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Gestão escolar: como viabilizar a recomposição de aprendizagem focando nas potencialidades dos alunos?

O retorno presencial deixou ainda mais evidente os impactos da covid-19 para a Educação – o desafio agora é reconstruir as aprendizagens sem repetir os erros pré-pandêmicos

POR:
José Marcos Couto Júnior
Crédito: Getty Images

O próximo mês de março marca dois anos do início da pandemia no Brasil, com impactos devastadores e trágicos. No campo da Educação, a despeito do esforço sobre-humano dos profissionais, a desigualdade social se impôs de forma concreta e dramática. 

Com isso, depois de 24 meses, observamos em nossas escolas um aumento significativo de alunos que apresentam atrasos cognitivos, déficits na consolidação de habilidades socioemocionais, além de diversos traumas causados pela perda de vidas e pelo necessário isolamento social. 

Diante desta realidade, nossa reação instintiva muitas vezes passa pela lógica de elaborarmos meios para “retomar” ou “recuperar” o tempo perdido. No entanto, quando paramos para analisar friamente que tipo de escola tínhamos até fevereiro de 2020, geralmente nos deparamos com um modelo já desgastado, criticado, com a presença de problemas crônicos em sua estrutura. 

Não seria, portanto, tempo de refundar, ao invés de “reformar”? Pensar apenas em “voltar ao que era antes” pode nos trazer problemas ainda maiores. É por isso que agora falamos em recomposição de aprendizagem, algo que exige uma ação concreta e estratégica, realizada por educadores que estão no chão da escola, com todo o suporte por parte das redes.

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Recompondo as aprendizagens

As críticas ao modelo de Educação vigente já existiam desde muito antes da pandemia. Basta lembrar, por exemplo, da obra-prima da banda inglesa Pink Floyd, a música Another Brick In The Wall (“Mais um Tijolo no Muro”, em tradução livre para o português), de 1979, em que o cantor e compositor Roger Waters traz uma série de objeções ao formato de escola reprodutora de pensamentos, permeada por docentes que descontam suas frustrações nos estudantes. 

Várias décadas depois desse hit, se tem uma coisa que ficou evidente, ainda no gradual retorno presencial em 2021, é que grandes modelos e sistemas que prometem soluções generalizadas não dão conta das demandas de salas de aula, compostas por alunos que possuem realidades diferentes e tempos de aprendizagens ainda mais diferenciados após o período de isolamento social. 

Assim, uma verdadeira recomposição de aprendizagens precisa levar em conta as deficiências e as potencialidades de cada estudante, que precisa ser observado individualmente – nada de pensarmos no aluno como “mais um tijolo no muro”! É importante, ainda, contar com planejamentos mais personalizados, na medida do possível. 

Tudo isso exige organização, um processo constante e sistemático de avaliações – com percursos individualizados – replanejamentos periódicos, acompanhamento focal e elaboração de estratégias numa parceria entre equipe gestora, docentes e famílias. 

A figura central e cotidiana desse processo é o professor. É ele o responsável por diagnosticar lacunas e potencialidades dos seus alunos, indicando o ponto de partida para as ações, bem como os possíveis caminhos para o sucesso na recomposição de aprendizagens. Nesse contexto, cabe a nós gestores proporcionar as condições para que esse trabalho ocorra.

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Como viabilizar a recomposição de aprendizagem nas nossas escolas?

Tendo em mente os nossos principais desafios e tarefas, resolvi compartilhar abaixo com vocês, amigo leitor e amiga leitora, algumas ações que poderão ajudá-los a viabilizar um contexto de atuação ideal para a sua equipe docente, nessa missão de recompor as aprendizagens dos estudantes: 

- Documente os percursos dos alunos: esse processo, liderado pela coordenação pedagógica, é essencial para apresentar, justificar e (em certos casos) até “segurar a pressão” por resultados mais imediatos por parte de coordenadorias ou secretarias de Educação. Afinal, a recomposição é um processo que deve ser contínuo e gradual, e a documentação ajuda a deixar isso devidamente registrado; 

- Viabilize momentos de replanejamento e reflexão sobre as necessidades e potencialidades dos estudantes: nesse ponto, a garantia de destinar um terço da carga horária de professor para o planejamento (prevista por lei) é vital. Desse modo, cabe às equipes gestoras e à coordenação pedagógica elaborar estratégias de diversificação de atendimento aos seus educadores, buscando um olhar cada vez mais individualizado aos alunos. 

- Fomente espaços de formação e análise: é dessa forma que a equipe docente vai compreender a necessidade de desenvolver uma Educação efetivamente integral. Com isto, centros de estudo e reuniões de planejamento na escola podem e devem reafirmar a valorização de elementos socioemocionais e intersetoriais, e as reflexões devem abordar as famílias também (até com apontamento e/ou encaminhamento a atendimentos clínicos, quando necessário); 

- Mantenha o diálogo com as unidades escolares do território: com a perspectiva de percurso continuado, diante do cenário pandêmico, vários dos nossos alunos mudaram de segmento em 2020 e 2021, levando na bagagem uma série de dificuldades. Encaminhar avaliações e relatórios desses estudantes à nova escola facilita em semanas, ou meses, o trabalho de recomposição de aprendizagem; 

- Desenvolva momentos de atendimento focal para casos mais graves: o reforço escolar precisa ser o mais personalizado possível, sempre pensando em diversificar as interações, de acordo com as potencialidades de cada um dos alunos. Inclusive, no processo de reordenar a escola e as aprendizagens, nossa função é identificar, incentivar e explorar as competências que os nossos estudantes já apresentam, respeitando e valorizando os seus saberes.


A velha Educação bancária, simplesmente reprodutora de conhecimento, já estava saturada e não apresentava resultados satisfatórios. Agora, a possibilidade de refundarmos a escola pode e deve ser aproveitada por quem está no chão dela. 

Quando entendermos que o espaço escolar é um local para a elaboração de ferramentas que vão auxiliar os nossos alunos no exercício da cidadania –  e não apenas um lugar limitado ao ato de instruir – perceberemos que a recomposição de aprendizagem será mais natural, como um acerto de rota, mas sob uma nova estrada de oportunidades e de inclusão para se trilhar.

Forte abraço, até o mês que vem! 

José Couto Júnior é licenciado em História, tem Mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 10 anos, atua desde 2019 como diretor na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).

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