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Educação Física sem bullying

Alunos aprendem a trabalhar em grupo criando regras próprias para os esportes coletivos

POR:
Marcelo Volpato

Caso real
Se por um lado a Educação Física pode despertar nos alunos sentimentos de cooperativismo, companheirismo e inclusão, por outro, tende a criar situações de competitividade, agressividade e discriminação em meio às quais práticas de bullying podem surgir - sobretudo em relação aos alunos acima do peso ou com pouca habilidade nos esportes.

Foi o que a professora Joice Silva enfrentou ao assumir as aulas no Colégio Estadual Frederico Costa, de Salvador (BA). "A disciplina já cria a ideia de que só os melhores podem participar. Os próprios alunos começam a selecionar quem eles querem em seu time, tentando encontrar os mais aptos", explica.

Nesse processo de seleção e exclusão começam a surgiu atos de bullying entre os colegas. "Aparecem os apelidos, os termos que eles utilizam para classificar os colegas: menina é lerda, é fraca, vai se machucar; os gordinhos são lentos", comenta a professora.

Diante da situação, Joice resolveu intervir nas regras convencionais dos esportes, junto com os alunos. No basquete, por exemplo, antes de arremessar a bola, eles devem passá-la por, pelo menos, três meninas do grupo. "Querendo ou não, a bola acaba passando por todos. A regra que, na maioria dos casos é para impor limites, acaba por ampliá-los", conclui.

A professora passou também a organizar pequenos debates durante as aulas, questionando os alunos sobre quem é o vencedor e quem é o perdedor, em determinadas situações. "A participação deles aumentou e a convivência melhorou porque o objetivo da aula deixou de ser somente vencer o jogo e passou a ser se divertir e aprender com o grupo", avalia.

Palavra de especialista
Bullying é resultado de ações intencionais de desrespeito e pode ter origem em diferentes causas que vão desde ambientes familiares e escolares agressivos até a falta de valorização pessoal e de perspectivas. "O alvo e o autor de bullying sempre apresentam algum problema em relação ao valor de si. Por isso, o maior antídoto é promover um ambiente onde crianças e adolescentes se sintam valorizados e que possam reconhecer o valor do outro", explica Vanessa Vicentin, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP).

Para a pesquisadora, ao colocar a cooperação como pilar para as atividades da disciplina de educação física, Joice consegue demonstrar para os alunos que o respeito mútuo é o princípio que deve nortear as relações entre as pessoas. "Praticando e analisando as regras que criaram, as crianças se sentem pertencentes a sua construção e percebem a necessidade de colocá-las em prática", explica.

Neste ambiente construído com base na participação dos alunos o professor atua como um mediador nas situações de conflito e o índice de casos de bullying tende a diminuir. "O professor não deve resolver os conflitos entre os alunos e dizer quem está certo ou errado, mas incentivá-los a expressar pontos de vista e sentimentos e discutir formas alternativas de resolver os problemas sem se prejudicar ou prejudicar o próximo", alerta Vicentin.

A especialista também indica uma técnica que pode ser usada pelo professor em sala de aula: "o estatuto antibullying". Na primeira etapa, os alunos devem responder de forma anônima a questionários que busquem avaliar as condutas de bullying em sala. Depois, os próprios alunos ajudam a tabular os resultados e passam a discutir em subgrupos como resolver os problemas de desrespeito. Ao final, eles apresentam as propostas e, por votação, elaboram o "estatuto antibullying", com regras de condutas deliberadas e discutidas por todos.

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