8 pontos para garantir um planejamento inclusivo na Educação Infantil
A real inclusão é aquela que possibilita que todas as crianças possam aprender e se desenvolver dentro de suas necessidades e potencialidades
POR: Paula SestariOlá professores e professoras,
Nos últimos anos, tenho me interessado por estudar mais sobre atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Descobri que não existe uma receita de bolo ou uma estratégia única que funcione para todos. Também percebi que questões que envolvem atrasos no desenvolvimento, irregularidades sensoriais e perceptivas, habilidades de comunicação e interação social se configuram como os maiores desafios para nós, educadores.
Para além de disponibilizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para quem precisa, a escola deve criar estratégias e adequações curriculares que permitam que a criança possa desenvolver-se de acordo com seu ritmo e suas particularidades. Essa é a verdadeira inclusão, aquela que garante que cada um tenha seu próprio percurso e possa avançar em suas singularidades.
- LEIA TAMBÉM – O que é (e não é) o AEE?
Gostaria de comentar um pouco sobre o Plano Educacional Individualizado (PEI) na Educação Infantil. Em uma pesquisa rápida é possível encontrar muitos modelos, a maioria ainda com uma perspectiva mais clínica, no entanto cada escola pode desenvolver o seu de acordo com sua equipe pedagógica, delimitando objetivos a partir dos campos de experiência e que envolvem as atividades da vida diária.
Com uma dimensão clara de metas e as informações a respeito da criança, esse documento pode apoiar o professor a identificar oportunidades de aprendizagens alcançáveis, diminuindo sentimentos de frustração por não ter um foco de trabalho e para que consiga se sobrepor a expectativas homogeneizantes. Saiba mais sobre esse instrumento aqui.
Especificamente na Educação Infantil, separei oito pontos que considero importantes para construir e utilizar esse documento para o planejamento diário das experiências.
1. Conheça o contexto e histórico
Ao receber uma criança, é importante que o professor tenha um momento de conversa com a família para conhecer seu contexto social, círculo de convivência e rotina, entender como tem sido a relação da família com o diagnóstico.
Essas informações ajudam a compreender a visão e sentimentos que marcam a trajetória da criança, como a família a percebe e como de fato ela se apresenta nesse espaço;
2. Mapeie a rede de atendimento entorno da criança
Nessa conversa com a família, faça um levantamento de terapias, medicação e o tempo de acompanhamento com especialistas. Esse dado é muito importante para que a própria escola possa apoiar a busca por atendimento da rede de saúde do município. No caso de já ter acompanhamento, é possível abrir um canal de diálogo e parceria com esses profissionais trazendo outros olhares sobre a criança;
3. Dedique-se a conhecer a criança
Quando o professor recebe a notícia que receberá uma criança com autismo (ou outro tipo de deficiência), muitas expectativas são geradas.
O melhor conselho que eu poderia dar é: não fique preso ao laudo. Conheça de fato a criança, quais seus gostos, barreiras e potencialidades, e formas de se comunicar com ela.
Nesse início, não deixe de estar atento e registrar como foram as primeiras interações dela com a turma e durante as atividades;
4. Aproveite os interesses dela no planejamento das atividades
Os chamados “hiperfocos” que muitas crianças com TEA apresentam por determinados temas, personagens e/ou materiais podem ser seus grandes aliados. Trazer esses elementos para o contexto de aprendizagem pode contribuir para chamar atenção da criança e para que ela esteja mais motivada e mais cooperativa;
5. Esteja atento às reações com o espaço escolar
Para além do conhecimento da criança, é importante fazer um reconhecimento das suas condições físicas, estruturais e relacionais. As paredes carregadas de informações, o barulho excessivo e, por vezes, até as condições térmicas do chão provocam impactos sensórios. Por isso, identifique como a criança percebe esse ambiente e, quando necessário, faça mudanças que contribuam para o bem-estar da criança;
6. Esteja atento para as estratégias de comunicação
Dentre as crianças com TEA, temos as verbais funcionais, não funcionais e as não verbais. Por isso, também necessitamos fazer uso de outros tipos de linguagem, como movimentos, gestos, sons, expressões faciais e corporais.
A forma de comunicação precisa ser eficiente no sentido de garantir que a criança receba a informação de maneira adequada por parte do professor e tenha espaço para se expressar e se sentir acolhida.
7. Diálogo constante da equipe
As crianças não são exclusividade do professor ou do auxiliar, por isso é preciso conversas frequentes e momentos de troca entre a equipe pedagógica em que os registros e evidências levantadas por cada profissional seja analisado para que se tenha um olhar mais amplo das potencialidades e metas a serem alcançadas;
8. Momentos de estudo
Após esse levantamento, é possível transformar as evidências em objeto de pesquisa, trazendo profissionais com mais experiência ou materiais que possam apoiar na construção de objetivos e estratégias que possam apoiar a criança no seu desenvolvimento e aprendizagem.
Como levar o PEI para o dia a dia na Educação Infantil
No PEI é possível contemplar objetivos mais gerais como, apoiar a criança na assimilação da rotina e entre as estratégias, podemos pensar em antecipações claras das ações e a utilização de fichas com imagens das atividades para apoiar a comunicação.
Dentro do campo de experiência Eu, o Outro e o Nós, temos o objetivo de que interajam com crianças da mesma faixa etária e adultos ao explorar espaços, materiais, objetos e brinquedos. Dentro do planejamento é possível focar em situações que estimulem a interação em pares, em pequenos grupos e no coletivo garantindo o respeito ao momento de interesse individual. Porém, se a meta é ampliar o repertório de interesses da criança em brinquedos e materiais, um caminho é utilizar o seu hiperfoco como reforçador para motivá-la para as atividades propostas.
Pensando em objetivos mais específicos, pode-se registrar estratégias para que a criança compreenda comportamentos coletivos como ficar na sala, acompanhar o grupo nas transições dentro da escola, identificar um espaço tranquilo que ajude na autorregulação e descanso, entre outros, de acordo com o diagnóstico realizado.
A construção de um PEI deve, acima de tudo, contribuir para o desenvolvimento da independência e autonomia da criança, independente do seu histórico, características e nível de suporte. Para isso é essencial que ela encontre um professor que demonstre sempre altas expectativas no seu potencial.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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