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Coordenação pedagógica: como planejar um calendário de formações para o segundo semestre

Em um momento ainda delicado de recomposição de aprendizagens, é hora de fazer um balanço do que deu certo no início do ano e organizar capacitações significativas e em diálogo com os professores para poder avançar

POR:
Dimítria Coutinho
Foto: Getty Images

Desde que as aulas presenciais voltaram, as formações dos professores têm propiciado muita troca de experiências na EE Dr. Pompílio Guimarães, em Leopoldina (MG). Por lá, a equipe sentiu fortemente os impactos que a pandemia de Covid-19 e o consequente ensino remoto tiveram no processo de aprendizagem dos alunos, já que a maioria deles não têm acesso de qualidade à internet.

Assim como em outras escolas do país, o processo de recomposição de aprendizagens na Dr. Pompílio Guimarães tem sido realizado em equipe. Nesse sentido, a coordenadora pedagógica Rosane Aparecida Martins Ferreira Tavares, que atua nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, se vê como uma facilitadora do compartilhamento de ideias e práticas durante as formações, ajudando os professores a lidarem da melhor forma com um processo tão delicado.

Ela considera as trocas muito ricas tanto nas formações quanto nas conversas informais e nas mensagens no grupo da equipe no WhatsApp. “Aprende-se mais trocando experiência. Os professores contam o que tem dado certo e pode ajudar os colegas. Fotos dos projetos são postadas no grupo, e depois a gente discute isso em formações.”

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Trocas e trabalho conjunto

Silvia Fuertes, coordenadora e formadora em projetos de formação continuada da Comunidade Educativa CEDAC, ressalta que o ensino remoto deixou, além de lacunas na aprendizagem, uma evidência ainda maior das desigualdades presentes dentro das escolas. “A gente sabe que sempre existiram grupos heterogêneos, mas, após o período de afastamento devido à pandemia, essas diferenças ficaram muito evidentes em relação ao que cada um aprendeu.”

Para a especialista, mais do que nunca este é o momento de os coordenadores pedagógicos se colocarem como verdadeiros parceiros dos professores, apoiando-os nas suas diversas dificuldades para construção de propostas e experiências que auxiliem na recomposição de aprendizagens. Nesse contexto, a formação continuada aparece como um dos elementos a serem explorados para estabelecer essa parceria e criar um canal de troca.

“Há uns anos, o papel do coordenador era visto como de controle e fiscalização. Hoje, a gente sabe que é uma função que vai muito além disso. O coordenador é alguém que se coloca como parceiro do professor para que ele possa avançar no seu desenvolvimento profissional e aprimorar suas práticas para ensinar”, afirma Silvia. Ela reforça que as formações são momentos de troca, análise das práticas, trabalho em grupo entre os professores e criação de planejamentos colaborativos.

Analisando evoluções e seguindo em frente

Depois de um primeiro semestre tão complexo, julho é o mês que muitos coordenadores pedagógicos vão usar para consolidar o balanço dos últimos seis meses e traçar estratégias para o período seguinte. Os desafios relacionados à recomposição das aprendizagens devem continuar presentes, mas é hora de avançar.

Para isso, o planejamento de um cronograma de formações para o segundo semestre é essencial. Arleide Hilário Freitas, coordenadora pedagógica do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental na Escola Professora Verônica Pereira de Araújo, em Pindoretama (CE), já começou a se preparar com um passo que vem antes do planejamento em si: o balanço do primeiro semestre.

Na última semana de junho, ela se reuniu com os professores e conversou a respeito da evolução dos alunos, que já vinha sendo avaliada ao longo de todo o semestre. “A gente vem diagnosticando as crianças com frequência para fazer as ações e ter um retorno. Temos tido esse retorno, mas agora é pensar no planejamento de longo prazo”, diz.

Além de consultar os professores da sua escola, Arleide troca muitas experiências com coordenadores pedagógicos de outras unidades, já que o balanço geral da rede a tem ajudado a ter novas ideias para se planejar.

Em Leopoldina, Rosane também está sondando com os professores quais aspectos devem aparecer no cronograma do segundo semestre, por meio de conversas individuais, reuniões e autoavaliações dos docentes. A equipe pedagógica também conta com o auxílio dos estudantes para fazer esse balanço de fim de ciclo. Os representantes de classe participam dos conselhos escolares relatando as impressões das turmas e as principais demandas dos estudantes, o que ajuda a coordenadora a pensar em temas para aprofundar com os professores.

