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8 jeitos de promover o empoderamento feminino desde a alfabetização

POR:
Mara Mansani
Situações de leitura são ótimas oportunidades para explorar autoras talentosas e biografias de grande mulheres. (Foto: Mariana Pekin)

Acho que nunca ouvimos falar de tantos casos de violência e discriminação contra as mulheres como nos dias atuais. É preciso dar um basta nessa vergonha! E todos nós, educadores, temos que abrir o diálogo e, principalmente, desenvolver boas práticas em nossas escolas que garantam a equidade e empoderem nossas meninas. Paulo Freire sabiamente dizia que “a Educação liberta”.

Foi em minha casa, no seio de minha família, que aprendi que todos precisam e merecem ser respeitados, mas foi na escola que isso se fortaleceu em mim. Justamente nela, em que muitas vezes se disseminam ideias como “meninas não são para a área de exatas”, “meninas são fofoqueiras”, “meninas são frágeis e os meninos, fortes” etc. Esse tipo de discriminação se apresenta em coisas aparentemente sem importância, como as cores de capas de cadernos ou de uniformes, em grupos de estudo onde os garotos não se misturam com as garotas.

Como alfabetizadora, me esforço constantemente para combater esse tipo de segregação. E todos os anos, durante a semana do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, promovo diversas atividades que valorizam a participação da mulher na sociedade. O intuito é levar as crianças a refletirem, desde pequenas, sobre comportamentos e atitudes em relação ao problema.

Vou contar a vocês um pouco dessas práticas que venho desenvolvendo ao longo desses anos e que podem servir de inspiração:

  1. Explore biografias de mulheres que fizeram a diferença

A cada ano, pesquiso e amplio a minha lista de mulheres maravilhosas, que inclui nomes como Carolina Maria de Jesus, Zilda Arns, Chiquinha Gonzaga, Irmã Dulce, Maria da Penha, Malala, Luiza Mahin e muitas outras, sem contar as que fazem parte da comunidade escolar. É sempre emocionante descobrir com os alunos que essas mulheres inspiradoras fazem parte da nossa vida, mas muitas vezes suas histórias são ignoradas. Com biografias, que são textos informativos, pode-se explorar a leitura e interpretação de texto, a escrita de listas de nomes ou produções no formato “Você sabia?”.

Certa vez, uma turma de alunos do 2º ano produziu um pequeno vídeo com a história de dona Ifigênia, matriarca e líder quilombola do Cafundó, aqui em Salto de Pirapora, no interior de São Paulo. Depois de editado, ficou mais ou menos como um programa de TV, que editamos facilmente no computador (na internet, há muitos programas gratuitos para isso).

  1. Faça um painel de imagens sobre mulheres

O tema desse painel temático também pode girar em torno dessas grandes figuras, mas também de profissões que eram tidas como masculinas e que as mulheres vêm exercendo, entre outros enfoques possíveis. Pode-se escolher figuras e produzir legendas em duplas, primeiro com o uso de letras móveis e depois, com as intervenções do docente, no papel. O painel pode ser exposto para toda a escola.

  1. Organize rodas de conversa sobre o tema

Faça uma lista com questionamentos que possam abrir um debate:  quais são as brincadeiras consideradas de meninas e de meninos? Menino chora? Em casa, quais são as tarefas das mulheres? Facilite a conversa exercendo o papel de mediadora e procure estimular a participação de todos. Além disso, prepare-se antes para intervir. Se possível, traga informações e dados sobre os assuntos debatidos.

Fiz muitas vezes essas rodas temáticas com crianças, mas também com os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), explorando o papel da mulher e do homem nas famílias e a Lei Maria da Penha. Posso dizer que as rodas de conversa pegavam fogo!

  1. Escolha livros que discutam o papel da mulher

Muitas obras que exploram esse tema podem ser trazidas para a sala de aula. Sugiro algumas que já utilizei:

  • Malala – A menina mais corajosa do Mundo, de Viviana Mazza
  • O diário de Anne Frank, de Anne Frank
  • Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado
  • O cabelo de Lelê, de Valéria Belém
  • Ceci tem pipi?, de Thierry Lenain
  • O diário de Zlata – A vida de uma menina na guerra, de Zlata Filipovic
  • Tudo bem ser diferente, de Todd Parr
  • Frida Kahlo para meninas e meninos, de Nadia Fink

  1. Leve músicas de cantoras brasileiras

Exploro sempre a obra de nossas grandes cantoras e compositoras, que são a prova viva da capacidade artística das mulheres. Chiquinha Gonzaga, Nara Leão, Adriana Calcanhoto e outras artistas levam a turma a cantar e dançar!

 

  1. Proponha a escrita de cartas

Vale propor que a turma escreva cartas para as mulheres que são importantes em suas vidas ou que queiram homenagear. Essa é mais uma maneira de envolver, em uma atividade de produção de texto, uma atitude de valorização das mulheres. É sempre muito emocionante, para mim, ver o que as crianças escrevem para mães, avós, tias e tantas outras.

  1. Elabore atividades de entrevista

É outra maneira interessante de abordar o assunto. Peça que os alunos realizem entrevistas com as mulheres que se destacam na comunidade escolar. Na alfabetização, sou a escriba que, junto com os alunos, redige as perguntas a serem feitas à entrevistada – sempre escolhida pela turma. A entrevista pode ser gravada.  Eles adoram, se sentem verdadeiros jornalistas e aprendem muito com a experiência de vida dessas mulheres! Com os alunos de um 1º ano, certa vez, entrevistamos a merendeira da escola e foi um sucesso.

  1. Leve filmes

Alguns longas-metragens, inclusive de animação, além de divertidos, rendem boas discussões sobre o protagonismo das mulheres. Entre os vários títulos que exibo aos meus alunos pequenos, sugiro os seguintes:

  • Matilda, (Danny DeVito, 1h42)
  • A menina e o porquinho
  • Mulan (Tony Bancroft e Barry Cook, 1h28)
  • A viagem de Chihiro (Hayao Miyazaki, 2h05)

A última sugestão que deixo para vocês é que conheçam um projeto muito especial, o Mulheres Inspiradoras, coordenado pela professora Gina Vieira Ponte de Albuquerque. Desenvolvido em uma escola pública de Ceilândia, conquistou diversos prêmios, entre eles o Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos “Óscar Arnulfo Romero”, promovido pela Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), e foi um dos destaques da reportagem de capa de NOVA ESCOLA de setembro de 2016. Essa maravilhosa professora transformou sua prática pedagógica em uma ferramenta potente de transformação da vida de suas alunas e alunos. Uma iniciativa realmente inspiradora!

E vocês, queridos professores, contem aqui nos comentários como vêm sendo tratada a questão das mulheres e da equidade em suas escolas!

Ah, e antes de encerrar, quero dar os parabéns a todos educadores que promovem a equidade em suas escolas e deixar um beijo especial a minha mãe Rayld, por sempre me ensinar a lutar pelos meus direitos e pelos direitos de todos!

Um abraço,

Mara Mansani

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