Gestão escolar: seis passos para organizar uma formação continuada significativa
Viabilizar a atualização constante de sua equipe de professores é parte importante do trabalho de um diretor escolar – e algumas estratégias podem ajudar a identificar demandas, e a pôr em prática essas iniciativas de capacitação
POR: José Marcos Couto JúniorA frase “só sei que nada sei” é um dos paradoxos mais famosos da Filosofia ocidental. Ainda existem dúvidas se a sentença foi ou não elaborada pelo filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.), mas uma coisa é fato: até os dias de hoje, essa máxima segue como um poderoso antídoto contra a soberba e a arrogância – de quebra, muitas vezes auxilia em processos de autoconhecimento, nos estimulando a buscar novas aprendizagens.
Ao trazermos esse raciocínio para a dinâmica escolar, vemos que ele vai além de uma simples prudência ou motor de incentivo. Afinal, conhecer os limites e as fragilidades da nossa prática pedagógica é o primeiro passo para desenvolvermos novos caminhos didáticos. A experiência da sala de aula, ao longo dos anos, nos mostra que é preciso ir além da bagagem que trazemos da graduação: a cada dia, surgem novos desafios e demandas que obrigam e impulsionam todo bom professor a se atualizar e a buscar novas técnicas e práticas, que auxiliem na tentativa de “saber aquilo que não se sabe”.
E onde entra a gestão escolar nisso tudo, amigo leitor e amiga leitora? Para nós diretores, podemos acrescentar outra responsabilidade: mais do que identificar limites e deficiências, cabe à gestão viabilizar caminhos que contribuam na jornada por novos conhecimentos por parte da nossa equipe e da comunidade escolar. A chave para isso está em duas palavras: formação continuada.
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Aprender com quem sabe
Meu ex-professor da graduação e hoje amigo, Fidel Rangel, comenta que nossa prática de diretores certamente renderia um livro inteiro com situações hilárias, dramáticas, ou no mínimo bizarras do dia a dia escolar. De fato: seja professor ou gestor, todo educador que se encontra em uma posição para a qual ainda se sente inexperiente terá muitos ‘causos’ para contar, de acontecimentos que nascem da surpresa, do insólito, ou daquilo que não tínhamos qualquer preparo prévio para agirmos.
Por exemplo, no longínquo ano de 2009, quando ingressei na rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) como professor de História para os Anos Finais do Ensino Fundamental, lembro da minha insegurança ao presenciar um caso de bullying em uma turma do 6º ano. O que eu deveria fazer? Repreender o agressor na frente de toda a turma, ou somente retirá-lo da sala? Seria melhor trazer informações e debatermos o caso em uma próxima aula? A minha primeira ação seria a de acolher o menino que era vítima, ou o mais importante seria levar o caso imediatamente à direção?
Essa situação ilustra bem a posição de um jovem professor que estava despreparado para dar conta de um fato desse tipo. Claro que não somos obrigados a saber de tudo, ou a ter respostas para tudo o que acontece em nossa sala de aula, mas como lidar com determinados acontecimentos quando não temos base para isso?
É exatamente neste ponto da incerteza, da fragilidade, do “só sei que nada sei”, que os gestores precisam agir, observando e compreendendo os contextos e as demandas da escola. Esse movimento é o ponto de partida para assegurarmos espaços e ações de formação, que terão como foco a comunidade escolar como um todo, e a nossa a equipe docente de maneira específica.
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Seis passos para organizar uma formação continuada significativa
Para ajudar vocês, amigos leitores e amigas leitoras, a organizar esse lugar de aprendizagem – que pode, até mesmo, balizar novas culturas em nossas escolas – listei a seguir seis passos para estruturar um processo de formação continuada que seja efetivo:
- A gestão escolar precisa mapear as questões sensíveis presentes no cotidiano da unidade escolar, principalmente aquelas que ainda não possuem um debate qualificado;
- Caso não haja formações específicas para essas demandas em nossas redes, ou mesmo quando surge a possibilidade de ampliar esses diálogos, devemos utilizar os momentos de planejamento (que já constam em carga horária) para essa ação;
- Outra dica importante é buscar respeitar o lugar de fala e a formação de quem vai atuar nessas capacitações da equipe, priorizando, se possível, sujeitos que compõem a própria comunidade escolar;
- Com o auxílio dos coordenadores pedagógicos, é essencial garantirmos a presença dos temas das formações não só de forma transversal, mas também de maneira intrínseca ao currículo regular, dialogando com ele;
- Sempre que for possível e pertinente, vale estender as ações de formação continuada para outros segmentos da comunidade. Assim, qualifica-se o debate ao ampliar os olhares sobre os temas propostos;
- Por fim, é importante retomar os desdobramentos destes momentos de formação na hora de definir os projetos pedagógicos anuais, ou mesmo quando revisitarmos o projeto político-pedagógico (PPP) da unidade escolar.
Ao proporcionarmos novas aprendizagens às nossas equipes e comunidades escolares, estamos, paralelamente, pavimentando a estrada de uma geração de profissionais e pessoas que será melhor do que a nossa – porque, mesmo que eles não saibam de tudo, provavelmente aprenderão mais cedo e de forma mais qualificada do que muitos de nós.
Além disso, é sempre importante lembrarmos que preconceitos, desinformação e intolerância também nascem do fato de que não sabemos de tudo – são frutos de nossa ignorância. Para nossa sorte, temos a escola, pois como afirmava Paulo Freire, “se a Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Então, mudemos, amigo leitor e amiga leitora! Um abraço, e até o mês que vem.
José Couto Júnior é licenciado em História, tem Mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 13 anos, atua desde 2019 como diretor na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).
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