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Paulo Freire se torna patrono da Educação

Luiz Araújo, mestre em políticas públicas de Educação pela Universidade de Brasília (UnB), comenta a homenagem ao educador

POR:
Wellington Soares

Crédito: Alice Hattori

A presidente Dilma Roussef sancionou, dia 13 de abril, uma lei que nomeia Paulo Freire (1921-1997) como Patrono da Educação Brasileira. Autor de obras como Pedagogia do Oprimido - em que defende a Educação como meio de libertação -, Freire é considerado o mais importante educador brasileiro.

Para entender o significado dessa homenagem, NOVA ESCOLA conversou com Luiz Araújo, mestre em políticas públicas de Educação.


Luiz Araújo, mestre em políticas públicas em Educação pela Universidade de Brasília (UnB)

O que o ato de declarar Paulo Freire patrono da Educação brasileira significa?

A nomeação é um reconhecimento a o que ele representou. A Educação do país realmente precisava de um patrono e a escolha foi adequada à luta de Paulo Freire. A lei significa também que o país se identifica com o trabalho do educador. Nesse sentido, a ação mostra uma contradição: como podemos nos espelhar em Paulo Freire se muitas das causas pelas quais ele lutou continuam quase da mesma maneira? A melhor e mais coerente forma de homenageá-lo seria os congressistas votarem não apenas a proposta que o torna patrono do ensino, mas também o Plano Nacional de Educação (PNE), que ajuda a cumprir o que ele defendia.

Quais os avanços que observamos no Brasil de hoje, em relação às bandeiras defendidas por Freire?

Em uma primeira fase, o educador lutou pela universalização da Educação Básica. Nesse sentido, tivemos grandes avanços. Hoje chegamos a ter 85% dos meninos e meninas entre 4 e 5 anos de idade na escola. Entretanto, a desigualdade social continua muito marcada. As crianças foram inclusas, mas de forma precária.

Freire batalhou também para que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) fosse instituída formalmente no país, o que aconteceu. A estrutura disponível, no entanto, não dá conta do recado. A Educação transformadora que ele defendia ainda não é realidade. O que cresceu muito, nos últimos tempos, foi uma concepção meritocrática e competitiva de ensino. É claro que isso reflete o nosso mundo: nunca tivemos uma sociedade tão acomodada como a atual.

Quais fundamentos freirianos um professor da Educação Básica precisa sempre ter em mente?

Pelo menos duas contribuições freirianas devem estar presentes na prática pedagógica de 
um bom professor. A primeira é a ideia de que o conhecimento deve partir da realidade concreta do aluno e que o educador deve buscar alargar este horizonte. Ou seja, o currículo precisa ser ancorado no mundo vivido pelos alunos. Fazer um levantamento deste universo é fundamental para qualquer processo pedagógico que se pretenda dialógico.

Em segundo lugar, o professor não pode desprezar ou esquecer que os estudantes conhecem o mundo, que não são caixas vazias para serem preenchidas pelos detentores do conhecimento sistematizado. É preciso valorizar o saber de nosso povo, alargá-lo e propiciar acesso à produção humana que lhe é negado. Freire defendia uma Educação democrática, em que professor e aluno trocam conhecimentos, decidem juntos. Constituir essas relações não é apenas eleger o diretor, mas viver democracia dentro da sala de aula, estimular a organização livre dos alunos etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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