Como construir bons instrumentos avaliativos para os Anos Finais do Ensino Fundamental?
Dinâmicas em grupo, definição de rubricas e projetos desenvolvidos ao longo do ano conferem protagonismo aos alunos e abrem caminhos para avaliações formativas
POR: Carol FirminoTodo aluno passa por diversas avaliações ao longo de sua trajetória escolar, e os professores seguem estratégias variadas para identificar o que foi aprendido ou ainda requer desenvolvimento. Provas com questões de múltipla escolha ou dissertativas, chamadas orais, autoavaliações, trabalhos em grupo, exercícios e outros métodos podem ser aplicados com diferentes objetivos. Nesse contexto, cada vez mais a avaliação pode constituir um meio, e não um fim, que proporciona aos estudantes avanços progressivos em suas aprendizagens, com propostas mais humanizadas, inovadoras e capazes de olhar para diferentes competências.
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), competência significa mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. De acordo com Rodrigo Padilha, mestre em Educação, formador de professores e docente dos Anos Finais do Ensino Fundamental, alcançar esses fatores exige uma atuação dinâmica dos educadores.
“No trabalho com uma habilidade na qual aparecem os verbos de ação 'identificar' e 'comunicar', é possível solicitar que os alunos façam um podcast. Eles precisam pesquisar o tema em diferentes fontes, montar um roteiro, apresentá-lo ao professor para validação, gravar o podcast e compartilhar com os colegas”, exemplifica o professor. Segundo ele, caso a atividade resulte em apenas uma nota final baseada no produto, ela não indicará o que o aluno fez ou deixou de fazer ao longo do processo, nem as habilidades alcançadas. Porém, quando dividida em mais de um critério, informações importantes para o avanço do aprendizado podem ser obtidas.
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Estímulo ao protagonismo dos estudantes
Ao pensar em avaliações para os Anos Finais do Ensino Fundamental, é necessário levar em conta que muitas mudanças acontecem nessa fase, e utilizar apenas uma forma de avaliação não prepara o estudante para os desafios que virão. Diferentemente de alunos do 6º ano, que aprendem melhor a partir de situações concretas, no 8º ou no 9º ano, a capacidade de abstração e reflexiva tende a ser maior. “Portanto, é interessante avaliar promovendo a mobilização de diferentes conhecimentos para solucionar problemas cotidianos”, diz Rodrigo.
Em um projeto interdisciplinar, por exemplo, o formador sugere que os professores definam juntos os critérios para avaliar as habilidades, que podem ser de cada componente ou do conjunto. No caso de uma atividade sobre biomas, que envolve Ciências e Geografia, esses critérios poderiam ser: criação do modelo de um bioma em conformidade com suas particularidades (solo, clima, fauna e flora); domínio do conteúdo durante uma apresentação oral; uso de fontes de pesquisa confiáveis para preenchimento do roteiro de atividades e uma representação gráfica do relevo.
Além disso, após dois anos de aulas remotas por causa da pandemia, o formador lembra que convidar o aluno a participar ativamente da aula é essencial. “Promover o protagonismo do estudante não é dar questões para ele responder. É engajá-lo a levantar questionamentos e buscar soluções, tendo em mente que esse é um trabalho contínuo, pois visa o aprendizado do aluno e não a nota, que virá como consequência.”
Na EMEF Padre Melico Candido Barbosa, em Campinas (SP), o professor Fernando Cardoso da Silva, que leciona História para turmas do 6º ao 8º ano, busca desenvolver o protagonismo dos alunos tanto no aprendizado quanto nas avaliações, por meio de práticas que ele vem aprimorando ao longo de sua trajetória profissional. “É uma proposta que fui construindo há mais de dez anos com os próprios alunos. Eu queria entender por que eles não tinham um bom rendimento mesmo dizendo que entendiam o conteúdo. Então, comecei a propor a autoavaliação combinada com uma avaliação das minhas aulas ao final de cada bimestre. Com isso, pude consolidar a estrutura que a minha aula tem atualmente.”
Intervenções para avançar na aprendizagem
Fernando diz que, se explica o conteúdo e o problematiza de forma expositiva, quando os estudantes precisam elaborar raciocínios mais reflexivos e críticos nas avaliações, a maioria sente dificuldades. Por isso ele organiza as dinâmicas em sala considerando essas necessidades. Em duas das suas quatro aulas semanais, ele divide os alunos em grupos de trabalho, que seguem assim o ano todo, e cada um trabalha um tema diferente ao longo desse período. “O objetivo não é que eles se apropriem do assunto apenas de forma conteudista, mas que se aprofundem, interpretem e problematizem. Meu papel é oferecer ferramentas para isso e mediar”, detalha.
Nas outras duas aulas, o professor segue com o formato expositivo e de pesquisa, em que cada aluno escolhe um tema do seu interesse para se aprofundar. Essa organização, de acordo com ele, permite variar os formatos avaliativos e fortalece as reflexões individuais.
