Planejamento da alfabetização: como consolidar as aprendizagens
Confira sugestões para analisar as avaliações diagnósticas e conheça uma experiência prática de utilização de agrupamentos produtivos
POR: Mara Mansani
O segundo semestre chegou, e ainda há muito a ser feito para alfabetizar os alunos. Esse é um grande desafio e uma responsabilidade de todos nós, professoras e professores alfabetizadores, especialmente diante das dificuldades e impactos deixados pela pandemia de Covid-19. No entanto, apesar dos obstáculos, ainda podemos fazer muito para avançar no processo de alfabetização!
O primeiro passo é fazer uma boa análise da avaliação diagnóstica da turma. Ter apoio da equipe pedagógica e momentos de troca com os demais professores pode contribuir para entender o que já está bem consolidado, o que ainda falta fazer – levando em consideração o referencial curricular de sua rede – e os caminhos possíveis para avançar. Vale também estar atento às necessidades específicas de cada estudante.
É fundamental que esses mapeamentos e reflexões sejam documentados. Isso será de grande ajuda quando for planejar aulas e pensar as atividades e a rotina da turma. Por exemplo, você sabe quem ainda não identifica todas as letras do alfabeto? Quem lê textos (parlendas, listas etc.) com autonomia? Quem ainda precisa do seu apoio e/ou dos colegas durante as atividades de escrita?
Dessa forma, pode evitar a oferta de atividades “inadequadas”, ou seja, aquelas que estão acima ou abaixo do nível de aprendizagem dos alunos. É comum que aconteça quando são aplicadas as mesmas propostas para todos sem nenhum tipo de adaptação ou intervenção específica. Essas situações costumam causar desinteresse quando não há desafio, e podem surgir frases como “Fiz tudo em segundos!” ou “De novo? Já sei isso, prô!”. Caso contrário, quando são muito difíceis, podem gerar uma paralisação ou o afastamento por não saberem “nem por onde começar”.
A coleta e análise dessas informações levam à reflexão sobre quais são as melhores práticas pedagógicas para garantir a aprendizagem de todos.
Estratégias para avançar nas aprendizagens
Nas escolas em que trabalho e em diferentes redes com as quais tenho contato, os agrupamentos produtivos são chamados de “nivelamento”, pois os alunos são agrupados por nível de aprendizagem. Essa estratégia é a principal ação no processo de recomposição de aprendizagens, que envolve também a formação de professores.
O agrupamento funciona da seguinte forma: uma vez por semana toda a escola propõe atividades que exploram diferentes habilidades nas práticas de linguagem com base nas necessidades de aprendizagem dos estudantes – de acordo com o que foi identificado na avaliação diagnóstica. Essas propostas são desenvolvidas em agrupamentos produtivos dentro da própria sala de aula. Também pode acontecer de agrupar alunos de outras turmas, o que pode envolver alunos de diferentes anos. Por exemplo, um aluno do 2º ano que ainda não consolidou as habilidades previstas para a alfabetização inicial pode estar no grupo de uma turma de 1º ano. A organização desses grupos pode ocorrer por proximidade de nível de aprendizagem ou hipótese de escrita (no caso da alfabetização), e não necessariamente por ano.
Em minha turma, temos esse momento às sextas-feiras. Com os grupos definidos, as atividades podem ser as mesmas, mas os níveis de complexidade são diferenciados. Por exemplo, em propostas de escrita há grupos com mais autonomia e que não precisam utilizar as letras móveis ou outro material de referência. Como eles, minhas intervenções são pontuais ou quando trazem alguma dúvida. Já com outros grupos minha presença é maior, eu trago mais questionamentos que os coloquem para refletir e avançar nas aprendizagens.
Esses agrupamentos produtivos estão entre minhas práticas permanentes na alfabetização. Porém, nesse dia específico de nivelamento, procuramos utilizar estratégias diferenciadas. Por exemplo, usar gamificação, projetos diferenciados de leitura e escrita, metodologias ativas e, quando possível, recursos tecnológicos.
Com os alunos mais velhos também acontecem esses agrupamentos. Toda a escola se movimenta nesse dia, seja para consolidação da alfabetização ou com foco em fluência leitora.
Misturam-se as turmas, e os alunos vão circulando. Antes do intervalo, um determinado grupo pode estar na produção textual e depois no grupo de leitura. Em cada uma dessas propostas, há um professor responsável. É um trabalho coletivo e colaborativo de toda a equipe, em que todos alunos são de todos e o que importa é a aprendizagem!
Mas e vocês, queridos alfabetizadores, quais são as principais ações de sua escola ou rede para alfabetização dos alunos?
Um abraço e até a próxima!
Mara Mansani
Mara Mansani é professora há 34 anos. Lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF no livro Muda o mundo, Raimundo. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga.
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