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Pensamento numérico: como desenvolvê-lo na prática

Confira 4 pontos a serem considerados ao trabalhar esta noção matemática nos Anos Iniciais

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Images

Para você, o que contempla a ideia de pensamento numérico? Se respondeu “números e quantidades”, pode ampliar essa perspectiva. Pensar numericamente é um processo a ser trabalhado ao longo do percurso escolar, a fim de que a criança possa construir progressivamente a noção de número. 

Essa concepção envolve o desenvolvimento de diversas aprendizagens, relações e habilidades. Para isso, como Van de Walle explica em seu livro Matemática no Ensino Fundamental, exige-se “muitas experiências para que as crianças desenvolvam uma compreensão completa de número que será desenvolvida e enriquecida com todos os conceitos numéricos adicionais relacionados ao longo dos anos escolares” (p. 144). Quando conversamos sobre contagem, trouxemos alguns pontos importantes que se referem a esse aspecto. 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reafirma esse ponto na unidade temática Números. No texto introdutório, encontra-se que esse conjunto de habilidades tem a finalidade de “desenvolver o pensamento numérico, que implica o conhecimento de maneiras de quantificar atributos de objetos e de julgar e interpretar argumentos baseados em quantidades. No processo da construção da noção de número, os alunos precisam desenvolver, entre outras, as ideias de aproximação, proporcionalidade, equivalência e ordem, noções fundamentais da Matemática” (p. 268)

Dessa forma, para construir essa noção, precisamos ir além da contagem de forma mecânica ou de exercícios repetitivos. Devemos propor situações significativas nas quais os estudantes possam contar, calcular para resolver problemas, estabelecer relações e ter conhecimento de informações numéricas para compreender e argumentar sobre diferentes assuntos.

Trago para esta nossa conversa quatro pontos importantes que devem ser levados em conta quando o assunto é o pensamento numérico. 

1. Começando com um diagnóstico.

Para que você saiba quais as ideias de número que sua turma já possui, faça uma sondagem. Depois, analise com cuidado os dados obtidos, a fim de compreender como estão, o que já sabem e o que ainda precisam trabalhar e, dessa forma, propor atividades que realmente permitam o avanço dos estudantes.

Pode propor um jogo para coletar essas informações ou pensar em situações da rotina que promovam a contagem, por exemplo, quantas folhas são necessárias para distribuir entre toda a turma ou como dividir as cartas de um jogo entre os participantes de forma que todos recebam a mesma quantidade. São possibilidades para que você possa conhecer o que já sabem, para a partir daí propor novas propostas de trabalho.

Se seus alunos são maiores, você pode preparar situações-problema para serem resolvidas. Confira este texto e se inspire para planejar um bom diagnóstico.

Mas reafirmo que é importante, como disse anteriormente, analisar os dados obtidos. Se você tiver o coordenador como parceiro nessa empreitada, será excelente!

2. Investindo no senso numérico.

Que é a capacidade que nos permite saber onde há mais, menos ou a mesma quantidade de elementos sem contar. Embora seja uma capacidade natural do ser humano, precisa ser desenvolvida na escola por meio da exploração dos números e das diferentes formas de representá-los ao trabalhar as operações e a compreensão do valor posicional e ao fazer estimativas envolvendo “números grandes”. 

Van de Walle propõe, no seu livro Matemática no Ensino Fundamental, que esse movimento seja feito não somente com os números naturais, mas que continue “a ser desenvolvido ao longo dos anos escolares conforme as frações, os decimais e as porcentagens forem acrescentadas ao repertório de ideias numéricas dos estudantes” (p. 148)

3. Registro pelo aluno.

Documentar é de fundamental importância para o professor poder desenhar o perfil da turma e planejar boas atividades que permitam o avanço de todos. No entanto, aqui me refiro aos registros do aluno – seja por meio do desenho, seja pela escrita. Esse exercício contribui para a construção do conceito a ser trabalhado, além de possibilitar acompanhar a evolução do pensamento de cada um e planejar boas intervenções que o permitam avançar.

Nas avaliações diagnósticas de Matemática, é comum ditar números para que os alunos escrevam. Esse registro é uma forma de compreender o que sabem a respeito da numeração escrita, das hipóteses acerca das características dos números. 

Observar e documentar um jogo ou uma brincadeira permite perceber a evolução e a apropriação dessa noção. Veja abaixo o desenho de uma brincadeira, com os alunos do 1º ano, na qual os estudantes tinham de dar passos de gigante e de anão.

Registro de atividade realizado por aluna de 1º ano do Ensino Fundamental. Crédito: Acervo pessoal/Selene Coletti

Essa aluna registrou a quantidade de passos utilizando riscos grandes para os passos do gigante e traços pequenos para o anão, além de escrever os números abaixo de cada um. O registro mostra que ela aliou a quantidade aos numerais que a representam, demonstrando o seu conhecimento em relação aos números. Viram quantas informações é possível extrair desse tipo de registro? Por isso esse tipo de proposta deve estar sempre presente na rotina das aulas de Matemática.

4. Utilizando os jogos.

Evidente que esta estratégia, que é uma forma de trabalhar a construção do número de uma maneira significativa para os alunos dos Anos Iniciais, não poderia faltar. 

Existem diversas possibilidades. Temos aqueles que utilizam dados, os quais permitem, além de contar, resolver diferentes situações-problema envolvendo o andamento das jogadas. 

Ao escolher uma proposta de jogo, lembre-se de planejar boas intervenções durante o momento da atividade. Também esteja atento às ações dos alunos para, posteriormente, problematizar as situações vivenciadas, a fim de discutir e refletir sobre o que está sendo trabalhado.

Certamente, há muitos outros pontos a serem levados em consideração no que se refere ao pensamento numérico. Entretanto, espero que estes possam ter contribuído para a sua reflexão e o aperfeiçoamento das propostas envolvendo o tema.

Até a próxima!

Selene

Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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