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História do dinheiro estimula alunos a pensar sobre Educação Financeira

Assunto recorrente nas aulas de História e Matemática, a viagem ao passado de cédulas e moedas serve de base para compreender valores e o uso consciente do dinheiro

POR:
Dimítria Coutinho
Thiago Lopes/Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA 

Em um piscar de olhos, transações financeiras são realizadas. Afinal, para comprar qualquer coisa, basta um clique, fazer um Pix ou aproximar o celular da maquininha de cartão. As cédulas e moedas estão sendo trocadas por outras formas de pagamento quase instantâneo, mas o processo até que elas surgissem foi longo. No início da civilização, todo o comércio era baseado no escambo, ou seja, na troca de mercadorias. Esse sistema deu origem às moedas-mercadorias e, no século VII a.C., na região da Lídia, onde hoje é a Turquia, surgiram as primeiras moedas.

Atualmente, o dinheiro tornou-se virtual, mas a percepção de valor monetário continua sendo a base para o consumo consciente e a Educação Financeira. “A construção do significado de dinheiro passa pela compreensão do próprio sistema de numeração. As trocas entre unidades, dezenas e centenas de moedas e cédulas fazem com que os valores se tornem perceptíveis pelos estudantes”, diz Fernando Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores de NOVA ESCOLA e consultor pedagógico desta série de reportagens sobre Educação Financeira. 

A história do dinheiro acompanhou a nossa ao longo dos séculos, o que faz com que o assunto possa ser relacionado com diversas épocas. “Independentemente da questão social e econômica, os alunos têm uma ideia de compra, venda e valor desde cedo. Não é difícil descobrir algo a respeito da vivência deles, que você puxa como um fio condutor para os conteúdos”, comenta Michele Cristina Alves Bento, professora do 2º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal de Educação Básica Nicéa Hirota da Silva, em Registro (SP).

Além de relevante, o tema também desperta curiosidade em crianças e adolescentes. “Quem não gosta de dinheiro, não é?”, brinca Elisa Vilalta, professora de História dos Anos Finais do Ensino Fundamental nas redes pública e privada de Maceió (AL), com 30 anos de experiência como professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. “Os alunos se interessam em pesquisar sobre o assunto, que chama bastante a atenção deles”, garante a docente, que também é integrante do Time de Autores de NOVA ESCOLA. 

O passado aplicado ao presente

“Pensar desde o escambo até a origem das moedas faz parte do caminho para que o aluno entenda o mundo financeiro de hoje”, afirma Fernanda Erculano, professora de Educação Financeira do Ecossistema de Aprendizagem Inovador. Em sua disciplina eletiva de Educação Financeira, ministrada de forma online em escolas espalhadas pelo Brasil que adotam esse sistema de ensino, ela aborda as criptomoedas no Ensino Médio. “Tudo o que é atual é mais atraente para o estudante. Na aula, ele é instigado a pesquisar sobre as criptomoedas existentes para discutir a diferença entre elas e como são aceitas”, comenta.

Fernanda afirma que os jovens conseguem traçar paralelos entre os períodos históricos e os hábitos atuais, o que abre espaço para introduzir outros temas ligados à Educação Financeira nas aulas. “Pense, por exemplo, na época do escambo, quando as pessoas trocavam os produtos. Hoje, muitos profissionais trocam serviços entre si”, exemplifica, demonstrando como o assunto pode render uma conversa sobre economia colaborativa.

O dinheiro e a sua origem são um tema tão versátil, que pode ser trabalhado desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. As professoras falam das vantagens de estimular pesquisas pelos próprios alunos. “É essencial favorecer o protagonismo: são eles que precisam pesquisar, chegar às conclusões e apresentá-las, o que também favorece a oralidade. O professor fica nos bastidores, é o mentor”, explica Elisa.

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o reconhecimento de cédulas e moedas pode partir de atividades práticas e lúdicas. Para Michele, esse é um ótimo caminho para introduzir conteúdos matemáticos. “Às vezes, a criança tem uma ideia de soma e de subtração com o uso do dinheiro e não tem com a numeração, porque as cédulas e moedas fazem parte da vida dela, é a Matemática na vida real”, comenta. A professora aconselha adotar dinâmicas nas quais as crianças consigam se enxergar na situação apresentada. “Naturalmente, você vai contextualizar a história do dinheiro com a vida diária dos alunos, para que eles entendam a proporcionalidade dos valores, questões de cálculo mental e situações-problema”, exemplifica.