Como fazer o balanço do semestre e traçar os próximos passos
O planejamento das formações deve considerar diferentes instrumentos, como materiais produzidos pelos estudantes, sondagens com os docentes e registros feitos pela coordenação 

Silvia Fuertes, da Comunidade Educativa CEDAC, recomenda que o balanço a ser feito para planejar as próximas formações leve em conta diversos aspectos. O objetivo é obter uma avaliação do desenvolvimento escolar como um todo, traçando estratégias para auxiliar os professores a atingirem os objetivos em sala de aula. Essa observação vai além das provas dos estudantes e dos relatos dos docentes, e pode incluir:

  • registros formais dos professores;
  • instrumentos próprios de observação que o coordenador utilizou ao longo do semestre, como anotações durante observações em sala de aula;
  • materiais produzidos pelos alunos em projetos e exposições;
  • registros de reuniões de conselho de classe.

“Tudo isso vai oferecer elementos e pistas [para saber] em que é preciso investir”, destaca  a especialista. “A partir daquilo que foi observado e dessa análise, o coordenador vai elaborar um plano de formação para o segundo semestre que costure as necessidades que ele identificou a partir desse acompanhamento das aprendizagens com as necessidades formativas dos próprios professores.” Ela ressalta que essas decisões também podem ser tomadas em parceria com o diretor escolar.

Planejar e replanejar

Depois de feito o balanço, é hora de o coordenador pedagógico planejar os temas que serão abordados nas formações do segundo semestre. Para Silvia, a palavra-chave é equilíbrio: o profissional deve levar em consideração tanto o seu levantamento pessoal quanto as informações que obteve nas sondagens realizadas com os professores.

“Da mesma forma que a gente fala que os professores precisam escutar as crianças, o coordenador pedagógico também precisa escutar os seus professores”, afirma a formadora. Ela lembra do conceito de homologia de processos, que propõe que o gestor adote com os docentes estratégias que ele espera que sejam incorporadas à prática pedagógica dos professores. “Esses educadores também são sujeitos que estão aprendendo e que carregam suas histórias e experiências profissionais. Por isso, devemos realizar com eles esse mesmo processo que a gente quer que eles façam com as crianças. A gente também quer que eles deem voz para as experiências das crianças e costurem essas experiências com os objetivos de aprendizagem.”

Diante disso, também é importante que o planejamento tenha uma certa flexibilidade para absorver novas demandas dos docentes ou dos alunos que possam surgir ao longo do semestre. “A gente planeja e executa. Se não deu certo, a gente volta, vê o que aconteceu e planeja novamente. Estamos sempre nesse ciclo”, comenta Arleide.

Além dessa flexibilidade, o planejamento precisa ter bastante intencionalidade por parte da equipe gestora. Isso significa que o coordenador deve saber onde pretende chegar e qual o caminho para a equipe alcançar os objetivos. Isso necessita estar bem definido não somente para o coordenador, mas também para todos os professores. “É importante que, quando for compartilhar esse plano de formação com a equipe, o coordenador possa explicitar o porquê dessa escolha e abrir espaço para que os professores falem, coloquem suas impressões e façam contribuições”, orienta Silvia.

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Reflexões para qualificar as práticas

Apresentar o planejamento aos professores antes do início do semestre, permitindo colaborações, é a estratégia adotada por Arleide e a equipe gestora. “A gente nunca toma uma decisão sozinha na escola”, conta.

Depois da escolha dos temas e do planejamento feito, as formações devem ser realizadas de forma a acolher os professores e propiciar momentos de troca de experiências. “É importante que os encontros formativos tenham muito diálogo e interações entre os pares e que os professores possam refletir sobre o que eles fazem, por que fazem, como fazem, e busquem qualificar ainda mais essas práticas a partir das discussões que surgirem no grupo”, salienta Silvia.

A especialista também lembra que o coordenador pode pesquisar e indicar materiais que ajudem os professores, trazer exemplos práticos para as formações, sejam de dentro ou de fora da unidade escolar, relacionar referências teóricas com a prática cotidiana e utilizar estratégias formativas atrativas, com discussões, dinâmicas e mídias. “A formação precisa contribuir para os docentes enfrentarem os problemas do dia a dia. Eles precisam ver sentido no momento e no assunto que está sendo trabalhado.”

Consultoria pedagógica: Alline Soares, educadora e formadora de professores.

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