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5 ideias de propostas envolvendo resolução de problemas na Educação Infantil

Confira algumas sugestões de atividades que permitem introduzir elementos da Matemática já no início da trajetória escolar das crianças

POR:
Paula Sestari
Foto: Getty Images

Olá, queridas professoras e queridos professores! Hoje trouxe para este espaço um assunto muito importante: desde muito pequenas, as crianças precisam ter experiências com situações que envolvem conceitos matemáticos, como é o caso da resolução de problemas.

Habilidades como organizar o pensamento de modo estratégico, a fim de alcançar uma solução, mobilizar-se pelo conhecimento de situações anteriores ou desenvolver uma iniciativa para buscar apoio entre pares são ações pertencentes a competências gerais como o conhecimento e o pensamento científico, crítico e criativo – pontos que, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), devem constar na proposta pedagógica das escolas de Educação Infantil.

Ainda sobre a BNCC, entre os campos de experiência, uma associação quase natural seria relacionar esse assunto com o campo Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – porém, nesta coluna, quero compartilhar a possibilidade de desenvolver propostas envolvendo resolução de problemas de forma contextualizada com todos os campos de experiência, em vivências variadas. Essas ideias que trago aqui são inspiradas em sugestões da pesquisadora Katia Stocco Smole em um curso do Mathema, que há anos exerce papel importante na formação dos professores para o ensino da Matemática. Vamos a elas?

1. Problematizar o cotidiano

Nosso dia a dia é recheado de possibilidades para abordar a resolução de problemas. Que tal utilizar situações trazidas pelas próprias crianças, como a caixa de brinquedos que não fecha no pós-uso, sendo que a pegaram lacrada no começo da brincadeira? E quando o amigo de jogo não vem à escola no dia e desfalca a equipe de trabalho, o que fazer?

Uma proposta interessante é acompanhar com o grupo a frequência dos pequenos registrando, por um período de tempo, quantos vieram e quantos faltaram. Depois disso, vale motivar a turma a realizar uma análise que evidencie os períodos de mais constância e de mais ausências, buscando conhecer as razões para isso e trazer algumas saídas.

Por exemplo: compreender situações em que várias crianças passaram por resfriado; identificar ocorrências de falta na sexta-feira, em que muitos viajam ou vão para a casa de familiares; ou perceber um fenômeno comum, ao menos aqui na minha cidade – quando longos períodos chuvosos comprometem a frequência escolar. Tais questões permitem até um compartilhamento posterior com as famílias para que juntos busquem soluções de impacto.

2. Problematizar imagens e figuras

A observação crítica de imagens em cartazes e páginas de livros e revistas pode ser incentivada a partir de questionamentos feitos pelo professor. Um caminho é a realização de uma consulta com as crianças para verificar se elas acham que as ilustrações dos livros condizem com o texto escrito, ou então indagá-las sobre o que mais é possível ler por meio das imagens e sobre a história e a trama que envolve os personagens, indicando assim o que as palavras não disseram.

3. Solucionar problemas em jogos

Os jogos são compostos por regras e combinados, e alguns permitem o desenvolvimento de variações que o tornam mais desafiadores – fora o fato de que a constância viabiliza o desenvolvimento de estratégias por seus jogadores.

Com isso, itens como boliche, jogo da memória, tabuleiro e tangram podem fazer parte dos materiais de fácil acesso para as crianças, bem como constar em um planejamento que marca intencionalmente quais habilidades, objetivos e competências as propostas são capazes de ampliar.

Citando mais detalhadamente o dominó: com ele, dá para realizar questionamentos antes mesmo de os pequenos começarem a manipulá-lo, buscando elencar quais situações podem ocorrer ao longo da partida e ao término de cada uma. Trata-se de uma iniciativa que visa prever movimentações e observar se as crianças, posteriormente, se orientam por esses raciocínios durante o jogo em si. Isso rende também oportunidades para análises futuras, nas quais os pequenos conseguem discutir se as situações previstas fizeram sentido para eles ou se foi necessário buscar adequações.

4. Resolver problemas com brincadeiras

Assim como os jogos, as brincadeiras, principalmente as de tradição popular e que se desenvolvem coletivamente, são marcadas por questões passíveis de conflitos, que requerem dos participantes análises, arranjos e acordos.

Na amarelinha, por exemplo, existem as formas regionalizadas de brincar, bem como diferenças em relação à estrutura e às regras. Surge aí, então, uma chance de indagar as crianças sobre tais discrepâncias e de planejar momentos visando discutir essas questões em grupos maiores ou menores.

5. Decifrar problemas em textos

Brincar com as palavras e investigar uma situação dada por um verso de adivinha ou pelo enredo de uma história também é um ótimo jeito de trazer a Matemática nas propostas da Educação Infantil.

Obras como O Caso do Favo de Mel, de Milton Célio de Oliveira Filho (editora Brinque-Book) e O Caso do Bolinho, de Tatiana Belinky (editora Moderna) trazem uma problemática instigante para as crianças, que são motivadas a pensar em alternativas para os dilemas dos personagens. Outra dica são os poemas com situações-problema – de maneira lúdica, eles motivam os pequenos a refletir sobre as provocações feitas ao passo que brincam com as rimas e a estrutura desse tipo de texto. 

Para que as crianças desenvolvam essas habilidades de organização do pensamento e de criação colaborativa, e para que se tornem capazes de expor suas ideias, temos de oportunizar diferentes formas de registro, como oral, gestual, com desenhos ou pequenos textos – o que também possibilita que você, professor, tenha material para acompanhar como se deu o desenvolvimento de todos ao longo de um período. É importante considerar ainda os tipos de agrupamento, variando entre momentos individuais, em duplas ou em pequenos grupos.

Por fim, gostaria de frisar que jogos, brincadeiras, textos e situações do cotidiano precisam ser trazidos repetidas vezes, garantindo tempo e espaço para as elaborações dos pequenos, que inclusive podem discutir com seus pares e compartilhar aprendizagens em casa, com familiares.

Dessa forma, professoras e professores, nem sempre a palavra “problema” precisa estar associada a estranheza e desconforto. Pelo contrário, trata-se de algo que desenvolve competências e habilidades e que nos convida a enxergar a Matemática nossa de cada dia desde a Educação Infantil.

Um abraço e até breve!

Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

 

 

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