Do lado histórico, Michele comenta que gosta de relembrar a própria infância, quando a moeda vigente era outra. Para Elisa, uma das principais práticas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é construir uma linha do tempo conjunta. Ela sugere que o professor divida a turma em grupos para que cada um deles pesquise parte da história do dinheiro, reunindo o resultado em uma grande linha do tempo. Histórias em quadrinhos ou esquetes de teatro sobre as pesquisas realizadas também são opções que envolvem criatividade. Outra possibilidade é a contação de histórias. O site do Banco Central indica alguns vídeos e livros infantis sobre o tema. Elisa já trabalhou com esses materiais em sala de aula e comenta que o resultado é interessante.

Já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, a parte matemática pode ficar ainda mais atrelada à Educação Financeira com a abordagem de temas mais amplos, como a inflação. Também dá para inserir o dinheiro em cálculos mais complexos, a exemplo da conversão de moedas de diferentes países. Na abordagem histórica, as práticas com linha do tempo podem continuar, mas com pesquisas mais independentes, aconselha Elisa. “Os alunos podem construir planisférios mostrando as moedas de cada país e fazer mapas mentais com suas conclusões sobre cada tópico da história do dinheiro”, sugere a professora.

História, Matemática e muito mais

Os componentes curriculares que mais se beneficiam da temática do dinheiro são História e Matemática, mas isso não significa que outras disciplinas não possam abordá-lo. “Quando você atua de forma interdisciplinar, atribui mais sentido aos conteúdos”, comenta Ricardo Jonard, professor de História dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e coordenador de projetos na Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Quatis (RJ).

Logo cedo, na alfabetização, essa parceria entre áreas do conhecimento mostra sua importância. “Às vezes, pensamos que a alfabetização só se remete à Língua Portuguesa, mas a alfabetização também é Matemática. E quando eu falo de sistema monetário, também falo de História e Geografia”, afirma Michele. Essa abrangência deve continuar também nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, trazendo diversos componentes curriculares para a conversa. Elisa exemplifica: em Geografia, entram em cena as diferentes moedas mundiais e a força que cada uma delas exerce; o professor de Ciências pode falar sobre os motivos pelos quais um material é mais caro do que outro e, portanto, algumas moedas valem mais; em Artes, o docente pode encorajar a análise de componentes visuais de cédulas e moedas, e o professor de Língua Portuguesa pode estimular produções sobre o tema. Ricardo exemplifica que, enquanto o professor de História aborda o reflexo da hiperinflação nas décadas de 1980 e 1990, o de Matemática pode explicar o fenômeno econômico de uma forma mais prática.

Ricardo costuma levar moedas antigas para a sala de aula a fim de chamar a atenção dos estudantes. O professor também é um colecionador e acaba abordando, em suas aulas, a numismática, estudo histórico, artístico e econômico de cédulas, moedas e medalhas. “A numismática não é o fim, é o meio”, comenta. Em sua pesquisa de mestrado – disponível no box acima –, ele desenvolveu diversas atividades nas quais as moedas abrem conversa para conteúdos de História. 

Dentre vários exemplos, ele conta de uma aula sobre o fim do Império e o início da República: “Eu levei para a sala moedas que tinham elementos específicos dos dois períodos. Pedi para os alunos as classificarem em ordem cronológica e fiz um roteiro de análise”. A partir desse roteiro, eles tinham que observar as mudanças de uma moeda de uma época para a outra e apontar o que essas mudanças diziam. “Quando você coloca o estudante para formular hipóteses, está fazendo com que ele pense de forma crítica e produza conteúdo”, afirma o professor.

Ricardo, que se apaixonou pela História por causa da numismática, acredita que mostrar as moedas na escola pode fazer o mesmo com alunos de todas as faixas etárias. “Quando eu levo a coleção, vejo que os olhos brilham. A numismática é fascinante por ser uma fonte histórica genuína e original. A moeda é testemunha do seu tempo”, afirma.

Numismática em sala de aula
Para os professores de História que gostariam de levar moedas para dentro da sala de aula, mas não são colecionadores, Ricardo dá algumas dicas.

- No catálogo digital Moedas do Brasil, é possível encontrar todas as moedas que já circularam no país. Além de estudar sobre elas, o professor também pode imprimi-las em tamanho real.

- Para quem quer montar uma coleção, por mais modesta que seja, Ricardo aconselha sites de compra e venda na internet e feiras de antiguidades. Dá para encontrar online conjuntos de moedas em que cada uma sai por menos de R$ 1.

- Outra opção é perguntar para os alunos se algum familiar tem coleção de moedas em casa. Tanto Ricardo quanto Elisa comentam que o tema sempre desperta interesse nos estudantes, e alguns acabam levando moedas antigas que têm em casa para os colegas conhecerem.

Consultor Pedagógico: Fernando Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, autor e editor de materiais didáticos.

 

Acesse aqui a página especial do projeto Educação Financeira Transforma e conheça todos os conteúdos da parceria entre a Nova Escola e o Instituto XP.

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