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Ciências: 3 atividades para trabalhar o pensamento científico

Conheça experiências pedagógicas que podem ser levadas para suas aulas de Ciências

POR:
Selene Coletti
garota negra com a lupa no olho
Foto: Getty Image

Em um passado não tão distante, as aulas de Ciências eram cheias de informações transmitidas pelo professor na forma de conceitos, leis e fórmulas, que os alunos decoravam e depois usavam para responder avaliações e questionários. Mas a sociedade mudou. Estamos cada vez mais na era da tecnologia e do desenvolvimento científico, além de uma forte preocupação com a sustentabilidade do planeta. Tais mudanças refletem no atual ensino de Ciências como também é proposto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A Base busca “assegurar aos alunos o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história e aproximação aos processos, práticas e procedimentos da investigação científica”. Assim, ao invés da decoreba anterior, é esperado que os alunos possam se apropriar do que aprendem na escola para desenvolver um novo olhar sobre o mundo fazendo escolhas sustentáveis visando o bem comum.

E como a BNCC muda o ensino de Ciências na prática?
Dentro desse contexto é proposto que se desenvolva o pensamento científico por meio de atividades investigativas. Ou seja, que as situações de aprendizagem possam partir de questões desafiadoras, onde os alunos possam definir problemas, levantar, analisar, propor soluções e comunicar suas conclusões.

Conheça planos de aula de Ciências

Para apoiar os professores no ensino remoto, os planos de aula de NOVA ESCOLA estão adaptados para o uso no ensino remoto. No botão abaixo, você pode conferir as sugestões para sua aula de Ciências. 

Atrelado a isso está o desenvolvimento do letramento científico, que é o processo de evoluir a capacidade de compreender e interpretar o mundo pautado no conhecimento científico. A consequência desses processos é se tornar um agente transformador, exercitando a cidadania.

São mudanças de concepções que nos fazem pensar em nossa prática diária da sala de aula seja ela presencial ou não. Mas estamos promovendo esse letramento? Estamos permitindo que nossos alunos desenvolvam e ampliem suas curiosidades que são tão peculiares? Ou ainda “passamos batido” por esta área do conhecimento priorizando a Língua Portuguesa e a Matemática? São questões que precisamos refletir se quisermos desenvolver as competências propostas na BNCC e, por conseguinte, formar um cidadão responsável, autônomo que pensa no seu entorno.

A experiência como uma estratégia de ensino
Você deve estar pensando, nesse momento, nas experiências realizadas em sala de aula ou no laboratório. Enquanto escrevia esse texto me lembrei de algumas que fiz na escola (e olha que faz tempo!). Pois então, elas também ganharam uma nova conotação.

Embora nas páginas da BNCC não apareçam a palavra experiência, há alguns verbos como observar, relatar, formular, fazer, construir que remetem à ideia de propostas práticas por meio das quais será possível estimular a observação, a experimentação e a pesquisa buscando relacionar o conteúdo ao cotidiano. Ao contrário do que era usada no passado para demonstrar um fenômeno, provar o que foi estudado.

Desde a Educação Infantil, por meio do trabalho a partir dos campos de experiências, as crianças podem explorar ambientes e fenômenos sobre o mundo que as cercam.  Tais vivências devem continuar sendo valorizadas e mobilizadas ao longo dos Anos Iniciais, investindo num contexto de letramento.

Baixe tabela com as habilidades prioritárias da BNCC em Ciências

Confira uma seleção feita por especialistas na área dos conteúdos que não podem ficar de fora das aulas do 1º ao 5º ano. A tabela pode te ajudar a analisar esse ano e planejar 2021. 

Apresento três sugestões de “experiências” que sua turma do Fundamental 1 poderá investigar, buscar resoluções de problemas, apresentar suas ideias, desenvolvendo sempre a argumentação e, principalmente, sendo a protagonista da proposta e não aquela que apenas assiste. Vamos as indicações:

1)“É possível pintar com gelo?"
Essa é uma questão a ser discutida com a turma. Ouvir e contra-argumentar as ideias é fundamental para depois apresentar a proposta que é fazer gelo colorido. Essa atividade, inclusive, pode ser experimentada na Educação Infantil.  Para começar, você pode dividir a turma em pequenos grupos para colocar a mão na massa. O professor irá percorrer os grupos, trazendo questões sobre o que está sendo realizado, fotografando, gravando em vídeo para depois mostrar aos alunos.

O experimento consiste em misturar guache ou anilina (corante) com a água, depois despejar a combinação em forminhas de gelo e levar para o congelador. O guache deixa a mistura com uma tonalidade mais forte. Durante o processo, o professor pode questionar o que irá acontecer e como obter a tinta clara ou escura. É possível fazer também uma a roda de conversa após a realização do experimento e sua contextualização permitirá trabalhar o pensamento científico, conforme mencionei no início da nossa conversa. Logicamente que o registro por meio de desenhos ou textos complementam a proposta.

