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Coordenadoras pedagógicas dão dicas de como preparar uma formação a distância

Orientar e apoiar os professores no ensino remoto é uma das tarefas mais essenciais e desafiadoras da coordenação

POR:
Dimítria Coutinho
Crédito: Getty Images

A pandemia da covid-19 tem exigido das escolas grande capacidade de adaptação, e não apenas das aulas, que passaram a ser remotas. O processo de formação continuada dos professores, conduzido pelos coordenadores pedagógicos, também teve que se adequar ao contexto digital e responder a importantes demandas que surgiram com essa mudança.

Além do formato, os assuntos trabalhados nas formações também mudaram: as dificuldades em lidar com os recursos digitais, o estado emocional da equipe pedagógica e os desafios do ensino remoto passaram a constituir a pauta dos roteiros dos coordenadores. Com toda essa revolução, as formações estão sendo momentos ainda mais essenciais para o funcionamento das escolas, trazendo apoio aos professores para garantir a efetividade do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes.

“Foi tudo muito novo, e a gente buscou atender os professores tirando dúvidas e fazendo junto com eles. Nesse momento, fomos aprendendo a buscar para poder responder à necessidade do professor junto ao nosso aluno”, conta Arleide Hilário Freitas, coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Verônica Pereira de Araújo, em Pindoretama (CE).

A mais de três mil quilômetros de distância, a dificuldade sentida por Camila Giovana Flaibam Meneghin foi a mesma. Coordenadora pedagógica do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) Patativa e do CEMEI Professora Maria Stella Longo Leme de Calaes, em Itatiba (SP), ela ressalta que, com as mudanças, o trabalho das formações tem se tornado ainda mais essencial.

Trilha de cursos para coordenadores pedagógicos

São 60 horas de formação. O intensivo é dividido em dois cursos: Projeto político-pedagógico alinhado à BNCC e Coordenador Pedagógico: do planejamento à formação. Eles vão te auxiliar nos desafios de implementação da BNCC, na criação de rotinas de formação produtivas e na organização do trabalho pedagógico da escola.

“A gente está trabalhando de forma remota, e é importante todo esse apoio para planejar as atividades, verificar como elas estão chegando até os alunos e quais têm sido os retornos com as famílias e saber como vamos aprimorar esse trabalho. É um momento de sentir a necessidade da equipe, apoiar, trocar ideias e também replanejar as ações”, afirma.

Entender o contexto é fundamental
Diante de tantas mudanças e da grande importância das formações continuadas, qual é a melhor forma de prepará-las? De acordo com as três coordenadoras pedagógicas ouvidas pela reportagem, a principal dica para responder a essa pergunta é entender o contexto específico de cada escola.

Cada realidade é diferente e, embora haja um direcionamento das Secretarias de Educação municipais e estaduais, a demanda dos professores, dos alunos e do entorno escolar devem ser levadas em consideração ao preparar uma formação.

"Temos o suporte da secretaria do município, há formadoras que designam o conteúdo, e aí nós iremos atender às habilidades que precisamos trabalhar nesse momento, porque nem sempre as necessidades das escolas são as mesmas. Então, temos abertura do município para fazermos essas pequenas modificações”, relata Arleide.

Biblioteca para o Gestor Escolar

Acesse oferecer materiais formativos sobre os principais desafios que os educadores de todo o Brasil enfrentarão em 2021.

Para compreender as demandas específicas, é necessário estar próximo, estabelecer uma parceria com os professores e ter disponibilidade para ouvir suas principais dificuldades. “Eu tenho muito contato com os professores, e tentamos estabelecer muito essa parceria. É importante o olhar e a escuta atenta para a equipe”, destaca Camila.

Além desse contato próximo, os coordenadores também podem definir momentos específicos para que os professores exponham suas dúvidas e dificuldades. Maria Silvia Sentoamore Marchi, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Professora Leonor Chaim Cury, em Birigui (SP), conta que o planejamento do início do ano foi um bom momento para fazer esse mapeamento. "Pedi para eles elencarem suas maiores dúvidas, fragilidades e dificuldades, para que ao longo do ano o trabalho da coordenação pudesse suprir isso”, lembra.

