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Passo a passo: formação para potencializar os vínculos criados com as famílias durante a pandemia

Confira como colocar em debate iniciativas interessantes e traçar um plano de ação para perpetuá-las

POR:
Camila Cecílio
Na EMEI Evaristo da Veiga, em São Paulo, a equipe docente se reúne com a coordenação pedagógica para pensar em ações que aproximem as famílias da escola. Foto: Bruno Pompeu/NOVA ESCOLA  

Nos últimos dois anos, a Educação Infantil foi uma das etapas mais impactadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil, já que as crianças pequenas e muito pequenas ainda não têm autonomia para acompanhar sozinhas as atividades remotas em frente à tela e realizar as sugestões dos educadores ou interagir com eles. 

Ao mesmo tempo, são inegáveis todos os esforços dos educadores para manter o vínculo com a meninada – e, de quebra, com suas famílias – durante o período de isolamento social. Duas das ferramentas mais utilizadas no período foram o WhatsApp e seus recursos e o Facebook e seu serviço de mensagens, o Messenger, para troca de fotos, vídeos e áudios com as famílias e responsáveis pela criançada. Graças a essas tecnologias, foi possível nos manter conectados, sem perder vínculos. 

Embora estivessem diante de desafios imensuráveis, como conexão ruim, falta de tempo e inabilidade para operar as ferramentas, muitos educadores tiveram êxito em suas iniciativas – e ainda por cima fizeram o possível para inovar. Ao mesmo tempo, familiares e responsáveis puderam participar da rotina escolar das crianças, acompanhando no dia a dia seu desenvolvimento. “E passaram a reconhecer e valorizar a figura docente que, mesmo distante, esteve presente nas conversas e envios de propostas de atividade”, fala

Nilcileni Brambilla, formadora de professores e produtora de materiais pedagógicos para a NOVA ESCOLA

“Apesar das perdas no período longe da escola, o estreitamento da relação com as famílias por meio da comunicação foi um dos maiores ganhos da pandemia. E não podemos desperdiçar isso agora que estamos de volta às atividades presenciais. Temos de incorporar [esse estreitamento] ao planejamento da escola”, diz Nilcileni. Confira a próxima reportagem da série, sobre a importância do acolhimento às famílias e da presença de pais e responsáveis na escola para desenvolver o sentimento de segurança das crianças. 

Na EMEI Evaristo da Veiga, na capital paulista, por exemplo, práticas de comunicação entre família e escola adotadas durante a pandemia, como grupos de WhatsApp, foram mantidas, conforme explica Rosimeire Ferreira dos Reis, coordenadora pedagógica da escola. “Organizamos grupos e centralizamos na diretoria, para melhorar o fluxo da comunicação”, diz ela. E, ao reunir as educadoras da escola para momentos formativos coletivos, outras ideias para afinar a relação surgiram, porque elas mesmas levantaram problemas com a comunicação. 

Uma das sugestões que já estamos colocando em prática foi a de levar as famílias para dentro da escola literalmente neste momento de retorno às atividades presenciais. Convidamos os pais para lerem para as crianças da turma durante a semana, na escola”, conta Rosimeire. Além disso, as docentes e a coordenação pedagógica reafirmaram o compromisso de manter os painéis com novidades de cada grupo sempre atualizados e atraentes para a comunidade se informar sobre o que acontece e como está o desenvolvimento dos pequenos. 

Produções das crianças ficam à mostra na escola para valorizar o fazer infantil e para os pais entrarem na escola. Foto: Bruno Pompeu/NOVA ESCOLA 

Para valorizar os laços construídos entre família e escola e garantir que o que deu certo nessa parceria continue a receber investimentos e perdure, a NOVA ESCOLA apresenta uma proposta de encontro formativo para a equipe de coordenação pedagógica realizar com os educadores da creche e da pré-escola neste momento de volta às atividades presenciais. A sugestão de pauta formativa foi organizada com apoio e supervisão de Nilcileni, com foco no desenvolvimento de um plano de ação para colocar em prática com as famílias, de forma aprimorada, alguma ação que deu certo no período de isolamento social.


Indicado para: Coordenadores pedagógicos

Objetivo da proposta: Realizar um encontro formativo planejado, considerando os dados e informações levantados por meio do diagnóstico inicial do que foi desenvolvido com êxito pela escola e pelos professores durante a pandemia, a fim de dar continuidade ao movimento de estreitamento de laços com as famílias, mantendo os vínculos construídos. Assim, será possível potencializar a comunicação entre família e escola e valorizar ainda mais os saberes de pais e responsáveis.


