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Gestão escolar: Os impactos da pandemia e a reorganização da escola

Para recuperar as aprendizagens, diminuir as desigualdades e o risco de abandono escolar, Mozart Neves propõe cinco ações para repensar o trabalho na Educação

POR:
Mozart Neves Ramos
Crédito: Getty Images

Pesquisas buscam quantificar os impactos que a pandemia da covid-19 trouxe para a Educação. É o que investiga o estudo O impacto da pandemia da COVID-19 sobre os resultados dos estudantes brasileiros de educação básica do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (FGV EESP Clear). As redes de ensino também buscam avaliar as consequências da pandemia na aprendizagem dos alunos. O que esses e outros apontam é que houve um retrocesso na aprendizagem, aumento das desigualdades e do abandono escolar. Enquanto o governo prioriza nas discussões educacionais o homeschooling, a prioridade deveria ser a urgência de pensar em caminhos para minimizar os impactos que os estudos já apontam para a Educação.

Fizemos um esforço daquilo que era possível. Os educadores fizeram o possível e impossível para chegar nos seus alunos. Se nada tivesse sido feito e nenhum aluno tivesse tido nenhum tipo de trabalho, as consequências seriam muito mais graves. No entanto, não foi isso que aconteceu. Cada escola brasileira reagiu e se organizou da forma que conseguiu. Agora, é urgente entender o tamanho do problema e pensar em caminhos. Dentro desse trabalho, penso que será necessário organizar o trabalho em cinco frentes:

1. Oferecer os recursos materiais necessários: A oferta e acesso ao ensino remoto, pelo seu caráter emergencial, foi muito irregular. Com isso, as desigualdades que já existiam se aprofundaram. Não tivemos uma preparação das pessoas envolvidas nem o material ideal. Falamos que a tecnologia veio para ficar e que a pandemia acelerou esse processo na Educação. No entanto, para que isso seja verdadeiro e feito com qualidade, devemos pensar na formação dos professores para essas novas metodologias e ferramentas digitais, e em criar materiais didáticos que sejam pensados também para o trabalho on-line (ou remoto), que seja mais autoexplicativos e ajudem o aluno a estudar de forma autônoma.

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2. Planejamento articulado: Quando imaginamos o currículo contínuo 2020-2021 no Conselho Nacional de Educação, não imaginamos que em 2021 não teríamos voltado para o presencial. Hoje enfrentamos um cenário ainda mais desafiador, em que acumulamos defasagens de 2020 e, muito provavelmente, de 2021. Mais do que nunca será fundamental ter avaliações diagnósticas para entender o fosso que enfrentamos.

Além disso, precisamos pensar em um planejamento de 3 anos em 2 - considerando o cenário em que a Educação será priorizada na vacinação, possamos retornar no 2º semestre deste ano e tenhamos um 2022 100% presencial. Diante desse cenário, precisamos pensar na flexibilização dos currículos e muito trabalho de planejamento e replanejamento dos anos letivos.

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Entenda como os gestores escolares podem ajudar a elaborar um instrumento de planejamento que inclua informações importantes e o que deve ser considerado para adaptar o planejamento a eventuais mudanças de contexto, como a escola iniciar o ano com o ensino remoto e depois migrar para o presencial, ou vice-versa. 

3. Foco nas aprendizagens essenciais: Em diálogo com o ponto anterior, também vale destacar a necessidade de focar naquilo que é fundamental para que o aluno aprenda. Não dá para acreditar que vamos conseguir dar todos os conteúdos que estavam previstos. Temos que qualificar aquilo que oferecemos para os alunos e selecionar os mais relevantes. Neste trabalho, a Base Nacional Comum Curricular será a grande bússola do trabalho pedagógico.

4. O aluno de tempo integral: É preciso ter na escola um projeto pedagógico na escola que pense o aluno em tempo integral. Isto é, organizar planos de aprendizagem que utilizem o contraturno para oferecer atividades complementares focadas nas habilidades em defasagem. Dentro dessa ação, é fundamental organizar avaliações diagnósticas regulares para acompanhar o resultado das ações. Neste ponto, a gestão escolar terá um papel fundamental para conseguir articular e organizar esse trabalho na instituição.

5. Regime de colaboração: as redes não vão conseguir enfrentar esse problema sozinhas, muito menos cada escola individualmente. É necessário organizar um trabalho colaborativo entre os estados e municípios, os institutos e fundações, e a sociedade civil como um todo. Precisamos de uma articulação nacional.

Imagino que poderia ser criado um observatório nacional de aprendizagem, abandono e desigualdade. Ele reuniria pesquisas e avaliações diagnósticas que ajudassem a monitorar os impactos da pandemia, e teria um espaço de troca de experiências exitosas entre os municípios e estados para recuperar as aprendizagens. Seria um espaço que articularia ações para um enfrentamento nacional dos desafios que a pandemia trouxe para a Educação.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto. Engenheiro químico de formação, possui doutorado e pós-doutorado na área, além de grande trajetória no Ensino Superior. Foi professor, pró-reitor acadêmico e reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente é membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna. Eleito pela Revista Época como uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2008, também foi considerado Educador Internacional do Ano, em 2005, pela IBC Cambridge. Mozart atuou como secretário de Educação de Pernambuco, foi presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) e presidente-executivo do Todos Pela Educação. Também é autor dos títulos “Educação brasileira: uma agenda inadiável” e “Educação sustentável”.

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