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O que é homologia de processos e como utilizá-la na formação para o ensino híbrido?

Entenda como a estratégia pode enriquecer os encontros formativos e conheça a experiência de uma escola pública

POR:
Rosi Rico
Crédito: Getty Images

Muito se tem falado do ensino híbrido como caminho para planejar aulas mais dinâmicas e que coloquem o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Como todo conceito novo, as dúvidas se multiplicam e a maioria dos professores está tentando entender o que são os modelos híbridos e como os colocar em prática. Para colaborar neste processo, os coordenadores pedagógicos têm papel fundamental, uma vez que conduzem as formações continuadas dentro das escolas e podem, portanto, colocar o assunto em pauta. Mas, como fazer isso?

Um caminho possível é a homologia de processos, termo cunhado pelo pedagogo estadunidense Donald Schön, que propõe aproximar a formação vivida pelos docentes à forma com que eles vão trabalhar com os estudantes em sala. “Schön defende a ideia de que é necessário que o professor vivencie, durante o processo de formação, atitudes, valores, procedimentos e modos de organização que, de alguma maneira, reflitam na sua prática pedagógica”, explica Lucinha Magalhães, especialista em coordenação pedagógica e gestão educacional e escolar da Comunidade Educativa CEDAC. 

A proposta é, ao atuar com os professores, o gestor utilize algumas estratégias que ele pretende que sejam incorporadas ao fazer do docente. Assim, além de apostar no aprimoramento da experiência prática, a formação ganha em coerência. “É para pensarmos: se desejamos que crianças, adolescentes e jovens sejam protagonistas da aprendizagem e tenham um papel ativo na construção do conhecimento, é importante que a gente assegure também esse lugar para os professores”, afirma Lucinha. “Ao ocupar esse lugar de sujeito da própria formação, a chance dele estar atento para as metodologias e para o protagonismo de seus alunos é maior”, completa.

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Neste curso, gestores escolares refletem sobre a importância das formações e da escolha dos temas abordados nesses encontros, analisam experiências de outros profissionais e veem de que forma contemplar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no trabalho coletivo.

A homologia de processos e o ensino híbrido

O ensino híbrido é composto por atividades presenciais e on-line integradas, no qual os recursos digitais são utilizados para coletar dados e informações que serão analisadas pelo professor com o objetivo de personalizar o processo de aprendizagem – para saber mais confira a Trilha de Ensino Híbrido. A homologia de processos entra como uma estratégia para apresentar as principais características dos modelos híbridos e como eles podem aparecer na prática docente. Dessa forma, a tendência é ficar mais fácil para a equipe docente compreender e adotar as ideias.

Um ponto central para aproximar a equipe docente do tema é o coordenador organizar a rotina formativa também de maneira híbrida, prevendo momentos formativos presenciais (se possível e com todos os protocolos de biossegurança) e outros virtuais - com atenção especial à integração entre eles, uma vez que essa é uma das principais características do ensino híbrido. Ele deve também compartilhar o planejamento: quais os critérios que utilizou para agrupar os professores, como ele fez a gestão do tempo, como definiu o foco, etc. “O professor verá todos os cuidados que o coordenador teve na preparação e na condução desses momentos”, comenta Lucinha.

Trilha Ensino Híbrido

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A experiência na prática

Na Escola Municipal Walmir de Freitas Monteiro, em Volta Redonda (RJ), a formação para o ensino híbrido começou em 2019 de forma presencial. A escolha inicial foi por estudar o modelo de sala de aula invertida. Dentro dessa estratégia, o aluno tem o contato inicial com conteúdo em casa por meio de materiais enviados pelo professor, em sala, ele tira dúvidas e faz atividades para aplicar o conhecimento. Para apresentar para os professores, a lógica é a mesma.

O objetivo da formação na escola era de aproximar os educadores da prática e planejamento de atividades no modelo da sala de aula invertida, e refletir sobre como utilizar recursos digitais nas aulas.

Para começar, as supervisoras educacionais enviaram materiais de referência para a equipe docente – como textos teóricos e vídeos de escolas que aplicam o ensino híbrido, por exemplo – e pediram para todos prepararem sugestões sobre como colocar em prática os modelos. 

Nas reuniões pedagógicas semanais, foram agrupados educadores de componentes curriculares diferentes, mas que atuam no mesmo ano. Nesse momento, eles deveriam discutir, trocar, analisar e avançar na elaboração de propostas. “Esse tipo de grupo permite que, além do professor não trabalhar sozinho, sejam criadas propostas interdisciplinares”, conta Regina Coeli, supervisora educacional da escola. Para esses momentos, a sugestão de Lucinha é o gestor pensar previamente nas dificuldades dos educadores e nas intervenções que ele pode fazer. “Da mesma maneira que o docente precisa pensar no aluno para o planejamento em sala”, explica.

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Para dar continuidade à formação, as gestoras da escola Walmir de Freitas Monteiro utilizaram ferramentas digitais de trabalho colaborativo para registrar e complementar o que foi trabalhado durante o encontro. “Vamos construindo os documentos em parceria”, completa Patrícia Costa, também supervisora da instituição.

