têm voz e vez. A sala de aula é um espaço para discussões e aprendizagens.

Mas em que consiste a resolução de problemas?
Antes de retomar a ideia da resolução de problemas é preciso entender o que é um problema. Porém é preciso desconstruir a ideia de problema como uma forma de treino do uso dos algoritmos como muitas vezes ainda é usado.

De acordo com o caderno 4 do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), “um problema matemático é uma situação que requer a descoberta de informações desconhecidas para obter um resultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto é possível construí-la”. Por meio dele o aluno é capaz de pensar matematicamente, desenvolvendo estratégias de solução e, por conseguinte, identificando o conceito matemático que o resolve. Caso contrário, são meros exercícios e muitas vezes repetitivos.

Planejar uma situação problema requer saber quais os conceitos que se quer trabalhar. Essa situação pode ser algo que a criança vivenciou por meio de brincadeiras e jogos, a partir de histórias ou outras nas quais precisam colocar em jogo o que sabem, “problemas” não convencionais (usados na Educação Infantil) e há aqueles que possibilitam diferentes resultados, dentre outros.

Alguns exemplos pensando em classes de primeiro ano:

>> Quinze crianças estavam brincando de esconde-esconde. Duas já foram encontradas. Quantas ainda estão escondidas? Desenhe.
>> João e Julia estavam jogando bolinha de gude. As bolinhas que cada um tinha acabaram se esparramando no chão e se misturando. Os dois juntos tinham 12 bolinhas. Júlia lembrava que tinha 4. Quantas eram as bolinhas de João?

Estas são situações propostas após a vivência das brincadeiras. Em ambas, a ideia é trabalhar a subtração envolvendo o completar.

>> André e Gabriel estavam brincando no parque e viram alguns animaizinhos. O André disse que viu 4. O Gabriel concordou e disse que havia contado 22 patas e pés. Quais animais eles viram? Desenhe-os.

Nesta situação há diferentes possibilidades de respostas. É possível dar figuras de animais para que as crianças possam contar patas e pés.

>> História “Festa no Céu” de Braguinha (Editora Rocco): a partir do trecho que a professora parou da história “Festa no Céu”, imagine como você acha que o sapo fez para poder chegar lá na festa. Registre sua ideia.

Acima um exemplo de um problema não convencional no qual as crianças podem encontrar muitas soluções, podendo posteriormente comparar com a da história.

Colocando a resolução de problemas em ação
Encontrada a situação problema que melhor se adeque aquilo que se quer trabalhar é importante ler e interpretar com a turma o que está sendo solicitado, o que é preciso saber para resolver o problema. Conseguir interpretar o que se pede irá ajudar na resolução.

É importante ressaltar que ler e interpretar com a turma é diferente de ler e interpretar para a turma.

Na sequência, os alunos precisam resolver a proposta. Pode propor que resolvam individualmente e depois discutam em grupos ou mesmo que já façam em grupo.  Nesse momento, o professor é o observador e aquele que faz as boas perguntas para que os alunos avancem em suas ideias, desenvolvam suas estratégias sem medo de errar.

Resolvido no grupo, é hora de socializar as respostas, ou seja, discutir as diferentes ideias, trazendo as estratégias encontradas. Os alunos são os protagonistas, o professor é o mediador valorizando a lógica e as estratégias pessoais de cada um. Novamente os questionamentos dos colegas e do professor vão proporcionar a construção de um consenso sobre o que foi proposto.

A alfabetização matemática e as competências socioemocionais
A descrição desse “passo a passo” mostra o quanto esta metodologia dialoga com as competências socioemocionais e com as competências gerais contidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A resolução de problemas permite o desenvolvimento do protagonismo da turma ao buscar a melhor estratégia de solução. Para isso colocam em ação a organização, a determinação, o foco, a persistência. Além disso, envolve o engajamento com o outro, a empatia ao trabalhar em grupo, respeitando as ideias de cada um para se chegar ao consenso da melhor resposta, sem contar a curiosidade que move o interesse e enche de significação e significado o ato de aprender.

Trabalhar dessa forma desde a Educação Infantil significa investir na alfabetização matemática já que está se criando uma nova relação com a Matemática e promovendo a sua compreensão.

Como colocar em prática no ensino remoto
Tendo em mente que a resolução de problemas é o caminho para que os alunos possam atribuir significado ao conhecimento matemático e tornar a aprendizagem mais significativa, será que estamos planejando e enviando problemas no sentido aqui discutido ou são apenas cópias e reproduções de tarefas?

Metodologias ativas para aulas a distância

É possível utilizar metodologias ativas a distância? Neste curso gratuito, a professora Renata Capovilla fala sobre como colocar o aluno no centro da aprendizagem e a utilizar ferramentas como FlipGrid. Além disso, ela mostra como criar um QR code!

O viés da resolução de problemas precisa estar presente nas diferentes situações que são propostas aos alunos na atual situação de aulas remotas.

A proposta da resolução de problemas precisa da observação e mediação do professor. Será possível fazê-la a distância? Sim, se realmente acreditarmos que este é o caminho, encontraremos uma forma de adaptá-la.

Que tal começar trazendo um caderno de “desafios” contendo diferentes situações para serem resolvidas pela criança? Inicialmente poderá discutir com os membros da própria família e depois nos grupos formados pelo professor, via WhatsApp, procurando encontrar a melhor solução. Será um bom momento para estimular as estratégias individuais.

A socialização poderá ser no grupo de WhatsApp, criando um espaço de discussão e trocas. Um membro do grupo poderá explicar como resolveu e o professor fará as intervenções para que a turma escolha a melhor resposta e percebam que há diferentes caminhos. 

Pode ser um ensaio ou melhor dizendo, um novo começo para enxergar a Matemática com um novo olhar, e permitir que todos avancem na construção do conhecimento.

Até a próxima,

Selene

Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1º ao 5º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.

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