Camila acrescenta que, nas formações, abre momentos para que as dúvidas sejam colocadas, haja troca entre a equipe e ela possa compreender melhor quais assuntos devem ser abordados. “Fazendo essa coleta de dados e tendo essa abordagem, consigo trazer algo de interesse do grupo, que seja relevante para todos", completa.

Outra dica trazida pelas coordenadoras é o uso de formulários online, como o Google Forms. Esse tipo de recurso digital é uma boa forma de mapear as dificuldades dos professores, bem como a opinião de cada um a respeito de determinado tema ou projeto.

Formação: Reaprendendo a aprender na pandemia

Confira materiais e sugestões de leituras que irão auxiliar em sua formação, enriquecer seus conhecimentos sobre alfabetização e letramento matemático e mostrar como o mundo acadêmico tem refletido sobre o atual momento da Educação.

Demandas dos alunos e famílias
Ouvir os professores é essencial para entender o que acontece dentro de sala de aula. Mas, além do olhar para os docentes, os coordenadores também precisam analisar o contexto escolar e acompanhar as demandas das famílias e dos alunos.

É com a compreensão do todo que o coordenador consegue abordar temas de impacto, que poderão atingir a escola por meio do trabalho dos professores. “De modo presencial ou remoto, acho que nossa função é essa: ser o articulador dentro da escola, dentro da prática pedagógica", comenta Camila.

Maria Silvia conta que sua escola voltou recentemente ao ensino presencial. Com o retorno, ela pediu para que os professores realizassem atividades com as crianças para resgatar como foi o ano pandêmico no ensino remoto. “Muitos [alunos] passaram por problemas econômicos, algumas crianças sofreram violência, tanto física quanto emocional, então os relatos estão chegando”.

Por meio dessas atividades, ela percebeu aspectos que devem ser trabalhados nas suas formações a fim de auxiliar os docentes. Com alguns relatos fortes dos alunos, ela notou que os professores precisam de apoio emocional para lidarem com uma questão tão complexa.

"Estamos inseridos em um bairro periférico, e nossa comunidade é muito carente. Nesse momento da pandemia, o professor está muito inseguro e com medo, não só por ele, mas também pela família. [Diante dos relatos,] o professor precisa dessa estrutura, ele precisa ser apoiado. Então é pegar no colo e dizer 'eu estou aqui do seu lado, nós vamos trabalhar juntos'. E depois vem a parte pedagógica, porque se você não está bem emocionalmente, você não consegue fazer o seu trabalho. Então, a formação também vem para isso. Acho que nesse momento todo mundo precisa de acolhimento”, ressalta a coordenadora de Birigui.

Propostas das redes de ensino
Arleide lembra que os temas trabalhados nas formações também precisam ter o respaldo do que é repassado nas formações da Secretaria de Educação. “O município dá um suporte, a gente não trabalha nada fora de contexto”, diz.

Além de mapear o contexto específico da escola, portanto, é essencial que os coordenadores pedagógicos insiram em seu planejamento também as temáticas propostas pela rede de ensino na qual a escola está inserida. Esses dois aspectos devem ser usados para planejar as formações a longo prazo.

Curso para coordenadores: métodos ativos para a formação de professores

No curso, serão abordados aspectos importantes de três estratégias formativas: como auxiliar o professor no planejamento de aulas (utilizando a perspectiva da metodologia de resolução de problemas), como promover a observação em sala de aula e como realizar a tematização da prática.

“Eu normalmente faço um cronograma de formação para um período. Eu verifico qual o tema, o tempo de estudo, se eu vou utilizar várias formações ou apenas uma, qual é o foco e qual é o meu objetivo. Eu faço um cronograma mensal e também bimestral para ir definindo esses temas. E precisamos primeiro saber onde queremos chegar para depois ir conduzindo todo esse trabalho e também para ficar algo contextualizado, com temas que se relacionam, e ter realmente uma sequência de estudo. Assim se torna mais significativo também", conta Camila.

De acordo com o feedback do grupo e dos resultados das formações no trabalho dos professores, o cronograma pode ser ajustado para melhor atender a realidade. Temas podem ser alterados, assim como o tempo estipulado para cada um deles.

