Alfabetização matemática: como utilizar gráficos em sala de aula
Confira sugestões para introduzir esse trabalho com diferentes formas de representação
POR: Selene ColettiSe você acompanha notícias sobre os índices de preço, o nosso salário, as mortes da pandemia ou as intenções de voto durante o período eleitoral, está em contato com diferentes tipos de gráfico, representação que permite compreender melhor os resultados de um levantamento de dados. Eles mostram o quanto a Matemática está presente em nossa vida e o quanto ela facilita nossa leitura do mundo que nos cerca.
Na sua sala de aula, os gráficos estão presentes, permitindo aos alunos o contato com eles e sua função social e estabelecendo essa compreensão de mundo? É sobre isso que vamos conversar um pouco hoje: como introduzir esses recursos para os alunos dos Anos Iniciais.
Meu contato com esse tema começou quando realizei formações com a professora Regina Grando, quem me ajudou a construir o olhar para a Matemática que eu tanto falo neste espaço – inclusive, com ela entendi como trabalhar com dados e suas representações gráficas com meus alunos.
Por onde começar
Ter em sala diferentes materiais, que tragam tabelas e gráficos, já é um bom começo. Dessa forma, desde a Educação Infantil as crianças podem manusear e entrar em contato com essa linguagem.
Eu costumo iniciar apresentando uma tabela com os resultados de um jogo que tenhamos feito. Proponho uma discussão dos dados, questiono o que querem dizer os números de cada coluna e se é possível descobrir o vencedor. É uma forma de introduzir o gráfico como uma forma de representar a tabela, mas que se visualiza e interpreta com mais facilmente.
Depois, posso propor alguns levantamentos que permitam fazer a tabulação de informações. Por exemplo, saber o mês com o maior número de aniversariantes da classe. Começamos construindo uma tabela, com a participação de todos, para o mês em que cada um nasceu – como é possível ver na foto abaixo.
Em seguida, proponho a construção de um gráfico de colunas em 3D, isto é, utilizando peças de jogos de encaixe ou com livros. O uso desses recursos permite que o aluno entenda que cada um, ao colocar o seu objeto, está sendo representado no gráfico. É o seu “voto”, por assim dizer.
Discutindo os dados
Com o gráfico construído, é hora de problematizá-lo. Esse é um passo essencial para que o aluno possa compreender as informações que ali estão representadas. Por exemplo, se estivermos explorando o gráfico de aniversários, você poderá perguntar: “O que acontecerá com a coluna dos aniversariantes de janeiro, se dois alunos que fazem aniversário em janeiro saírem da nossa classe?”. Eles dirão certamente que o monte diminuirá. Retire esses dois objetos para que tenham a comprovação dessa resposta.
O contrário também poderá ser perguntado: “Se chegar um aluno que faz aniversário em outubro, o que acontecerá com a coluna desse mês?”.
Construindo o gráfico com quadradinhos
Depois que estiverem bem familiarizados com a versão tridimensional, proponho a construção de gráficos de colunas com papel colorido. Para construí-los, distribuo um quadradinho para cada um e vamos montando as colunas ao colar as peças com fita crepe em um papel kraft – a fita é importante pois permite posteriormente tirar ou acrescentar pedaços para que percebam a alteração das informações.
Também vale ressaltar que os quadradinhos precisam ser colados bem unidos uns aos outros, de maneira que formem a coluna sem deixar espaços.
Outros tipos de representação
O gráfico de setores é outro tipo possível de ser construído utilizando (literalmente) as próprias crianças. Vou explicar: se você estiver trabalhando, por exemplo, como os alunos vêm para a escola, com os dados levantados, elabore uma tabela. Depois, forme uma fila com aqueles que vêm a pé, outra para os que vêm de carro, e assim siga com cada forma de locomoção.
Depois, formem um círculo seguindo a ordem das filas. Primeiramente, desenhe essa circunferência utilizando um compasso de barbante, cujo tamanho será o seu raio a ser traçado no chão. Alguém segura uma ponta no centro; na outra ponta, amarre um giz e vá riscando. Ao final, obterá um círculo certinho.
Com os alunos organizados na linha da circunferência no chão, é hora de marcar cada setor. Para isso, você vai precisar de um rolo de barbante e de alguém para ficar no centro do círculo, que vai marcar cada setor com o barbante. Do centro para o primeiro da primeira fila formada, estique o barbante, passando-o para que cada integrante dessa fila o segure. Quando chegar ao último integrante dessa primeira fila, traga o barbante de volta até o centro. Assim, você formou o primeiro setor. Proceda da mesma maneira até que todos os setores tenham sido formados. Finalizada a atividade, peça que coloquem o barbante no chão, e assim vocês terão formado o gráfico de setor ou “pizza”, como dizemos para os pequenos.
Realizado esse processo, faça as problematizações do gráfico – e não deixe de registrar o momento.
No dia seguinte, é interessante propor que esse gráfico seja feito no computador – abaixo, explico como fazer isso. As crianças sempre gostam dessa proposta, que enriquece bastante o processo de ensino e aprendizagem, pois permite que comparem as duas formas de representação. Elas também conseguem visualizar a quantidade de crianças em cada setor e perceber de qual fazem parte.
Construindo o gráfico no computador
Depois que sua turma estiver familiarizada com os gráficos de forma concreta, você pode explorar os recursos digitais para lhes apresentar outra possibilidade. A princípio, você pode achar que é um pouco difícil para as crianças pequenas, mas não é. Já utilizei tanto o Microsoft Word (também sendo possível fazer no Google Docs) quanto o Excel (similar ao Google Sheets), e os alunos dão conta.
Na minha escola, eu utilizava o laboratório de informática para fazer essa elaboração, e fazíamos uma discussão sobre os gráficos construídos.
Estar no ambiente virtual facilita a compreensão de que a alteração no gráfico acontece quando aumentamos ou diminuímos algum dado, pois, ao inserir um novo dado, o gráfico se modifica. As crianças ficavam sempre encantadas com essa “mágica”.
Como você pode perceber, o trabalho com gráficos nessa perspectiva aproxima ainda mais a Matemática da nossa realidade e evidencia sua potencialidade de nos ajudar a ler o mundo que nos cerca. Vamos lá?
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
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