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Festa Junina na Educação Infantil: possibilidades e sugestões de trabalho com os campos de experiência

As vivências ao longo dessas festividades precisam ter como foco a construção de ricas experiências de aprendizagem para os pequenos. Confira alguns caminhos para consolidar essas propostas

POR:
Paula Sestari
Foto: Getty Images

Olá, professoras e professores! Nessa época do ano já começa o esquenta para as festividades juninas, e as famílias aguardam alguma movimentação nossa, já que, em grande parte do país, esse é um evento que faz parte da cultura escolar. Além disso, depois de um período longo sem festividades e aglomerações, as quermesses deste ano prometem ter um sabor especial de celebração e reencontros, não é mesmo?

Essas festas se revelam das mais ecléticas em uma comunidade. Em cada canto do país, evidenciam-se elementos que falam da cultura de maneira singular, e por isso contemplam identidades específicas – cada região tem seu modo particular, com seus próprios sabores, trajes, sons e cores. 

Por exemplo, aqui no Sul, de onde escrevo, elas coincidem com o período de maturação do pinhão, que é a semente da araucária. Então, em uma festa por aqui, você encontrará essa iguaria em diferentes pratos. Já no Nordeste, as festividades em cidades como Campina Grande (PB) duram mais de um mês e fazem parte do calendário turístico da região, enquanto no Norte elas acontecem no ritmo do boi-bumbá, e eu poderia mencionar muitas outras.

Isso mostra que, quando abrimos as portas da escola para esses festejos, precisamos ter a sensibilidade de olhar para os elementos da cultura que os compõem, de maneira que tudo faça realmente sentido para a comunidade escolar.

Pontos de atenção para as equipes escolares

Antes de focar em propostas alinhadas a essas celebrações, vale nos atentarmos a algumas questões. Muitas escolas articulam esses eventos visando angariar fundos para seus projetos, mas é importante ter em mente que esse objetivo não deve se sobrepor ao compromisso pedagógico. Assim, cabe à escola promover práticas culturais que contribuam para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, e o  envolvimento das famílias deve se dar no sentido de participar efetivamente de um momento significativo das vivências desenvolvidas.

Outro ponto que merece nossa atenção é o fato de que, por muito tempo, as festividades juninas evidenciaram estereótipos distorcidos do povo da roça. As brincadeiras e encenações abordavam gestos, trejeitos e falas depreciativas, que não condizem com a realidade. Portanto, o papel da escola é também o de enaltecer a população rural e propiciar vivências para que a cultura urbana tenha acesso à vida no campo de maneira respeitosa, valorizando a sua força de trabalho.

De volta ao compromisso pedagógico da escola, precisamos, nesse contexto de festas juninas, manter o foco na aprendizagem e no desenvolvimento dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Então, os preparativos para esses festejos não podem comprometer o dia a dia da Educação Infantil apenas com a confecção de decorações e ensaios demorados, que se alongam por vários dias para uma única apresentação, tornando-a o objeto principal de trabalho. Lembre-se: nossa responsabilidade primordial, a qualquer tempo, é com a infância. 

Desse modo, é importante que a decisão de organizar uma festividade desse tipo ocorra com bastante antecedência e seja pautada por um trabalho coletivo, em que os direitos de aprendizagem sejam garantidos e os campos de experiênciacontemplados. É importante buscar evidenciar elementos regionais, bem como ampliar, por meio de vivências de qualidade, o repertório das crianças com referências de outros tempos e locais deste nosso imenso país. 

O trabalho com os campos de experiência nas festas juninas

A partir das reflexões anteriores, elenco a seguir algumas possibilidades para contribuir com seu planejamento a partir dos cinco campos de experiência – lembrando que eles se entrelaçam e se complementam. Essas possibilidades podem viabilizar muitos contextos educativos, então, compartilhe-as com seus colegas e se deixe invadir pelo espírito de partilha que esse período nos inspira!

1. O eu, o outro e o nós:

Para esse campo, podemos valorizar as diferentes culturas, falas e expressões típicas de várias regiões do país, além da convivência agradável que uma boa roda e a dança em torno de uma fogueira podem oferecer. Essa experiência de contato com diferentes agrupamentos e outros adultos e de se envolver na organização de um festejo da comunidade são aprendizagens importantes para o conhecimento de si, dos outros e de como o coletivo se relaciona.

2. Corpo, gestos e movimentos:

Aqui, vale explorar cantigas e brincadeiras que fazem parte do repertório cultural de sua região, bem como de outras regiões do país. O professor pode organizar no seu planejamento muitas propostas para que as crianças sejam motivadas a se expressar por meio desses elementos e, a partir disso, definir o que será compartilhado com a comunidade em uma apresentação, sempre respeitando aqueles que ainda assim não se sentirem confortáveis.

3. Traços, cores e formas:

Podemos oportunizar o contato com diferentes ritmos musicais percorrendo as músicas caipiras, as que embalam o festival de Parintins e os clássicos de Luiz Gonzaga. É possível ainda pensar em diferentes possibilidades para a produção de sons com materiais alternativos, instrumentos musicais e a partir do próprio corpo. Outra proposta interessante é apresentar obras de arte que registram elementos da cultura popular, como as dos artistas Militão dos Santos e Djanira da Motta e Silva.

4. Escuta, fala, pensamento e imaginação:

Para esse campo, podemos trazer histórias, lendas, poemas e parlendas, proporcionando o contato com diferentes gêneros textuais e com narrativas de contos populares.

5. Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações:

É possível evidenciar elementos da cultura originados dos atributos de cada local, como clima, localização e outras características que transformam alimentos, vestes e instrumentos. Na minha escola, por exemplo, acordamos coletivamente que nossa festa terá essa abordagem da valorização de diferentes culturas: cada professor assumiu o compromisso de oportunizar uma viagem sensória das crianças por diferentes regiões, trazendo elementos de música, danças, brincadeiras, comidas típicas, histórias e artes plásticas.

Com isso, professoras e professores, vemos que um trabalho que valoriza a beleza das diferentes culturas, de Norte a Sul do nosso país, tem potencial para trazer muitas oportunidades de aprendizagem para as crianças. E essas propostas podem ser retomadas em outros momentos, já que as festas populares se caracterizam por revelar o nosso povo por meio de diferentes linguagens, indo muito além de um único evento.

Um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

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