Consciência negra: 3 atividades de Matemática para explorar as questões étnico-raciais
Saiba como conectar a alfabetização matemática às culturas africanas e afro-brasileiras
POR: Selene ColettiO preconceito ainda está enraizado na nossa sociedade. O ambiente escolar não é exceção. Mudar essa realidade exige adotar uma postura antirracista. É preciso garantir momentos e atividades para refletir sobre esse assunto – inclusive, nas aulas de Matemática nos Anos Iniciais.
A temática deve estar presente durante todo o ano. Caso não faça parte da sua rotina ainda, aproveite este mês da Consciência Negra para dar o primeiro passo e dar continuidade no próximo ano letivo.
Por isso trago aqui três propostas com o foco no lúdico já que as brincadeiras e jogos são uma forma de inserir, incentivar, discutir e reconhecer a importância das populações africanas e sua influência na sociedade brasileira.
1. Boneca Abayomi nas aulas de Matemática
A versão mais recente (e conhecida) da boneca Abayomi – que na língua iorubá significa encontro precioso – foi criada pela artesã brasileira Waldilena “Lena” Serra Martins, nos anos 1980, às vésperas do centenário da abolição da escravatura, e se tornou um símbolo nacional da herança e cultura negra.
Para começar, organize uma roda de conversa para discutir a história e importância da boneca. Em seguida, proponha a confecção da boneca. Esta etapa pode ser feita de duas formas, dependendo da faixa etária dos seus alunos.
Turmas do 1º ao 3º ano do Fundamental
Apresente o passo a passo da construção da boneca e solicite que observem com atenção o que aparece e expliquem o que entenderam, especificando quais os materiais e o como fazer. Essa é uma forma de trabalhar com os alunos aspectos da leitura e compreensão leitora.
Distribua os materiais necessários e vá observando como cada um está fazendo o que lê. Faça intervenções que forem necessárias para facilitar a confecção da boneca.
Seguir o passo a passo, reproduzindo o que está nas imagens, coloca em jogo aspectos de noção de espaço e de medidas não convencionais, dado que terão, por exemplo, que cortar os pedaços de tecido, acertar os nós.
Quando elas estiverem prontas você poderá propor que cada um presenteie a sua boneca para outro colega, em um gesto de oferecer o que tem de melhor para o outro. Não esqueça de garantir que todos possam receber a boneca.
Com base na experiência de terem que criar a sua, outra atividade interessante é pedir que os alunos, em grupos, produzam as orientações para confeccionar as bonecas por meio de desenhos. Essas produções podem ser compartilhadas com outras turmas da escola.
Para fazer a atividade com 4º e 5º ano
Além do descrito anteriormente, é possível avançar e trabalhar com modelagem matemática – nome dado ao processo de expressar, por meio da linguagem matemática, situações do nosso cotidiano, traduzindo o mundo real para a matemática.
A ideia é propor que a turma calcule a quantidade de tecido necessária para a confecção de bonecas Abayomi para que a outra classe possa adquirir e realizar a atividade. Aqui há orientações sobre como realizar essa proposta.
2. Jogo africano (Quênia): Shisima
O jogo queniano foi criado a partir da observação das pulgas d’água e sua rápida movimentação na superfície das lagoas. A palavra “shisima”, em tiriki, significa “extensão de água”.
O tabuleiro consiste em um círculo (pode ser um quadrado ou um octógono) dividido em 8 partes que possui pequenos círculos em suas extremidades e um no centro. Por essas partes que as peças (chamadas de “imbalavali”, que significa pulgas d’água) se movimentam.
Shisima é jogado em duplas. As regras são similares ao Jogo da Velha, uma vez que o objetivo é alinhar suas três peças, impedindo o adversário de alinhar suas peças em uma das diagonais do tabuleiro.
Cada jogador coloca as suas três peças do seu lado do tabuleiro. Elas se movimentam lateralmente, sem pular um círculo ou o do oponente, podendo voltar para trás.
A professora de Educação Física de minha escola, Ana Cássia Santos Almeida, trabalhou esse jogo com as turmas de 4º ano. Ela começou apresentando a origem do jogo.
Em seguida, cada dupla construiu o seu tabuleiro em uma folha de sulfite – confira aqui um passo a passo. Se preferir, também pode ser desenhado com giz no chão. Para as peças, eles utilizaram tampinhas coloridas, cada jogador tinha que escolher uma cor – exemplo, um com as azuis e outro com as laranjas.
Como é possível perceber, o jogo trabalha geometria, medidas (para a construção do tabuleiro), além de envolver, no alinhamento das peças, estratégia, raciocínio e antecipação.
Como sempre conversamos aqui, é importante jogar várias vezes para que o estudante se aproprie das regras e possa pensar nas estratégias. Posteriormente, promova uma discussão discutindo algumas jogadas observadas. Pode pedir que discutam como poderia ser resolvido aquela situação, dessa forma, quem estiver com dificuldade, pode visualizar novas possibilidades quando for jogar novamente.
3. Jogo africano (Moçambique): Labirinto
Este é um jogo de sorte que permite trabalhar, de forma significativa, os números pares e ímpares. O tabuleiro segue o formato representado abaixo. Pode ser elaborado em um cartolina, folha sulfite ou com giz no chão.
Joga-se em dupla. Cada um precisa de uma tampinha com cores diferentes. A cada rodada, eles tiram par ou ímpar. Quem vencer, avança uma casa – caso seja feito no chão, a criança anda uma casa. O vencedor é quem chegar finalizar primeiro o percurso.
Uma variação é combinar um determinado número de jogadas e, ao final, aquele que tiver ganhado mais vezes será o vencedor.
Caso opte-se por fazer o tabuleiro no chão, são as crianças que se movimentam. Tiram par ou ímpar e quem vencer, anda uma casa
O que achou? Animou-se para levar uma das ideias para sua turma? Tenho certeza de que viverão momentos ricos!
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora há 43 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
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