PASSO A PASSO

ANTES DE COMEÇAR

1. Coleta de dados

Esse é o momento de o coordenador pedagógico que organiza a formação planejar o que será feito considerando os principais dados sobre o tema porque a visão dele é essencial, mas pode não ser o bastante. Por isso, essa também é a hora de escutar e saber qual a percepção do grupo sobre o assunto. Assim, coletar e reunir informações é o primeiro passo. É com base na realidade que você conhece do grupo de educadores e do tema ou seja, a relação construída nos últimos dois anos entre escola, educadores e família, o estreitamento do vínculo e a comunicação que será possível identificar os parâmetros de como isso se desenvolveu, quais são os ganhos e os pontos que valem continuar em cena, recebendo investimentos e sendo aprimorados.

Há alguns caminhos para realizar essa escuta. Você pode se reunir com os educadores e ouvi-los em pequenos grupos, coletiva ou individualmente, antes do momento formativo. Outra possibilidade é elaborar questionários ou formulários de Google Forms e pedir que respondam até determinada data, deixando clara a finalidade (elaborar uma pauta formativa). É essencial lançar perguntas provocativas sobre o tema, como:

- Você nota ganhos no estreitamento da relação com as famílias construída na pandemia? Quais?

- Quais os pontos de atenção nesse estreitamento?

- Que ações podem apoiar a manutenção dos vínculos construídos durante a pandemia?

- A que você atribui o sucesso das ações exitosas colocadas em cena durante o período não presencial?

Essas são perguntas-chave para o momento de escuta. De posse delas, você tem um banco de dados das questões que os educadores levantaram e que talvez pudessem passar despercebidas no dia a dia. 

2. Ambiente acolhedor

Ainda antes da formação, é importante preparar um ambiente acolhedor, que comunique e sensibilize para aspectos do que será discutido no encontro. Para isso, levante referências do que será trabalhado, relacionando o que foi vivido durante a pandemia com o que será pensado para ser vivido agora que o isolamento social acabou. Valem trechos significativos de registros dos educadores; fotos de práticas que eles apontaram como as mais engajadoras; frases tocantes, ditas pelas crianças, seus familiares e responsáveis; mensagens de WhatsApp trocadas com as famílias; trechos de referências teóricas etc. 

Reúna tudo isso em um painel ou um mural. Esses elementos são ótimos pontos de partida para discutir os motivos pelos quais determinadas propostas foram mais engajadoras do que outras e vai ajudar o grupo a fazer escolhas para decidir o que poderá continuar funcionando e o que tem de ser feito para tanto.  

É compromisso firmado entre educadoras e gestão pensar em novas formas de comunicação com os familiares, como paineis informativos no pátio. Foto: Bruno Pompeu/NOVA ESCOLA 

3. Materiais formativos

Outro ponto essencial é oferecer embasamento teórico para o que será debatido com o grupo depois de um momento de leitura e reflexão durante o encontro formativo. A partir do que você sabe, avalie quais textos fazem mais sentido, sempre considerando o contexto da escola e dos educadores, e decida se a leitura deverá ser compartilhada por todos, em grupos ou duplas, ou se cada um receberá um texto para ler e apresentar aos demais compartilhando suas impressões.
    Algumas sugestões:

- Engajamento das famílias é essencial na recomposição de aprendizagens (NOVA ESCOLA)

- Relações família-escola: em busca de um projeto de Educação Infantil democrático (Base Nacional Comum Curricular)

- Curso gratuito: Relação Família-Escola na Educação Infantil (NOVA ESCOLA)

- Parte 4 e/ou parte 5 do livro Diálogo escola-família, de Tereza Perez (org.), das editoras Comunidade Educativa CEDAC, Fundação Santillana e Editora Moderna.

4. Convite

Antes de escrever o convite para os educadores, alguns cuidados são essenciais. Estruture a pauta do encontro considerando os dados levantados até então e destaque os principais pontos para apresentar aos docentes, para despertar o interesse deles pela formação.

Lembre-se de que o espaço organizado para o encontro é uma estratégia de reflexão junto aos professores. Fale sobre ele! Não deixe de calcular o tempo que será necessário para realizar a formação e informe-o aos participantes.