“No caso das aulas em grupo, por exemplo, na convivência entre eles, surgem potências, problemas e impasses. Isso possibilita ganchos, pois o que esses alunos estão vivendo de modo relacional e social no ambiente micro, porém concreto, revela aspectos das relações sociais históricas do livro”, afirma Fernando. As avaliações acontecem com tarefas na sala de aula em que os alunos debatem o conteúdo que estão estudando. “Eu entro nesses diálogos para acompanhar. O caderno, por sua vez, se torna um testemunho do que eles, em grupo, elaboraram e eventualmente erraram e corrigiram. É o percurso da aprendizagem com intervenções no momento da construção do conhecimento, não apenas em uma prova final”, descreve o professor.
Ele conta também que não avalia de maneira unilateral, pois há um diálogo sobre como os alunos enxergam o processo, com avaliação do grupo, autoavaliação e avaliação das aulas de História.
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Rubricas nas avaliações formativas
Arlete Aparecida Ferreira é professora de Matemática na EE Alzira Ayres Pereira, em Catas Altas (MG), e, até 2021, acompanhou as turmas do 6º ao 9º ano, assumindo recentemente o Ensino Médio. Ela destaca que foi importante entender as necessidades que cada período exige, algo que a ajudou a organizar avaliações apropriadas para os Anos Finais do Fundamental, tendo em vista também as demandas específicas dos alunos que estão chegando ao Ensino Médio. Nesse contexto, o trabalho com rubricas – em que o professor lista o que deseja avaliar no aluno, descrevendo diferentes níveis de performance – se tornou uma constante nas suas aulas.
“Trabalhando metodologias ativas e propostas diferentes, não cabe uma avaliação apenas somativa – ela precisa ser formativa [avaliações contínuas e diversificadas para intervenções pedagógicas mais assertivas]. Por isso, eu comecei a avaliar os alunos com rubricas, criando com eles os critérios e os níveis de performance, mostrando como estão sendo avaliados”, explica.
Um exemplo de aplicação dessas rubricas foi a avaliação de geometria espacial. “Eu pedi que eles construíssem uma embalagem e, com isso, eles já estariam fazendo os cálculos de volume, área e outros, necessários para construir uma caixa. Antes da atividade, nós definimos a rubrica. Então, se o aluno não teve exatidão no cálculo, entende-se como um ponto de erro e um critério que não foi alcançado. No entanto, não vamos apenas refazer esse exercício, mas o processo para entender o que aconteceu”, salienta Arlete.
Para a professora, a rubrica deixa o estudante mais tranquilo para errar e aprender com o erro. “Eles também fazem avaliações somativas, mas, ao chegar nesse momento, estão mais seguros. Quando os alunos se sentem agentes do processo, o sentimento é diferente. Mesmo nas provas, insiro exemplos do que eles vivenciaram em sala, levo os próprios modelos construídos e dialogo com eles.”
Arlete, que está entre os 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2022, conta que também trabalha com diversos projetos com os alunos, método importante para aplicar avaliações formativas. Entre os exemplos, a professora cita as atividades que desenvolveu em 2020, logo após o período de chuvas intensas que atingiu o estado de Minas Gerais. “Usamos as notícias para estudar Matemática com significado. Eles puderam calcular porcentagens, milímetros cúbicos, [trabalhar com] estatísticas e outros dados.”
Planejar para avaliar integralmente
As competências socioemocionais podem ser incluídas nos instrumentos avaliativos, mas como os professores devem fazer isso? No caso do engajamento, Rodrigo Padilha argumenta que ele não deve ser integrado a uma soma de notas. “Tomadas de decisão que envolvem engajamento podem se tornar muito subjetivas devido ao olhar parcial do professor. Por mais que seja minucioso, ele dificilmente terá todas as evidências sobre a ação do aluno em uma atividade, ainda mais se for em grupo. Por isso, para fazer uma avaliação mais justa, o melhor é se basear em diferentes critérios pautados em evidências de aprendizagem”, defende.
“A produção de um cartaz pode ter como evidências informações baseadas em fontes confiáveis, mensagens claras e concisas, uso de tabelas e gráficos ilustrativos e elementos visuais chamativos”, exemplifica. “Há uma diversidade de critérios que podem ajudar na avaliação do aluno pelo que ele produziu.”
Segundo o formador, é importante considerar também a heterogeneidade de uma sala de aula. “Os alunos possuem diferentes habilidades. Se trabalhamos com apenas um tipo de avaliação, como a prova dissertativa, os que são bons em escrita irão melhor na maioria das vezes. Já aqueles que possuem boa comunicação oral, não. Trabalhar a diversidade de estratégias e instrumentos avaliativos é essencial para avaliar de forma justa e alinhada à BNCC”, conclui.
Boas práticas para os Anos Finais do Ensino Fundamental
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BAIXE AQUI EXEMPLO DE RUBRICAS
Consultoria pedagógica: Alessandra Novak e Kátia Chiaradia
Esta reportagem faz parte do Especial Avaliação. Confira aqui os demais conteúdos.
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