Durante sete anos fui diretora de uma escola na periferia da cidade de São Paulo, que atendia 700 crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos. Como seres humanos que são, traziam suas emoções para a escola e estabeleciam suas relações, na maioria das vezes permeada por conflitos. E para resolverem esses conflitos recorriam, necessariamente, ao repertório de resoluções construído por eles. Isso significa que muitos entendiam as diversas formas de agressão (física, verbal, diretas ou indiretas, por meio da linguagem corporal ou isolamento social etc.) como as únicas validadas pelo grupo.
Com o passar do tempo, percebi que os conflitos migravam da sala de aula para o corredor, dele para o intervalo, de lá para a rua e, então, para as redes sociais. Estavam aumentando as ocorrências em que os conflitos adquiriam grandes proporções e que, por serem constantes, eram casos de bullying. Na realidade, por serem agora virtuais, tratava-se de cyberbullying.
No mundo digital, o problema era mais difícil de ser percebido pelos professores e eram as famílias quem procuravam a escola para denunciar essas situações. A escuta dos pais e o acolhimento se mostraram fundamentais para o diálogo e para que as ações fossem planejadas!
Mas, antes de definir culpados e inocentes, é preciso identificar o contexto de uso das crianças e dos adolescentes na internet. Em muitas situações, os pais não sabem o que seus filhos fazem nas redes sociais – e é reponsabilidade da família “conhecer” a vida virtual deles. Para orientá-los, organizamos na escola em que trabalhava alguns encontros com os pais, no qual utilizamos o material da Safernet.
Paralelo a este trabalho procuramos um caminho no qual todos pudessem dialogar sobre o problema: agressor, agredido e plateia. As assembleias de classe nos ajudaram nesse sentido. Uma vez por semana, passei a me reunir com os estudantes de uma sala pra discutir quais atitudes dos colegas os incomodava e quais elogios e sugestões tinham para fazer. Foi interessante perceber que quando debatiam as situações de conflitos, os alunos descobriam os diferentes pontos de vista, construíam uma inteligência emocional e ampliavam o repertório para argumentar e defender seus pontos de vista.
Quando os estudantes passam a refletir sobre o tema e ter consciência de suas atitudes, tornam-se eles próprios protagonistas nas ações de defesa de relações pessoais mais humanistas. Na EMEF Madre Maria Imilda, na zona leste de São Paulo, orientados pelo professor Pedro Satiro, meninos e meninas produziram materiais de prevenção ao cyberbullying. Confira aqui o relato da experiência deles e veja abaixo o curta-metragem que produziram.
No ano passado, outra boa experiência foi registrada. A aluna Sarah Silva, então no 9º ano da EMEF Carlos de Andrade Rizzini, em São Paulo, desenvolveu um aplicativo chamado “Bullying: A superação”. Por meio deles, as vítimas podem deixar seus relatos, ajudando outras pessoas a se encorajarem para lutar contra as agressões. Ele pode ser acessado aqui.
O mais importante é que o problema seja enfrentado pela escola. E o ideal é que isso seja feito por meio da construção de um currículo em que a convivência seja discutida. Recentemente, a revista GESTÃO ESCOLAR realizou uma palestra com a orientadora educacional Flávia Vivaldi sobre a lei anti-bullying e como as ações que ela prevê devem ser desenvolvidas pela escola. Os assinantes do Nova Escola Clube podem acessá-la neste link.
E você, educador, já vivenciou situações em que precisou enfrentar o bullying em sua versão física ou virtual? Conte-nos como se sentiu e como agiu.
Aproveito também para me apresentar oficialmente. A partir de agora, uma vez por mês, estarei por aqui!
Boas reflexões e até o próximo post,
Jane Reolo