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Como usar livros do PNLD Literário com os alunos

Educadoras sugerem atividades para trabalhar leitura, interpretação de texto e reflexão crítica a partir de cinco obras oferecidas pelo programa nacional

POR:
Lucas Santana
Crédito: Getty Images

A leitura compõe uma das bases fundamentais da formação das crianças e dos adolescentes. Não apenas a leitura como capacidade cognitiva básica, mas também a habilidade de interpretação e reflexão crítica sobre o que se lê.

Nesse contexto, as obras literárias disponibilizadas pelo Ministério da Educação (MEC) à rede pública, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Literário – antigo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) –, são fundamentais para aumentar o acesso dos alunos à literatura e possibilitar o trabalho com a competência leitora. Os educadores podem explorar os potenciais pedagógicos, de leitura e análise crítica das publicações.

“O que muitos professores fazem é pensar na potencialidade do livro, qual a sua proposta e que possibilidades de brincadeiras ou atividades ele traz”, diz Eliana Borges Albuquerque, docente na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisadora do Centro de Estudos de Educação em Linguagem.

Explore diferentes gêneros literários para acolher os alunos

Memórias, autobiografias, diários, fábulas e contos podem ser o caminho para desenvolver habilidades de autoconhecimento, autocuidado, empatia e cooperação. 

A seguir, Eliana e as professoras de Língua Portuguesa Ana Claudia Santos, da Escola Estadual Padre Paulo, em Santo Antônio do Monte (MG), e Laura Aparecida Guimarães, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antenor Nascentes, em São Paulo, compartilham práticas com as obras do PNLD Literário. Essas atividades podem inspirar outros educadores e ser reproduzidas, tanto em aulas presenciais como no ensino remoto.

1. Os bichos que tive (memórias zoológicas), de Sylvia Orthof (Editora Salamandra)

Indicado para: Educação Infantil
A obra é uma coletânea de pequenas histórias, que narram as memórias de bichos de estimação. A sugestão é que o professor leia um conto por dia, acompanhando o clima expressivo da narrativa, com diálogos, situações de humor e alguma teatralidade.

Também é importante se preparar com antecedência, identificando trechos que podem ser de difícil compreensão para os pequenos e referências de época que precisam ser explicadas.

O trabalho pode começar com a capa do livro, que oferece elementos capazes de despertar o interesse das crianças. Alguns dos animais que serão os protagonistas dos pequenos contos já se mostram dividindo o espaço com o título e demais informações.

Algumas perguntas lançadas aos alunos podem desencadear a formulação de hipóteses sobre o que encontrarão no livro - por exemplo: Sobre o que serão as histórias deste livro? Quais bichos estão na capa? Eles são animais de estimação? Quem tem ou já teve um bicho de estimação?

O subtítulo também pode instigar a curiosidade das crianças, a partir de perguntas como: Quem sabe o que é um zoológico? E memória, o que é? Quando juntamos “memórias zoológicas” e “os bichos que tive”, o que isso quer dizer? Quem tem lembranças de bichos que já teve?

Para começar a abordar os contos pode-se usar o sumário, apresentando cada história, de forma a preparar os pequenos para o trabalho com a obra.

2. Telefone sem fio, de Ilan Brenman e Renato Moriconi (Companhia Das Letras)

Indicado para: Educação Infantil
Os livros de imagens, como Telefone sem fio, também contam ótimas histórias. Esse tipo de obra pode trazer grande contribuição às crianças em processo de alfabetização, já que possibilita uma participação criativa na produção dos sentidos, a partir da sequência composta pelas imagens. Os pequenos inventam e reinventam verbalmente o que as imagens lhes dizem.

Este livro também chama a atenção por suas dimensões fora do padrão, mesmo daquelas obras destinadas a crianças, que costumam ser maiores do que os livros direcionados a adultos.

A obra traz na capa um pirata, fazendo um gesto como quem está contando algo a alguém, mas com cuidado, usando a mão para encobrir parte da boca, de modo a não ser ouvido por outras pessoas. A relação entre o título e a ilustração favorece o início da conversa com os alunos sobre o livro e a preparação para a leitura.

Você pode perguntar: “Quem já brincou de telefone sem fio? Como é essa brincadeira?”. Se os alunos não a conhecerem, vale a pena fazer uma roda e brincar de telefone sem fio antes da leitura.

