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Inclusão na Educação Infantil: autismo e estratégias para as propostas pedagógicas

Confira seis pontos que podem apoiar os professores no atendimento às crianças com Transtorno do Espectro Autista

POR:
Paula Sestari
Crédito: Getty Images

Olá professores e professoras! Aproveitando a repercussão da coluna sobre inclusão de alguns meses atrás, além da própria relevância do tema, gostaria de compartilhar nessa conversa de hoje um pouco da minha trajetória no atendimento a crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) na Educação Infantil. 

Sempre me recordo da insegurança que eu, jovem professora, senti na primeira experiência desse tipo anos atrás. A minha intenção de acolher e apoiar era das melhores, mas eu não tinha muitos conhecimentos sobre o assunto. Então, a primeira criança foi minha grande mestre, e me ajudou primeiro a desmistificar eventuais pré-conceitos decorrentes do meu escasso convívio com indivíduos com deficiência na fase escolar, e depois, me impulsionou a aprender sobre o tema por meio de pesquisas, cursos de aperfeiçoamento e mesmo com o contato com outros profissionais, como psicólogos. 

Assim, pude constatar que, independente da deficiência, de um laudo ou diagnóstico médico, trata-se de uma criança em fase peculiar de desenvolvimento, com um histórico, gostos e preferências – e o primeiro passo é o professor se dedicar a conhecê-la, de fato, em suas singularidades. Inclusive, não existe uma “receita de bolo” para o atendimento de crianças com TEA, e mesmo que o docente tenha várias ao mesmo tempo em sua sala, como já aconteceu comigo, cada uma tem suas especificidades associadas a esse transtorno. 

Ao longo das minhas vivências, fui entendendo que, no momento de planejamento e organização das propostas, é importante considerar a capacidade que todas as crianças têm de aprenderem a seu modo, ao brincarem e interagirem com o espaço, com outras crianças e com os adultos – e compreendi que algumas estratégias auxiliam no atendimento a crianças com autismo, visando uma comunicação mais assertiva e intervenções efetivas, e também apoiar sua socialização com o grupo e criar melhores condições que contribuam para o seu desenvolvimento. Vamos a elas:

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1. Conheça suas individualidades

É fundamental reconhecer quais os pontos de interesse da criança, e se aproximar com disposição para participar desse mundo dela. Algumas, por exemplo, têm o hiperfoco (por carrinhos, números, um personagem), que pode ser o ponto de partida para uma aproximação, e uma posterior ampliação de repertório. 

Invista na afetividade: é mito que as crianças com autismo não gostam do contato físico e de abraços – elas têm mais dificuldade com habilidades sociais, só que por outro lado possuem mais sensibilidade a estímulos físicos (por vezes, é o abraço apertado que acalma, o toque nas costas que alivia a tensão). Já a inabilidade de olhar nos olhos pode ser superada ao apoiar para que passem a demonstrar o que sentem e querem. 

2. Explore a fala e os recursos visuais

Mesmo que a criança não tenha comunicação verbal, é fundamental falar com ela. Essa fala precisa ser clara, direta, com poucas interjeições, e sem espaço para dúvidas – e se torna mais eficiente quando associada a gestos e expressões condizentes com o que se quer comunicar. 

Nessa linha, vale utilizar também os recursos visuais como imagens, fotos e sinalizações pelo ambiente escolar. Dois exemplos: no banheiro da minha sala, temos uma sequência de imagens para apoiar a higiene com independência; além disso, no próprio espaço da sala, temos imagens sobre as principais ações diárias e de deslocamentos do grupo. Tudo isso pode ajudar a naturalizar essas ações. 

3. Avalie os limites e possibilidades da sensibilidade auditiva

Nesses anos de convívio diário, entendi que uma característica bem comum das crianças com autismo é a sensibilidade auditiva. Portanto, barulhos inesperados e conversas paralelas associadas a movimentações constantes dos colegas podem desorganizar o pensamento desses pequenos, principalmente em ambientes fechados. Procure, então, investir em propostas realizadas nas áreas externas, que diluem melhor esses ruídos. 

Por outro lado, a sensibilidade auditiva pode, sim, ser nossa grande aliada, visto que geralmente os pequenos com TEA são muito musicais e se interessam por instrumentos. Desse modo, algumas formas de chamar a atenção podem ser: cantigas curtas da cultura infantil; uso de um pandeiro e chocalho nas brincadeiras de roda; e mesmo uma entonação diferente na leitura em voz alta.

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4. Cuidado com o excesso de estímulos

Um espaço carregado de estímulos, como muitos brinquedos e multiplicidade de cores, pode gerar inseguranças – sendo assim, é importante o acompanhamento do adulto, ajudando a observar uma coisa de cada vez e garantindo tempo de qualidade para que a criança assimile todas essas informações. Em alguns casos, certas mudanças são necessárias para um maior conforto, como uma iluminação menos intensa, e concentrar os cartazes e informações em um espaço da sala, deixando outros mais livres de estímulos. 

5. Equilibre a sensibilidade tátil

A sensibilidade tátil pode ser balanceada nas vivências, o que dá oportunidade para o contato com diferentes texturas incluindo elementos da natureza como terra e areia; os próprios materiais concretos para a brincadeira de largo alcance; e alimentos em sua forma in natura ou em preparo. Aliás, oportunizar que a criança utilize suas mãos para levar os alimentos à boca nas refeições, contribui também para a diminuição da seletividade alimentar, muito comum entre os pequenos com autismo. 

6. Envolva o coletivo

Entre as crianças bem pequenas (antes dos 3 anos), pode não ser tão comum que sintam a necessidade de compreender o que acontece com o colega com TEA, porque ainda estão muito voltadas para suas questões e interesses. No entanto, nos grupos de crianças pequenas (a partir dos 3 anos) é importante sanar as dúvidas e organizar momentos de conversa sobre as necessidades das crianças com autismo. 

A ideia é que eles desenvolvam maior compreensão e respeito, principalmente com os comportamentos estereotipados e eventos disruptivos, que são os momentos de crises em que é necessário que a professora faça o atendimento individualizado, em um espaço tranquilo para a ajudar a criança a se organizar.


Finalizo essa conversa com a sensação de que muitos outros pontos poderiam ser abordados, por isso, quero convidar vocês, professores e professoras, a compartilhar nos comentários nas redes sociais: qual é a sua experiência com crianças com TEA? Quais estratégias utilizam no dia a dia e que poderiam apoiar outros professores? Trata-se de um tema importantíssimo e que certamente vai render mais reflexões aqui nesse espaço.  

Um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10 anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação Ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.