Elas contam que a proposta formativa tem sido bem aceita pela equipe docente. “Eles se preparam antes e, no dia dos encontros, trazem perguntas, apresentam sugestões e participam das atividades”, afirma Regina. “A maioria se envolve tanto que aqueles mais resistentes acabam sendo envolvidos pelos outros e não têm alternativa a não ser participar também”, comenta

A importância de analisar a própria prática

Para complementar a estratégia de homologia de processos, é essencial o gestor criar oportunidades para os docentes desenvolverem a capacidade de entender e avaliar o conhecimento construído. “O coordenador precisa desenhar situações em que, intencionalmente, os professores possam investigar, problematizar, discutir e refletir a prática pedagógica. Assim, eles também estarão mais atentos à maneira como seus alunos aprendem e poderão pensar em como coloca-los para refletir o próprio fazer”, explica Lucinha. Na prática, o objetivo é fazer das situações de formação um espaço de compartilhamento e troca, em que se explicitem os desafios. “Os erros devem ser vistos como caminho necessário para o avanço da compreensão da própria prática”, diz Lucinha.

O resultado na aprendizagem dos alunos ainda será avaliado. Em 2020, as gestoras planejavam avançar nos estudos sobre ensino híbrido, mas veio a pandemia. “Estávamos no processo de entender outros modelos, como o de rotação por estações. Mas tivemos de restringir as estratégias utilizadas nas aulas porque o presencial era essencial para ela ser mais eficaz”, explica Regina. “Quando fomos para as aulas remotas foi necessário relembrar o que havíamos estudado para pensarmos em como adaptar as estratégias para o contexto só on-line”, complementa Patrícia.

De qualquer maneira, elas comemoram o aprendizado dos educadores em relação ao uso de tecnologia. “A gente estava propondo mudanças, tentando incorporar os recursos digitais aos poucos. Com as aulas remotas, isso foi mais rápido do que pensávamos”, diz Regina. “Agora é avançar. Não podemos voltar a ser como era, por isso precisamos continuar estudando e buscando ressignificar a prática pedagógica”, afirma Patrícia.

Um desafio no horizonte das gestoras, além de dar continuidade ao estudo sobre os modelos, é repensar como ficam as avaliações dentro do ensino híbrido e como ter uma avaliação coerente que valorize o processo do aluno. “Todo o processo avaliativo precisa ser repensado. Como dou uma aula dinâmica, faço planos com sala de aula invertida, trabalho com jogos e depois realizo uma avaliação tradicional?”, questiona Regina.

Mais uma vez, a estratégia pode ser utilizar a homologia de processos. A gestão pode, por exemplo, construir coletivamente, durante os encontros formativos, rubricas para avaliar o trabalho do professor e, assim, mostrar a eles como funciona este tipo de instrumento e quais são as vantagens dele, como permitir estabelecer critérios claros de avaliação e níveis de gradação de desempenho. “Começamos a fazer isto, mas foi preciso parar o processo por conta da pandemia”, relembra Patrícia.

Dicas para preparar a formação

Para ajudar coordenadores pedagógicos, ou supervisores educacionais, reunimos algumas sugestões de Lucinha Magalhães, do CEDAC, e Sonia Guaraldo, consultora pedagógica e especialista em formação continuada. São pontos que devem ser considerados na elaboração de projetos formativos seguindo a lógica de homologia de processos.

- Faça um estudo prévio sobre ensino híbrido para elaborar as formações e poder oferecer caminhos e propor estratégias. Mas, lembre-se que o coordenador não precisa saber tudo para dar início ao processo formativo. Você pode deixar claro para a equipe docente que também está aprendendo;

- Explique o processo formativo para os professores, identifique o que eles já sabem sobre ensino híbrido – quais pontos são mais sensíveis e geram mais dúvidas? – e construa a pauta com base nas necessidades da equipe;

- Assegure coerência entre objetivos e estratégias utilizadas. A escolha da estratégia formativa é sempre intencional;

- Se a opção for seguir a dinâmica de sala de aula invertida, planeje para que os conteúdos teóricos ou expositivos sejam assimilados de maneira independente pelos professores. Assim, eles vivenciam questões importantes para o ensino híbrido, como autonomia por meio do controle de tempo, lugar e ritmo;

- Organize os momentos de orientação ou de instruções de forma on-line. Certifique-se de haver uma integração coerente entre as atividades propostas para os momentos presenciais e aqueles em casa;

- Reserve os momentos presenciais para a aprendizagem ativa: promova discussões ou atividades de desenvolvimento de sequências didática ou projetos, por exemplo;

- É essencial promover reflexões sobre a vivência do grupo e as aprendizagens, não só do conteúdo elaborado coletivamente, mas também da maneira como ocorreu a formação. Sistematize e compartilhe os aprendizados;

- Acompanhe a análise das experiências vividas em sala de aula. Avalie esses resultados e compartilhe com a equipe docente.

- Planeje os próximos passos da formação e valide com os professores – ou proponha uma construção conjunta.  

- Registre o processo e os aprendizados seus e de sua equipe. Assim, você vai construindo o histórico da escola, que pode ser consultado e avaliado periodicamente. 

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