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3. A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga (Casa Lygia Bojunga)

Indicado para: 5º ano do Ensino Fundamental
A ideia é dividir os alunos em grupos e propor a leitura de um capítulo por semana. Após a leitura de cada capítulo, o professor pode promover uma conversa sobre as temáticas presentes no texto, como dificuldades vivenciadas pela família, conflitos entre irmãos e bullying.

A roda de conversa deve gerar momentos de troca entre os alunos. Ao final de cada sessão de leitura e conversa, você pode distribuir algumas questões sobre o capítulo da semana seguinte para estimular a reflexão e as discussões. Dez aulas devem ser suficientes para concluir a leitura de toda a obra e realizar a atividade.

4. Sete Monstros Brasileiros, de Bráulio Tavares (Casa da Palavra Editorial)

Indicado para: 9º ano do Ensino Fundamental
A proposta é que os alunos criem histórias a partir de acontecimentos do dia a dia e as relacionem às narrativas apresentadas no livro. Para isso, há cinco momentos didáticos que podem ser devolvidos:

1. Contação de histórias do imaginário popular: momento de escuta dos alunos para o professor sondar o interesse pela leitura e as analogias que são capazes de tecer.

2. Retextualização com apresentação de lendas e mitos da região: discussão em torno dos textos e comparações quanto à sua natureza -- suportes, domínios discursivos e gêneros textuais. Podem ser trabalhados o reconhecimento de intergêneros textuais e a relevância dos fatores de textualidade, como situacionalidade, informatividade, aceitabilidade e intencionalidade para a compreensão do texto.

3. Estudo da obra: apresentação do livro e contextualização da obra, tomando como ponto de partida as reflexões anteriores. O professor pode pedir para os alunos se organizarem em grupos e atribuir para cada um a leitura de um conto. Posteriormente, abrir momentos de discussão sobre a história e as impressões de cada um. Cada aluno deverá (re)significar o enredo, conferindo sentido de acordo com suas vivências.

4. (Re)criando histórias: produção de podcast e roteirização de storytelling, ou seja, recontar as histórias utilizando recursos audiovisuais. A partir do conto lido, os alunos poderão criar um episódio e cenários com a voz e/ou efeitos sonoros para mostrar a essência da releitura do conto.

5. Socialização dos textos: valorização do processo de escrita, criando condições para que os estudantes possam compartilhar seus textos com os colegas e percebam a si mesmos como autores.

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5. Vidas Secas, de Graciliano Ramos (Editora Record)

Indicado para: 9º ano do Ensino Fundamental
O livro pode ser utilizado para resgatar e valorizar a cultura nordestina. Por se tratar de uma leitura complexa, o professor pode desenvolver atividades com outras obras que retratam a mesma temática, paralelamente à leitura dos capítulos do livro.

Exemplos dessas obras são: a pintura Os Retirantes, de Cândido Portinari; a canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga; o poema em cordel A triste Partida, de Patativa do Assaré; e o curta-metragem de animação Vida Maria, de Márcio Ramos. O objetivo é que os alunos identifiquem os pontos de contato com a prosa de Graciliano Ramos e, desse modo, ampliem a compreensão do texto.

Como se trata de uma leitura densa, uma sugestão é reduzir o ritmo, intercalar leitura e discussão dos capítulos e, assim, conseguir maior participação e envolvimento dos alunos.

É possível ainda, incluir atividades de consulta ao dicionário, pois o vocabulário é muito peculiar da região retratada e pode ser desconhecido dos estudantes.

Na escolha das obras, é importante considerar o planejamento
No processo de definição das obras do PNLD Literário, o MEC considera as diretrizes curriculares, como as estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e a avaliação realizada por uma equipe pedagógica do Ministério. Após a seleção, uma lista é disponibilizada às escolas, que optam pelas obras que melhor se adequam ao seu planejamento.

Na escola de Ana Claudia essa escolha é realizada de forma colaborativa entre a equipe pedagógica. "Considero a faixa etária dos alunos e os temas que podem dialogar com a realidade deles", explica. A professora Laura faz um processo semelhante e destaca o cuidado para garantir a diversidade.

“Levamos em conta produções de autoras e autores indígenas e afrodescendentes, além de obras que abordam questões sobre gênero, entre tantos outros assuntos importantes de nosso tempo. Essas informações foram socializadas e acordadas e, a partir disso, decidimos ou não pela obra”. Para trabalhar esses títulos com os alunos, Ana Cláudia sugere começar buscando traçar relações entre a vivência da turma e a história do livro, e garantir no planejamento momentos de compartilhar as percepções sobre a leitura.

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