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Agrupamentos de alunos: entenda sua importância e como fazer no dia a dia

Modelo pode garantir aprendizagem e ajudar professor no desafio de defasagem pós 2020

POR:
Ana Paula Bimbati
alunos sentados no formato de uma roda com uma mesa verde no centro, eles fazem atividade
Foto: Getty Image

Imagine uma sala com 30 ou 40 alunos em níveis de aprendizagem diversos, com habilidades, preferências, interesses e dúvidas diferentes. Adicione na conta a falta de acesso ao conteúdo que cada estudante teve durante o período de ensino remoto emergencial. O resultado dessa equação é uma turma desafiadora para um professor de Ensino Fundamental ou Médio. Para solucionar desafios como esse, um dos caminhos possíveis é o formato de aula por agrupamentos, que estabelece critérios de divisão de uma sala ou até mesmo de escola para impulsionar a aprendizagem.

Adriana Pereira, especialista em didática e currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que a escola foi consolidada de forma a valorizar as trajetórias individuais dos alunos em relação à consolidação do conhecimento. “Nós vivemos um processo de colonialidade dos saberes, que privilegia conhecimentos a partir de uma visão eurocêntrica e individualista. Mas existem outros formatos que enriquecem o conhecimento, valorizam a diversidade, participação e a democratização", diz a especialista.

Quais são as formas de agrupamento da turma?
Conhecedora da metodologia na prática da sala de aula, a professora alfabetizadora Mara Mansani, da EE Professora Laila Gales Sacker, em Sorocaba (SP), afirma que há muitas possibilidades de agrupar os alunos. Entre essas opções, a educadora sugere a divisão por hipóteses próximas, contradição, nível de aprendizagem e até mesmo interesses. 

No processo de alfabetização, um dos agrupamentos comumente utilizados é o de hipóteses de escrita diferentes. “Na fase pré-silábica, por exemplo, eles ainda não pensam que o falado tem relação com a escrita”, explica Mara. Por isso, se o grupo ficar entre iguais, o avanço é pequeno. “Mas, se eu escolho uma criança que está em um nível um pouco mais a frente, silábico com o valor sonoro, eles terão esse contraditório e é aí que a aprendizagem acontece”, diz a alfabetizadora.

Na Escola Municipal Waldir Garcia, em Manaus (AM), há grande diversidade na comunidade interna: são alunos estrangeiros de diferentes países, crianças com deficiência, nível socioeconômico e de aprendizagens diversos. “Para fazer um bom agrupamento dos estudantes, em primeiro lugar, é preciso conhecer cada criança e levar em consideração a proximidade entre elas, a facilidade em ensinar e ajudar o outro colega também”, diz a diretora Lúcia Cortez de Barros Santos.

É também durante esse processo de escolha de critérios que o professor deve se atentar às atividades ofertadas. “A atividade pode ser a mesma, mas precisa ter níveis diferentes, porque já ouvi muitos professores reclamarem que o agrupamento não deu certo, mas deu a mesma atividade sem mudar nada para todos os grupos”, diz Mara.

Passo a passo para fazer bons agrupamentos
Veja as dicas da professora Mara Mansani para colocar em prática o modelo

1. Faça um bom diagnóstico
É necessário que o professor conheça seu aluno e sua turma, então o processo começa fazendo um diagnóstico geral e de aprendizagem. Essa primeira etapa vai ajudar a entender quais são os gargalos dos estudantes, pontos em comuns e critérios para fazer o agrupamento.

2. Tenha um planejamento das atividades de agrupamentos
Planejamento é a alma da sua aula. Não dá para chegar na sala e fazer tudo na base do improviso. Muitas perguntas, atividades e até mesmo a análise final podem ocorrer de forma espontânea durante o dia, mas é preciso se preparar para que haja uma proposta no que está sendo trabalhado. Dentro desse planejamento, está também a escolha de critérios para agrupamentos dos alunos.

3. Faça intervenções pedagógicas
Enquanto os alunos estão trabalhando em uma atividade e discutindo as possibilidades, é essencial que o professor passe pelos grupos e faça intervenções pedagógicas. “Isso não significa fazer perguntas com respostas, mas boas perguntas, que colaborem com a aprendizagem dos alunos”, pontua Mara. “Por que você escreveu assim?” e “como chegou nessa resposta?” são alguns exemplos.

4. Analise e sistematize
“Não é no final do processo, mas no andamento, em todo tempo”, sugere a professora. Só sistematizando o que deu certo e o que não deu é que o docente pode identificar o que melhorar para replicar numa próxima. Tenha em mãos um caderno para anotar seus comentários e depois faça uma análise das atividades da turma.

5. Replaneje sempre
Com informações nas mãos, é a hora de replanejar, pensar novos caminhos ou em como aprimorar o modelo para sua turma e, assim, alcançar a aprendizagem para todos.

Estrutura física colabora com os agrupamentos da escola
Em Manaus, na escola de Lúcia, os alunos não se organizam mais em fileiras, um atrás do outro, como tradicionalmente. Todas as salas têm mesas redondas, uma estrutura física que já convida os alunos a se sentarem em grupos. No início do ano, eles escolhem onde querem sentar. “Mas, ao longo dos meses, nós vamos observando o andamento dos grupos e se verificamos a necessidade de uma mudança e também ouvimos os alunos [nesse processo]”, explica a gestora escolar.  “Pra gente é um sucesso trabalhar em grupos e roteiros pois temos uma comunidade escolar diversa”.

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O processo de escuta é importante, segundo Lúcia, para que o aluno se sinta acolhido, pertencente ao processo e, por consequência, incentiva também a participação e engajamento dele no grupo. “Nós temos uma assembleia, que acontece uma vez na semana para discutir com eles algum ponto que levantam, temos a autoavaliação, em que eles se avaliam, mas também avaliam o grupo: o que está faltando? Como posso contribuir? Além disso, temos as tutorias, que são conversas individuais”, conta.

Lúcia também não deixa de lado o fato de que os grupos trabalham conteúdos que estão conectados com a vida dos alunos e fazem parte de um currículo contextualizado. “Todo esse processo unificado faz com que a aprendizagem das crianças aconteça, diminui as diferenças e nos ajuda a enxergar mais estratégias para aprimoramento”.

Agrupamento em toda a escola
Além de servir como um trabalho para uma sala de aula, os agrupamentos podem ser uma forma de organização para toda uma escola – processo que a EE Professora Laila Gales Sacker já vivenciou. “Nós já temos um processo de avaliação bem forte e no ano passado levantamos habilidades aprendidas e não aprendidas e preparamos um Dia D dos agrupamentos”, relembra Mara.

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Na data, a professora conta que todos os alunos, do 1° ao 5º ano, foram divididos em grupos por temas que tinham dificuldades. “Mapeamos quais crianças precisavam se aprofundar em alfabetização, quais não produziam texto na qualidade esperada e quais tinham desafios na resolução de problemas, por exemplo, e usamos como alguns dos critérios para divisão dos grupos”, explica Mara. O resultado foi positivo: os alunos conseguiram aprender e avançar com colegas de diferentes salas trabalhando em atividades que envolviam variedade de linguagens e metodologias também.

Para garantir o engajamento da turma, Mara sugere que os professores trabalhem usando as áreas de interesse dos alunos e atividades com desafios. Pensando em 2021, Adriana indica que as escolas têm a oportunidade de se reinventar para garantir a participação e engajamento dos estudantes nesse formato de aula. “Mesmo os que tiveram mais dificuldade, vivemos o processo de inserção e socialização conectiva neste ano, então o aluno vai voltar com isso muito mais forte”.