E os mais diversos assuntos podem se tornar pautas de formações. No caso de Maria Silvia, as formações estão abordando competências relacionadas à Matemática, necessidade pontuada tanto pelos professores quanto pela rede de ensino. Na escola de Arleide, muitas formações foram usadas para capacitar os professores na parte tecnológica. Já Camila tem abordado assuntos como BNCC, currículo da Educação Infantil e estratégias de documentação pedagógica.

Planejamento e execução
Depois de captar as demandas e escolher a pauta de uma formação, é hora de montar o roteiro. E isso pode ser feito da forma que for mais fácil a todo o grupo docente. No caso de Maria Silva, os roteiros são feitos em uma estrutura de estudo, abordando a parte teórica e a parte mais prática por meio de atividades. Tudo é enviado para os professores por e-mail.

Já Camila optou por uma plataforma chamada Padlet, na qual ela disponibiliza as pautas previamente e deixa os conteúdos disponíveis para consultas futuras. Nos seus roteiros, ela costuma incluir materiais de apoio, como vídeos, podcasts, imagens e textos complementares ao assunto abordado na formação.

Com as formações acontecendo remotamente, as coordenadoras têm investido bastante no uso de plataformas digitais, tanto para viabilizar os encontros quanto para tornar os processos mais dinâmicos. Mas isso deve ser feito levando em consideração o contexto de cada escola. Arleide conta, por exemplo, que muitos dos seus professores não possuem notebook e participam dos encontros pelo celular - em casos assim, não vale a pena exagerar nas plataformas tecnológicas.

Curso gratuito: como apoiar a equipe no replanejamento contínuo

Este curso apresenta sugestões para os gestores elaborarem um instrumento de planejamento e traz indicações do que deve ser considerado para adaptar o planejamento a eventuais mudanças de contexto.

O Google Meets é a plataforma escolhida por Arleide para realizar as formações. Nele, ela consegue apresentar visualmente os conteúdos a todos os professores, mesmo os que acessam pelo celular. Outro recurso que ela utiliza em atividades e avaliações é o Google Forms, que também tem ajudado o trabalho dos professores.

Camila também aposta nos formulários online para captar as opiniões dos docentes sobre determinados temas e, depois, usar as respostas para fomentar discussões quando estão virtualmente reunidos. “Isso tem dinamizado bem esses momentos, e é onde dá para a gente perceber a ideia de cada professor”, comenta.

Para tornar as formações ainda mais dinâmicas e atrativas, principalmente no cansativo contexto digital, Camila usa o que ela chama de “aquecimento da conversa”. No início de cada encontro, ela traz algum conteúdo, que pode ser uma charge, um vídeo ou uma citação que tenha relação com o tema, e pede aos professores para compartilharem sua visão sobre o material.

“E aí eu apresento os objetivos, e a gente vai entrando no assunto. Muitas vezes, eu peço para que eles comentem sobre uma prática. Aí não fica só o coordenador falando, e esse momento acontece como troca e com bastante interação”, afirma.

Sugestões de recursos tecnológicos para usar nos encontros formativos remotos
Algumas plataformas podem ajudar, desde o mapeamento das atividades até as reflexões pós-formação. Confira algumas dicas: 

Google Meet: plataforma pode ser usada para sediar as reuniões. Nela, é possível usar recursos visuais, como apresentações, vídeos e imagens.

Google Forms: formulários online podem ser usados em diversos momentos do processo formativo: captar demandas dos professores, realizar atividades online, ouvir a opinião de cada um a respeito de um tema e coletar dados para abordar nas formações seguintes.

E-mail: o bom e velho e-mail também pode ajudar bastante nas atividades remotas. Ele pode ser usado para enviar previamente as pautas das formações e para receber devolutivas dos professores.

Padlet: a plataforma funciona como uma espécie de repositório. Ela permite armazenar formações, roteiros, pautas e conteúdos extras para consulta da equipe.

Podcasts, vídeos e links: com as formações remotas, também dá para apostar em conteúdos interativos e materiais de apoio que podem facilmente ser compartilhados com os professores.

WhatsApp: aplicativos de mensagem são essenciais para manter a comunicação com o corpo docente durante o período de distanciamento. Grupos da equipe e grupos com as famílias dos alunos podem ajudar a mapear dificuldades a serem abordadas nas formações.