É possível trabalhar estados físicos e mudanças de temperatura (frio e quente) além das misturas para fazer as cores, o que vai ao encontro das seguintes habilidades:

(EF04CI01) Identificar misturas na vida diária, com base em suas propriedades físicas observáveis, reconhecendo sua composição.
(EF04CI02) Testar e relatar transformações nos materiais do dia a dia quando expostos a diferentes condições (aquecimento, resfriamento, luz e umidade).
(EF04CI03) Concluir que algumas mudanças causadas por aquecimento ou resfriamento são reversíveis (como as mudanças de estado físico da água) e outras não (como o cozimento do ovo, a queima do papel etc.).

2) Fogo e lanterna
Comece perguntando o que é a sombra. Explore as repostas dos alunos, observe se a turma sabe que sombra é ausência de luz. Caso não saiba, antes do experimento proponha uma pesquisa, por exemplo. Em seguida, questione se é possível enxergar a sombra de qualquer coisa a partir de uma lanterna. Ouça as respostas, contra-argumente e proponha que brinquem com uma lanterna ou a lanterna de um celular, explorando diferentes possibilidades de objetos para projetar a sombra na parede.

Será necessário um espaço com pouca luminosidade. Converse com a turma sobre as descobertas e solicite que registrem em algum lugar. Questione também se é possível ver a sombra de um fósforo aceso. Apresente o experimento que consiste em acender um fósforo e mantê-lo a uma distância de 10 a 15 centímetros da parede, iluminando-o com uma lanterna. Pergunte o que acontece e o porquê. A turma apresentará suas conclusões e você a instigará a descobrir o porquê.

Veja sugestão de atividade com água na panela

O que acontece com a água no estado líquido ao ser colocada numa panela ao fogo? A professora Fabiane de Sant’Ana Leite levou seus alunos a investigarem a mudança em suas casas. Conheça o passo a passo da atividade proposta por ela:

O experimento mostra que não é possível enxergar a luz do fósforo, mas se vê  projetado apenas a sombra da mão e o palito de fósforo. O fogo não projeta sombra porque é também uma fonte de luz. Isto pode ser o ponto de partida para a construção das primeiras noções da interação da luz com os diversos materiais e objetos.

Essa atividade pode atender a habilidade de:

(EF03CI02) Experimentar e relatar o que ocorre com a passagem da luz através de objetos transparentes (copos, janelas de vidro, lentes, prismas, água etc.), no contato com superfícies polidas (espelhos) e na intersecção com objetos opacos (paredes, pratos, pessoas e outros objetos de uso cotidiano).

3) Troca de calor (sensação térmica)
Organize os grupos para realizar o experimento e entregue um passo a passo da atividade. No material deve orientar os alunos a dispor 3 recipientes nos quais se caibam as mãos da seguinte maneira: um recipiente com água e pedras de gelo, outro com água em temperatura ambiente e outro com água quente.

Peça aos alunos que coloquem as mãos no recipiente com água gelada e quente, ao mesmo tempo, deixando por 30 segundos. Em seguida, coloquem as duas mãos naquele que possui água na temperatura ambiente. Discuta com a turma o que entenderam do processo e dispare a questão: o que irá acontecer ao colocar as duas mãos na água em temperatura ambiente? Anote as respostas ou peça que registrem.

Compare as colocações feitas antes e depois do experimento pelos alunos, questionando o porquê desse acontecimento:  a mão que estava no recipiente com água quente ao ser colocada na temperatura ambiente dá a sensação de que a água está fria e acontece o contrário com aquela que estava na água fria. Isto permite trabalhar a diferença entre temperatura e sensação térmica, já que a água do recipiente do meio tem a mesma temperatura, mas a sensação de quem participa do experimento é diferente em cada mão.

Essa proposta vai ao encontro das seguintes habilidades previstas na BNCC:

(EF04CI02) Testar e relatar transformações nos materiais do dia a dia quando expostos a diferentes condições (aquecimento, resfriamento, luz e umidade).
(EF04CI03) Concluir que algumas mudanças causadas por aquecimento ou resfriamento são reversíveis (como as mudanças de estado físico da água) e outras não (como o cozimento do ovo, a queima do papel etc.).

Como você viu são propostas que utilizam materiais simples e de fácil aquisição! É possível fazer no ensino remoto ou presencial com pequenas adaptações. Os alunos podem fazer o experimento por uma aula ao vivo, por exemplo. São pequenos exemplos para você se inspirar e ver suas aulas de Ciências a partir de um novo prisma, estabelecendo conexões com o cotidiano ou ainda começando uma sequência investigativa.  

Além dessas minhas “provocações”, você pode encontrar boas sequências aqui na Nova Escola como este plano de aula ou este aqui. Inspire-se!

E então, o que você pode fazer para que as aulas de Ciências possam cumprir o seu papel? Lembre-se, como dizia uma antiga propaganda, “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”.

Até a próxima,

Selene

Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1º ao 5º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.

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