Sugestões de brincadeiras para usar na alfabetização
Professora Mara Mansani compartilha pontos de atenção para planejar esse tipo de atividade e traz três propostas para usar em sala de aula
POR: Mara MansaniPor meio do brincar as crianças têm a oportunidade de interagir com os colegas, de desenvolver a criatividade, de se expressar, de simular situações do cotidiano e ressignificar papéis sociais, de regular emoções, de seguir regras, de explorar espaços, de experimentar o mundo, entre tantos outros benefícios. Assim, o brincar é essencial para o desenvolvimento integral das crianças.
Quando as crianças chegam ao 1º ano do Ensino Fundamental, os alfabetizadores são questionados pelos pequenos: “Quando a gente vai brincar? Cadê o parquinho? Pode trazer brinquedo?”. Essa transição se torna muito difícil para eles, pois de um ano para o outro tudo muda.
Um bom começo para mudar essa realidade é incluir em nossa rotina na alfabetização tempo e espaço para o lúdico, para brincadeiras e jogos em sala de aula ou em outros locais na unidade escolar – e até sugerir atividades para serem realizadas em família.
Pontos de atenção para esse tipo de proposta
Há momentos de brincar por brincar, nos quais as crianças brincam livres e eu as acompanho apenas pela observação e somente se necessário intervenho para ajudá-las a mediar algum conflito. Em outros momentos, proponho brincadeiras dirigidas. Aqui, minha atuação é mais participativa e direta e faço mais intervenções.
Também uso brincadeiras e jogos como situações de aprendizagem na alfabetização, para explorar as práticas de linguagem. É desse tipo de atividade que compartilho três sugestões para desenvolver especificamente a oralidade, a escrita, a leitura e para levar os alunos a refletirem sobre a língua.
1. Bingo de palavras
Quinzenalmente, proponho para as crianças um bingo de palavras. Escolho sempre palavras de um mesmo campo semântico para a construção do jogo. Começo explorando os nomes da turma para depois explorar outros temas, como brincadeiras, frutas, legumes etc.
O primeiro desafio é a produção pelas próprias crianças da cartela do bingo, que é simplesmente uma folha de papel sulfite tamanho A4 dividida em oito partes. Na horizontal, dobra-se e abre-se a folha; em cada espaço delimitado, as crianças precisam escrever o nome de colegas da turma. Peço sempre que escolham nomes de meninas e meninos.
Esse momento é de efervescência na reflexão sobre a língua, pois exige que as crianças busquem materiais escritos de referência na sala de aula, que troquem informações e que confrontem hipóteses de escrita com os seus pares para escreverem alfabeticamente em suas cartelas. Vou fazendo as intervenções pedagógicas, fazendo perguntas sobre essas escritas para cada um e indicando referências. Esse é apenas o começo.
Durante o bingo, continuamos o processo de aprendizagem. Com as cartelas prontas, sorteio e leio os nomes que vão saindo. Mas não falo logo de cara; primeiro dou dicas. Por exemplo: “Começa com a letra…”, “Termina com a letra…”, “Rima com …”.
O desafio deles é descobrir o nome com base nas pistas e tentar encontrar outras formas de diferenciá-los, pois muitos começam e terminam com as mesmas letras. Em outros momentos, a construção das cartelas pode ser dar com o apoio de letras móveis – após consolidar as escritas, eles registravam nas cartelas. Dá trabalho, ninguém para no lugar e há muita conversa paralela, mas rende ótimos resultados.
2. Brincadeira falada ou cantada
As brincadeiras faladas e cantadas são ótimas estratégias para o desenvolvimento da oralidade. Esse tipo de atividade pode ser realizado em qualquer turma. Algumas sugestões são: telefone sem fio, telefone de lata, falar palavras relacionadas dentro de um mesmo tema (por exemplo, a professora começa falando leite, e o aluno precisa falar uma palavra relacionada, como café, e assim por diante), repetir na ordem as palavras faladas (para essa proposta, escolha um tema; depois, alguém começa falando um nome, o segundo fala o nome falado pelo primeiro e acrescenta mais um, e assim continua).
Essas brincadeiras fazem sucesso entre as crianças e podem ser sugeridas para as famílias justamente pela facilidade de realizá-las. Além de se divertirem muito, as crianças melhoram a fala e estimulam a memória, a escuta e a capacidade de estabelecer relações dentro do tema explorado.
3. Construção do brinquedo ou jogo/tutorial
Seja fazendo o brinquedo, seja escrevendo ou lendo as regras para brincar, as crianças podem aprender muito em situações que exploram a leitura e a escrita na alfabetização.
Para isso, pode-se propor a escrita coletiva, com o professor como escriba, em duplas produtivas ou individualmente – sempre com apoio e intervenções do alfabetizador.
Dá para escrever passo a passo ensinando outras crianças a fazer o brinquedo ou escrever e ler as regras de como brincar ou jogar. Em minhas turmas, já fizemos jogos de tabuleiro, ioiô e outros brinquedos individuais. É sempre um sucesso para brincar e aprender!
Essas são só algumas de minhas práticas em que o brincar se faz presente.
Como anda a garantia do direito de brincar dos seus alunos? Você desenvolve práticas de linguagem em situações de jogos? Conte suas práticas e experiências nos comentários!
Um abraço e até a próxima!
Mara Mansani
Mara Mansani é professora há 34 anos. Lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF no livro Muda o mundo, Raimundo. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga.
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