Troca de experiências enriquece as formações
A troca de experiências entre os próprios docentes é outro aspecto que deve ser incentivado pelos coordenadores, pois é nesses momentos que os professores conseguem expor suas dificuldades, ajudar os colegas e serem ajudados. Nessas situações também podem surgir novas dúvidas, que se tornam temas de formações futuras ou de conversas particulares entre determinado professor e o coordenador. É aí que começa o processo de acompanhamento do corpo docente após uma formação.

Maria Silvia, por exemplo, pede um retorno de cada professor após a formação e, durante a semana, ela vai “aparando as arestas” em conversas particulares. "Quando eu percebo na devolutiva deles que as coisas não estão caminhando como eu gostaria, aí chamo esse professor pessoalmente e a gente tenta solucionar. Eu ofereço uma literatura com um pouco mais de profundidade para que ele chegue junto ao que a turma precisa", explica.

Arleide também usa bastante as conversas particulares para acompanhar o impacto das formações no trabalho dos professores. Além de dias da semana destinados para o acompanhamento de cada turma da escola, ela também está presente nos grupos online de cada sala com os pais dos alunos. Ali, ela consegue diagnosticar situações mais gerais e ajudar os professores individualmente.

Para Camila, é essencial construir uma parceria com toda a equipe, deixando cada professor confortável para tirar dúvidas. Assim, o acompanhamento do impacto da formação fica mais natural. “O acompanhamento é primordial, pois permite ver o que está sendo colocado em prática e se essa formação está fazendo diferença. É realmente ir trazendo algumas propostas para o professor refletir sobre a prática, aprender com o outro, revisitar as teorias e, a partir disso, aplicar aquilo que foi estudado", afirma.

Desde o momento do diagnóstico das temáticas abordadas até o momento de acompanhar o impacto dos estudos, o planejamento de uma formação é sempre um momento no qual o coordenador precisa ser empático e estar com o olhar e os ouvidos atentos para entender as demandas do entorno e respondê-las.

"É importante você se colocar ao lado do professor. Muitas vezes, o professor vê a gestão como alguém que sabe tudo, que tem todas as respostas, e não é assim. A gente está em busca, ninguém passou por uma pandemia, é um momento extremamente difícil. Você não é mais do que ninguém. Caminhar junto é essencial", orienta Maria Silvia.

Checklist para fazer uma boa capacitação a distância
O trabalho do coordenador enquanto formador pedagógico é constante e, portanto, é necessário bastante planejamento e escuta ativa

- Entenda o contexto: ouvir os professores, os pais, os alunos e o entorno da escola é fundamental para compreender quais temáticas devem ser abordadas durante as formações. Afinal, o objetivo é impactar de modo positivo toda a escola.

- Aceite ajuda: captar as orientações, dicas e direcionamentos vindos da rede de ensino ajuda, e muito, na hora de decidir os temas das formações.

- Planeje-se: é necessário agrupar as demandas que você diagnosticou, separar as formações em temas e planejar quantos encontros cada uma vai ter. É essencial que os assuntos abordados estejam relacionados de alguma forma.

- Tenha flexibilidade: apesar do planejamento ser essencial, continuar mapeando as dificuldades dos professores ao longo do processo é muito importante. É preciso saber onde se quer chegar e, para isso, talvez sejam necessárias algumas mudanças ao longo do percurso.

- Organize cada encontro: antes de dar uma formação, estude o tema e monte um roteiro para apresentá-lo. É importante que ele tenha partes teóricas e práticas.

- Mantenha seu professor informado: enviar as pautas de formações com conteúdos adicionais pode ajudar bastante o corpo docente e mantê-lo interessado.

- Utilize recursos tecnológicos: com as formações a distância, o uso de recursos tecnológicos pode tornar os encontros mais dinâmicos. Vídeos, áudios e imagens ajudam a tornar o momento mais acolhedor.

- Propicie trocas de experiências: seus professores têm muito a ensinar uns aos outros. Por isso, incentive que eles compartilhem ideias e vivências.

- Esteja presente: após as formações, mesmo remotamente, é fundamental que o coordenador esteja presente para acolher e acompanhar o trabalho dos professores. Assim, é possível reestruturar as demandas e planejar encontros individuais ou mesmo novas formações.

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