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Retomada das atividades na Educação Infantil: 10 dicas para apoiar seu planejamento

O que considerar ao pensar atividades em 2021 para os pequenos? Inspire-se com as indicações do professor Evandro

POR:
Evandro Tortora
mulher e criança brincando com tinta guache
Foto: Getty Image

Nossas férias chegaram ao fim e mais um ano letivo se inicia. Depois de um 2020 tão atípico, nos encontramos em um ano, mais uma vez, cheio de desafios para a Educação, em especial, para Educação Infantil. De volta a rotina, começamos a planejar nossas ações em diferentes contextos. Muitos de nós permanecerão em trabalho à distância com as crianças e teremos o desafio de criar vínculos com as famílias por meio de interações não presenciais.

Neste texto, gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre a retomada das atividades para 2021, levando em conta o que vivemos no ano passado. Vamos lá?

1) Dedique um tempo para conhecer a forma como as famílias vão interagir com você
É preciso pensar no contexto familiar que nossas propostas vão ser acolhidas. Nossa relação com as crianças será mediada pelos celulares ou computadores das famílias, em outros casos, na ausência destes recursos, ele pode ser dar por meio de recursos impressos ou outros materiais.

Por isso, é importante conhecer qual a melhor forma de se comunicar com as famílias. No último ano, professoras e professores foram muito criativos e me relataram experiências vivenciadas por meio de materialidades enviadas para as famílias super diversos (galhos e folhas do parque da escola, impressões, tintas, massinha, etc.) ou pela utilização das redes sociais distintas, como Facebook, Whatsapp, Tiktok, Instagram etc.

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É importante conhecer a melhor forma de se comunicar com todos, afinal, ninguém pode ficar para trás, não é? Ao conhecer a melhor forma de interagir, você pode pensar no recurso que é mais acessível para maioria e considerar algumas especificidades que podem vir do grupo para que todos possam ter condições de ouvir você e serem ouvidos.

2) Conheça as expectativas das crianças
É tempo de conhecer as crianças, assim como acontece em todo inicio de ano. A princípio, boa parte de nós terá interações com as crianças pelo celular, logo, seria legal ter uma conversa com os pequenos para se apresentar, falar um pouquinho de si e conversar informalmente.

Logicamente, a presença de um responsável é essencial nesse momento. Aproveite o papo para perguntar com ele (ou ela) sobre como a criança passa seu tempo em casa, se ela tem alguma expectativa em relação a escola, do que gosta de brincar... Enfim, essas são perguntas que podem direcionar interações futuras com os pequenos.

3) Planeje considerando o contexto familiar
Uma série de fatores podem influenciar na sua interação com as famílias, dentre eles a própria rotina familiar. Pense que, agora, os pais e responsáveis precisam dedicar um tempinho diário às crianças e a escola no seu dia a dia, diferentemente da época (não tão distante) em que as elas ficavam um período na escola sob a supervisão dos educadores.

Portanto, é importante conhecer a disponibilidade das famílias para interação e entender quais são as possibilidades de interação. É preciso ser sensível a estas demandas e ter expectativas plausíveis com a realidade de cada casa e dar atenção individual sempre que necessário.

4) Pense em recursos que estejam acessíveis, considerando que as experiências das crianças acontecerão dentro de casa
Ao planejar momentos em que as famílias vão compartilhar a rotina, o que pode gerar experiências interessantes para as crianças, leve em conta que os recursos de casa são mais limitados do que os da escola. Parece óbvio pensar nisso, mas não é! A depender do contexto das crianças, elas podem não ter materiais para fazer pinturas e colagens de acordo com o nosso planejamento.

A princípio, considere o que os pequenos têm ao seu acontece nas vivências do dia a dia para iniciar suas interações com elas. Morando numa casa, onde há um quintal em que pode fazer brincadeiras, talvez seja interessante propor atividades nesse sentido, por exemplo.

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Quando falamos de outros recursos, como papeis, tintas, massinha, várias colegas, ao longo do ano passado, montaram kits de materiais e enviaram as crianças. No meu caso, ao invés de enviarmos materiais, organizamos uma escala em que as famílias foram à escola buscar os materiais. É uma ação a ser considerada!

5) Estabeleça combinados com as famílias logo nos primeiros dias
Para que tudo isso funcione, é importante que as famílias estejam cientes do papel da escola e da forma como vamos desenvolver nosso trabalho. Portanto, logo no início do ano é importante reunir os familiares, conduzir uma conversa sobre como é o planejamento nesse período de pandemia e estabelecer alguns combinados.

