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Interdisciplinaridade: a importância de conectar as aprendizagens nos Anos Finais

Confira exemplo de jogo envolvendo Ciências e Matemática que mobilizou conteúdos de ecologia e porcentagem no 9º ano

POR:
Linaldo Oliveira
Foto: Getty Images

Relacionar diferentes áreas do conhecimento sempre foi um grande desafio para as escolas. Isso porque construir um aprendizado contextualizado, interligado e atrativo exige muitas vezes flexibilização curricular, esforço e criatividade de nós, docentes.

Nos Anos Finais do Fundamental, há uma tendência de os professores de cada componente se isolarem. Por exemplo, nas aulas de Geografia e História, os alunos estudam, de forma separada, conteúdos que dialogam. Perde-se a oportunidade de promover uma compreensão mais ampla e rica de diversos aspectos históricos e geográficos. Por isso, proponho uma reflexão de como ter uma abordagem interdisciplinar na prática.

Ciências da Natureza e Matemática: o casamento perfeito

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta a necessidade de, nas aulas de Ciências, desenvolver um letramento científico dos alunos desde os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Esse conjunto de habilidades contribui para a formação dos estudantes ao estimular a capacidade analítica e questionadora em relação aos fenômenos naturais e sociais.

Aprendi na universidade que a Ciência está em tudo, que todos os processos naturais são absolutamente lindos e complexos e que a beleza do equilíbrio da vida está em suas relações ecológicas. Entretanto, para explicá-las, precisamos da Matemática e de seus números.

Quando essas duas áreas são trabalhadas de forma conjunta, torna-se possível desenvolver o letramento científico de forma atrativa, o estudante tem a oportunidade de ter vivências típicas de pesquisas reais. Por exemplo, realizar uma coleta e análises de dados que estimulem a reflexão, criação de hipóteses e questionamentos a respeito de um fenômeno biológico. Confira abaixo um exemplo de como fazer isso na prática.

Ecologia e porcentagem eternas aliadas

Na EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB), desenvolvo um trabalho interdisciplinar com a professora Audray Silveira, de Matemática – e com o apoio e alinhamento da equipe gestora.

Antes da aula, a parceria começa no planejamento das propostas. Começamos analisando, em nosso planejamento anual, quais conteúdos podem ser abordados de forma interdisciplinar. Em seguida, pensamos em práticas que façam sentido para cada aula. Uma prática que já está bem estabelecida, por exemplo, é relacionar os conteúdos de ecologia, biodiversidade e evolução com aspectos da porcentagem.

As teorias evolutivas nos ensinam que o tempo e o ambiente são fatores determinantes para a adaptação e a evolução das espécies. Essas mudanças são observáveis ao longo das gerações. Então, surgem sempre aquelas velhas perguntas: como levar os alunos a observar e compreender essas mudanças? Como os estimular a construir conhecimento por meio da análise e discussão de dados? Como tornar esse processo mais atrativo e significativo para eles?

O jogo ecológico de milhões

Com base nesses questionamentos, criamos o jogo Gerações ecológicas, que consiste em dividir, por meio de um sorteio, os alunos em três populações distintas: raposas (predadores), coelhos (presas) e árvores (produtores primários). A proporção da quantidade de estudantes em cada grupo deve ser anotada – depois, será utilizada nas aulas de Matemática.

Na quadra ou pátio da escola, as raposas devem perseguir os coelhos, e os coelhos devem tentar chegar até as árvores. Na rodada seguinte, todos os coelhos capturados irão se tornar raposas, e as árvores consumidas viram coelhos. As raposas e coelhos que não conseguiram capturar ou consumir coelhos ou árvores voltam como novas árvores. Nesse momento ocorre mais uma contagem dos grupos.

O jogo segue por mais dez rodadas. Ao final, os alunos terão dados correspondentes a dez gerações de cada população.

Se você é professor de Ciências, já deve ter entendido o objetivo do jogo, não é mesmo? A dinâmica simula o fluxo de energia dentro da cadeia alimentar, representa as flutuações populacionais e como essas três populações reagem à variação do número de predadores ou consumidores.

As proporções de cada um dos grupos serão trabalhadas nas aulas de Matemática. Por meio de cálculos de porcentagem, os estudantes irão chegar à relação entre o crescimento ou a diminuição das populações e a realidade ambiental observada em cada geração. Após essa reflexão, eles podem construir gráficos que representem o balanço natural das espécies observado no jogo.

Para terminar, organizem um momento de troca. Dessa forma, eles terão a oportunidade de argumentar, baseados nas teorias trabalhadas em sala, sobre as possíveis causas das variações observadas.

Percebeu como essa reflexão torna-se muito mais interessante e rica para os jovens? Na sugestão que compartilhei, o aluno é protagonista do seu processo de aprendizagem e tem a oportunidade de mobilizar conhecimentos em dois componentes curriculares – além de permitir desenvolver, de forma contextualizada e significativa, novas aprendizagens. Agora é a sua vez, professora e professor!

Um abraço e até a próxima!

Linaldo Oliveira é mestre em Ecologia e Conservação, professor da EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB). É tricampeão do Prêmio Educador Nota 10 do Instituto Alpargatas e foi vencedor e Educador do Ano da 24° edição do Prêmio Educador Nota 10, de 2021.

 

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