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Professor mostra como a Geometria está presente na cultura indígena

Ângulos e polígonos fazem parte da natureza, da arquitetura da escola e até da arte indígena

POR:
Roberta Bencini
Pedro e os alunos: desenhos com jenipapo iguais aos índios
Pedro e os alunos: desenhos com
jenipapo iguais aos dos índios
Javaés. Foto: Daniel Aratangy
Uma das marcas da cultura dos índios Javaés, de Formoso do Araguaia, a 410 quilômetros de Palmas (TO), é a pintura corporal com motivos geométricos. Atento, o professor nota 10 Pedro Gomes Neto fez da arte dos vizinhos da Escola Canuanã da Fundação Bradesco, onde leciona, a ponte entre a realidade e a abstração matemática. Para ensinar ângulos e polígonos, ele acompanhou as turmas de 7ª série em uma visita à aldeia.

O projeto foi marcado pela diversificação das aulas. A garotada ficou atenta às formas dos brinquedos espalhados pelo parquinho da escola e até entrevistou um marceneiro para compreender a importância da geometria no trabalho com a madeira. Mais que esquadros, réguas e transferidores, os alunos utilizaram máquina fotográfica e computador para registrar os achados. "Na observação do mundo ao redor, os jovens descobriram as relações da Matemática com as Ciências, a cultura e o espaço", afirma o professor, que contou com a ajuda de colegas de Língua Portuguesa, Geografia, Ciências e Informática.

Pedro tirou a Matemática dos livros, criou várias situações reais para explicar os conteúdos, aproveitou os recursos tecnológicos em um projeto interativo e se valeu de conceitos ligados aos temas transversais e a outras disciplinas. A seguir, você vai conhecer as etapas do projeto de "Pessoa", como ele é conhecido.

Plano de aula

Objetivos

Visita ao parque: observação. Foto: Daniel Aratangy
Visita ao parque: observação.
Foto: Daniel Aratangy

Ao sair com a turma pelas ruas ao redor da escola, Pedro desenvolveu os conceitos de ângulos e polígonos. Assim, estimulou os adolescentes a identificar semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critérios como número de lados e ângulos e eixos de simetria. Os alunos perceberam elementos geométricos nas formas da natureza e nas criações artísticas e analisaram e produziram mosaicos. Durante a visita à aldeia indígena, o professor incentivou e valorizou o contato dos alunos com uma realidade social e cultural diferente e estabeleceu conexões entre temas matemáticos e conhecimentos de outras áreas curriculares.

A primeira providência de Pedro foi tirar a garotada da sala de aula. Munidos de câmera fotográfica, os alunos apuraram o olhar para perceber as diferentes formas geométricas do mundo ao redor. O professor começou apontando aquelas já conhecidas, como um triângulo. Enquanto a turma observava a estrutura dos brinquedos no parquinho da escola, foram estudados o conceito de ângulo e de polígono. A gangorra serviu de exemplo para as explicações sobre ângulo agudo, obtuso e reto. No escorregador, todos reconheceram um triângulo retângulo.

De forma natural, o grupo passou a identificar as propriedades dos ângulos nas construções da escola. No telhado dos quiosques do pátio, estavam triângulos com lados de mesmo tamanho; nos caibros que suportam as telhas, um octógono com lados também congruentes. A cada explicação, um clique. E ao final do passeio, haviam sido fotografados muito mais objetos do que aqueles apontados por Pedro.

Na entrevista com o marceneiro da escola, os adolescentes conheceram os polígonos encontrados com mais facilidade na confecção de peças em madeira, como móveis, e manusearam os instrumentos de medida do profissional e perceberam a importância da exatidão nos cálculos de área.

Do espaço modificado pelo homem, os alunos partiram para a natureza em busca da ocorrência de ângulos e polígonos. A primeira parte da aula aconteceu no laboratório de Ciências, onde foi analisada a estrutura angular das células da casca de cebola. A situação permitiu discutir a simetria das formas geométricas presentes na natureza. Na segunda parte do trabalho, todos foram ao apiário da escola - que mantém cursos profissionalizantes. O foco era o padrão hexagonal dos favos de mel.

Pedro explica que outros elementos permitem explorar o tema. "As formas geométricas estão nas asas de uma borboleta ou no casco das tartarugas." Até mesmo, ele lembra, na imagem presente no núcleo de todas as células vivas, a dupla hélice de ácido desoxirribonucleico, mais conhecida por DNA.

Pintura corporal

Pintura em cerâmica: simetria. Foto: Daniel Aratangy
Pintura em cerâmica: simetria.
Foto: Daniel Aratangy

Durante a visita aos índios Javaés, os estudantes puderam conhecer e valorizar as manifestações culturais daquele povo. Exploraram o padrão de pintura corporal e das cerâmicas e continuaram o estudo de ângulos. Tudo foi fotografado. Um bate-papo com os artesãos esclareceu a idéia que os índios têm sobre o assunto. "Nosso trabalho e nossa vida giram em torno da natureza e dos desenhos dela. Os animais são a maior fonte de inspiração", conta o cacique José Tehabi Javaé. A essa altura do projeto, a interferência de Pedro foi mínima, pois os alunos já sabiam reconhecer as figuras poligonais.

Mas as aulas extrapolaram o tema inicial: Pedro aproveitou a oportunidade para discutir os estereótipos e o preconceito. O momento de maior descontração aconteceu quando os jovens, e também o professor, foram pintados com jenipapo por um índio. O mesmo ritual acontece na aldeia em dias de festa.

Avaliação pela leitura de fotos

O que foi feito das fotografias tiradas pela turma? Foram parar nas telas do computador. As cenas captadas pelas lentes das câmeras digitais ajudaram a repassar e fixar conceitos e, principalmente, serviram de material de avaliação para Pedro. Nas aulas de Informática, os alunos selecionaram imagens para cada propriedade de ângulos e polígonos. Na internet, eles pesquisaram a geometria presente em outros objetos e campos do conhecimento, como a arte, a arquitetura e a astronomia. Para finalizar, Pedro encomendou um texto livre sobre as imagens.

Quer saber mais?

CONTATO
Escola Canuanã, Fundação Bradesco
, 119, Formoso do Araguaia, TO, 77470-000, tel. (0_ _63) 339-1000 

BIBLIOGRAFIA
Grafismo Indígena
, Lux Vidal, 296 págs., Ed. Studio Nobel, (somente para consulta em bibliotecas)

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