Possibilite que as famílias também falem e possam construir esses combinados contigo. Porém, não espere que todos falem desses combinados logo no primeiro dia, pois, diferentemente das crianças, os adultos costumam ser um pouco mais inibidos nesses momentos. Estimule a proposição desses combinados com o passar do tempo e é importante ser flexível quanto a eles, quando necessário.

6) Planejar vivências diversas considerando uma mesma intencionalidade
No ano passado, eu percebi um movimento interessante entre as famílias. Ao sugerir dois tipos de vivência, vou chamar aqui de vivências A e B, um grupo participava mais da A, outro mais da B, alguns participavam das duas e outros de nenhuma.

Nesse ano, vou sugerir algumas interações com os pequenos que abordem temáticas semelhantes e têm a ver com meus objetivos. Por exemplo, ao sugerir vivências com água e experienciar suas transformações, posso sugerir uma brincadeira de congelar um objeto pequeno num recipiente com água ou sugerir uma receita de suco em que seja colocado gelo dentro dele para vê-lo “sumir”.

Minha intenção aqui é pensar em vivências em torno do mesmo objetivo e possibilitar uma maior interação das famílias de acordo com suas características, como disponibilidade de recursos e tempo para isso.

7) Faça um arquivo pessoal para guardar os registros das crianças
Um erro que cometi no ano passado foi não arquivar algumas imagens e mensagens das crianças desde o início do atendimento remoto. Perdi muita coisa! Nesse ano, sugiro abrir uma pasta no seu computador e fazer um back-up dessas preciosidades.

De certa forma, esses arquivos compõe a documentação pedagógica das crianças e tê-los guardados facilita a avaliação das ações ao longo do ano. Junto desse arquivo, abra um documento de texto para registrar interações diárias dos pequenos para que nada se perca e você tenha a possibilidade de consultar esses registros para planejamentos futuros. Falei sobre o assunto em um dos meus textos aqui.

8) Não deixe de discutir a volta das atividades presenciais
Espero que, quando tudo estiver seguro suficiente, possamos todos e todas voltarmos as atividades presenciais. Por tanto, não deixe de opinar sobre isso considerando o que estudamos sobre Educação Infantil. Muitos que discutem a volta às atividades presenciais mal conhecem a nossa realidade e propõe algumas medidas incabíveis que cabe a nós, professores, mostrar sua inviabilidade.

Portanto, não deixe de participar dos debates sobre a retomada presencial das atividades tendo argumentos pedagógicos que prezam pelo bem-estar das crianças e dos profissionais que trabalham nas escolas. 

9) Aprenda com o que deu errado e o que deu certo
Eu me lembro bem de vivências que foram um sucesso com as crianças em 2020, como plantio do feijão ou fotografar os animais de estimação da turma, e o que deu bem errado, como pedir para fazer um vídeo contando uma história... Por que algumas coisas funcionaram e outras não? Já tenho vários indícios!

Acho importante aprender com o que deu errado no passado para olhar para o futuro. O que aconteceu em 2020 que não foi bem recebido pelas famílias ou crianças? O que pode ter acontecido? Faça uma avaliação das ações de 2020 e tente utilizar essas informações ao propor experiências para a turma em 2021.

10) A avaliação precisa ser um processo constante
Avaliar na Educação Infantil tem suas peculiaridades e, assim como defende-se em outras etapas da Educação Básica, é importante ter um planejamento flexível e rever suas ações caso não estejam afetando as crianças da forma esperada.

Avaliando minha prática, por exemplo, percebi que não adianta permanecer insistindo numa vivência que tome muito tempo fora da rotina das famílias. Direcionar ações pensando nessas percepções fazer parte das nossas avaliações.             

Enfim, essas são orientações para o ano seguindo meu planejamento inicial em 2021. Uma entrevista individual pode ser um bom caminho para conversar com as famílias sobre os assuntos aqui abordados.

Aqui na minha rede já se cogita uma retomada das atividades presenciais, porém, até lá continuaremos seguindo com as propostas remotas. Espero que tudo se desenhe de uma forma que preze pela saúde de todos sem desconsiderar as especificidades educacionais dos bebês e das crianças pequenas pelo Brasil todo.

Um abraço carinhoso e até breve!

Evandro

Evandro Tortora é professor de Educação Infantil há 7 anos na Prefeitura Municipal de Campinas, licenciado em Pedagogia e Matemática e doutor em Educação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru. Além da docência na Educação Infantil, tem experiência com pesquisas na área da Educação Infantil e Educação Matemática, bem como desenvolve ações de formação continuada para professoras e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

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