DURANTE O ENCONTRO FORMATIVO

5. Roda de conversa

Com todos reunidos, para quebrar o gelo, sugira que os docentes comentem o que viram exposto nas paredes, as fotos e as trocas de mensagens com familiares. Pergunte ainda se concordam que, apesar de todas as dores, medos e problemas trazidos pela pandemia, muita coisa boa foi feita por eles e pela escola. Questione também: se houve ganhos, por que não os manter para melhorar ainda mais a relação família-escola em prol do desenvolvimento das crianças?

Depois do acolhimento, organize um momento de mobilização e negociação de sentidos, ou seja, um momento para apresentar, validar e discutir com os educadores o que foi apurado por você até então. É importante deixar bem claro que tudo está baseado nas respostas deles, para que se sintam representados e parte ativa da reunião. Proponha, então, formar uma roda de conversa e apresente os dados para iniciar as discussões sobre o que foi levantado durante a coleta de informações. Crie, nesse momento, estratégias para a análise desses dados, como discussões em pequenos grupos ou uma apresentação realizada por você.

6. Leituras e reflexões

Para embasar melhor o próximo momento – de trabalho coletivo sobre uma das ações especificamente –, convide a todos para um momento de estudo dirigido com os textos escolhidos por você. É válido distribuir textos diferentes para cada docente, a fim de que todos leiam e depois socializem os aprendizados, ou apresentar somente um texto para todo o grupo e, depois da leitura silenciosa de cada um, pedir que compartilhem o que notaram de interessante.

Feito tudo isso, questione o grupo sobre quais ações deram certo no período de pandemia, propostas por eles mesmos ou pela gestão, e pergunte como elas podem ser aperfeiçoadas daqui em diante. Registre o que for sendo falado pelo grupo em um cartaz ou na lousa da sala. Para facilitar a organização, monte uma tabela com três colunas: a primeira para registrar as ações, a segunda para as sugestões de aperfeiçoamento e a terceira para adaptações, quando necessárias, à realidade presencial. É interessante também ter em mãos um caderno para registrar as ações pedagógicas que fizeram as ações darem certo ou não, traçando um parâmetro de justificativas.

7. Hora de fazer escolhas

Encerradas as discussões, vamos olhar para tudo o que foi dito e pensado, analisar o que será possível e necessário ser feito, para dar continuidade ao que já está consolidado, e pensar como melhorar.

Peça, então, que o grupo escolha uma ação somente para investir daqui em diante. Não será problema, no entanto, se os educadores quiserem se dividir em dois times, caso, por exemplo, a maioria decida trabalhar uma ação específica e o grupo de docentes das turmas de creche desejem focar outra proposta que faça mais sentido para as turmas de crianças muito pequenas e seus familiares. É perfeitamente possível trabalhar com duas frentes diferentes.

A pergunta norteadora para o grupo é: “Qual ação queremos levar adiante e como priorizá-la?”. Vale lembrar que, como o momento é de tomar decisões coletivas, o critério de escolha da ação deve ser o que o grupo acredita que surtirá mais efeito com as famílias na relação de vínculo, de comunicação e de valorização do cotidiano.

Para que os educadores possam trabalhar de forma organizada, é recomendável ter em mãos planilhas de planos de ação e distribuí-las para que tomem nota de suas decisões coletivas. Assim, quando o momento formativo terminar, todos saberão, de forma clara e organizada, o que terá de ser feito para colocar suas ideias em prática e quais as tarefas de cada um (confira o material para download preparado pela NOVA ESCOLA).

FINALIZAÇÃO

8. Sistematização de conhecimentos, compromissos e avaliação do encontro

Chegando ao momento final da formação, é fundamental sistematizar os conhecimentos construídos pelo grupo e pedir que todos avaliem o encontro, além de firmar o compromisso de cada grupo em seguir o plano de ação traçado. 

Para que os docentes possam avaliar o momento, lance algumas perguntas oralmente ou organize questionários online, no Google Forms, para saber o que acharam das atividades e reflexões propostas. Isso é interessante para que sua prática como formador também seja analisada. 

Combine com os docentes momentos posteriores, de monitoramento, para que os grupos contem como as ações estão se desenrolando e quais têm sido os resultados, as necessidades de replanejamento, os prazos etc. 


Consultora pedagógica: Nilcileni Brambilla, formadora de professores e produtora de materiais pedagógicos para a NOVA ESCOLA.

Esta reportagem faz parte do projeto Aprendizagem na Educação Infantil. Confira os demais conteúdos realizados em parceria com o Instituto Chamex.

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