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Educação Infantil: retorno envolve resgate de memórias e organização dos espaços

Na volta às atividades na escola, é importante acolher as crianças preparando um ambiente com elementos que ajudem a dar início a um novo ciclo

POR:
Paula Sestari
Crédito: Getty Images

Olá queridos professores e professoras! Depois do nosso merecido descanso, chegamos à hora do retorno, ao esperado momento de retomada das atividades. Nesse período, começamos a organizar o espaço da instituição para o acolhimento das crianças – e quero compartilhar com vocês algumas questões que considero importantes para que esse processo seja confortável para todos. 

Em especial, gostaria de ressaltar o aspecto da transitoriedade e também da continuidade que existe no espaço da escola.  Explico: o lugar que sedia uma instituição de Educação Infantil sempre vai possuir uma identidade e uma trajetória. Então, estamos diante de um local voltado ao ensino, e que justamente por isso, está também voltado às novas construções. 

Assim, aos poucos, o espaço escolar vai, novamente, começar a ser modificado, e também a acolher novas marcas e novas histórias, que as paredes, os materiais e a sua própria forma de organização irão ajudar a contar. É essa reflexão que quero trazer na coluna de hoje – enfatizando o papel do resgate das memórias em meio a esse contexto. Vamos juntos?

Atividades de Educação Infantil: Planejamentos alinhados à BNCC

Neste curso você conhecerá experiências e sugestões que ajudam a realizar um planejamento alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e voltado aos interesses e à perspectiva das crianças que frequentam a Educação Infantil. 

Entendendo o papel do resgate das memórias

Vamos fazer uma experiência aqui? Primeiro, imagine que alguém te levou de olhos vendados para um lugar ‘surpresa’. Ao abrir os olhos, você se depara com um espaço neutro, com paredes brancas, um mobiliário típico, sem muitas informações, e com uma decoração simples e previsível. Como você reagiria nesse ambiente? Muito provavelmente, sentiria certa indiferença ou até um desânimo, não é mesmo? 

Então, imagine agora que ao abrir os olhos, você está em um outro local. Nele, estão registradas na parede e na decoração as marcas de muitas pessoas que passaram por ali. Você consegue enxergar uma história, contextos e significados – e tudo isso não somente perceptível pela visão, mas também pelo toque, olfato e até pelo paladar. Melhor ainda: pense que ao abrir os olhos você se deparou em um lugar da sua infância, em que os seus próprios registros aparecem devidamente resgatados, preservados e valorizados. Como você se sentiria nesse outro lugar hipotético? Acredito que, assim como para mim, esse seria um cenário muito mais atrativo e até empolgante. 

Agora, transfira as características desse espaço do parágrafo anterior para a sua escola, para a sua sala de convivência com os bebês e crianças pequenas. É muito importante que a organização dos espaços siga essa mesma perspectiva: símbolos, desenhos e impressões que demonstrem toda a trajetória e mesmo a narrativa relacionada a um ambiente de ensino. Inclusive, vocês se lembram quando, na minha última coluna de 2021, falei sobre organizações que fazemos no fechamento de um ciclo? Comentei ali que elas ajudariam a criar elementos para o início do próximo período letivo, já que, como a própria palavra ‘ciclo’ bem sugere, estamos falando de circular, de roda viva, de fechar uma etapa para iniciar a seguinte – e os registros de memória têm um papel central nisso tudo.

Vamos aprender ao ar livre?

Nesse Nova Escola Box,apresentamos aos gestores e professores da Educação Infantil os benefícios e possibilidades da aprendizagem em ambientes externos, que devem ser priorizados neste momento de retomada das atividades presenciais de acordo com os protocolos sanitários. 

A importância dos registros no acolhimento

Assim, vemos que retomar elementos como fotos, produções coletivas, materiais que foram significativos ou que são de interesse das crianças são cruciais para compor os espaços das interações – e uma boa dica é aliar esses itens aos dados e informações coletados com as famílias sobre o período de férias, ou a respeito do momento anterior ao ingresso dos pequenos na escola. A partir disso, nós professores teremos plenas condições para vincular os conhecimentos produzidos coletivamente e também os que fazem parte da cultura infantil, aos interesses e necessidades de cada grupo e de cada menino e menina. 

Já para a criança, ao adentrar em um espaço como esse, será como receber um convite do tipo: “olha quanta vida temos aqui, venha fazer parte disso!”. Trata-se de um verdadeiro chamado ao sentimento de pertencimento; é poder olhar em volta e sentir-se entre os seus, entre aqueles que estão na mesma jornada.  Especificamente falando dos bebês e das crianças bem pequenas, essa organização impulsiona a curiosidade e a possibilidade de desbravar o inédito – que irão movê-los em busca de novas aprendizagens e na criação dos vínculos iniciais. 

Além disso, vale acrescentar que é importante incluir no espaço elementos que lembram a rotina de casa, que tragam uma sensação de conforto e aconchego. Desse modo, a criança que estava distante da escola há um tempo, apesar da separação momentânea da família, vai encontrar ali no ambiente uma oportunidade de recuperar memórias, impressões e sensações semelhantes ao que foi vivido, experimentado e sentido por ela em outros momentos da vida. 

Por fim, organizar o ambiente com todos esses elementos também é algo muito importante para os pais. Afinal, essa postura gera maior confiança da parte deles, já que estarão entregando seu bem maior a um espaço que possui uma história e um fundamento para o presente e para o futuro dos seus filhos.


Com isso, gostaria de finalizar essa coluna reforçando que a organização do espaço da escola precisa estar em sintonia com a dinâmica da vida e das relações humanizadas: os movimentos são constantes, e os envolvidos são como personagens de uma história, que chegam, se desenvolvem e se despedem. 

Aliás, essa minha fala sobre personagens é uma deixa para lembrar que não estamos iniciando um novo livro, e sim, introduzindo novos capítulos a essa trajetória que marca o ambiente escolar. Por isso, esse período será significativo se garantirmos o contato com toda a riqueza daquilo que já foi vivido e sentido na escola de Educação Infantil, com suas histórias preservadas e fazendo questão de inserir as crianças e suas famílias nos seus (re)começos. 

Bom retorno para todos nós, um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10 anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação Ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.