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Arte na Creche

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Vamos brincar de fazer de conta

Em grupo, os pequenos têm a oportunidade de criar histórias e brincadeiras

POR:

O QUE É?

Proposta de atividade permanente sobre brincadeiras de faz de conta com uso de objetos diversos como talheres, tecidos, e brinquedos. Conteúdo originalmente publicado no site Arte na Creche, iniciativa do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) e do Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social (Impaes).

QUEM FEZ?

Comunidade Educativa CEDAC, que apoia profissionais da Educação no desenvolvimento de conhecimentos e práticas que resultem na oferta de uma educação pública de qualidade, com foco no aprimoramento contínuo dos processos de ensino, gestão em rede e participação comunitária.

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As crianças têm a oportunidade, ao brincar de faz de conta, de desenvolver a linguagem verbal, a imaginação e a qualidade das interações com os colegas e com os adultos, mediadas pelos objetos.

ETAPA

Educação Infantil

ANO

Creche e Pré-escola.

CONTEÚDOS 

Faz de conta, oralidade, jogos e brincadeiras, Arte.

Faz de conta

Crianças brincando de faz de conta
Crédito: Getty Images

Proposta

A brincadeira de faz de conta é considerada um poderoso instrumento de desenvolvimento da capacidade imaginativa e criativa da criança. Além disso, é o instrumento privilegiado de inserção e criação de cultura, fundamental ao desenvolvimento infantil. Através do faz de conta a criança entra em contato com regras e desenvolve a linguagem verbal, pois imaginando a criança se comunica, constroi narrativas e expressa desejos.

Brincar é uma atividade aprendida na cultura que possibilita que as crianças se constituam como sujeitos em um ambiente em contínua mudança, onde ocorre constante recriação de significados. Essa é uma condição para que construam uma cultura de pares, um conjunto relativamente estável de rotinas, artefatos, valores e interesses que elas produzem e partilham na interação com companheiros de idade.

A imaginação e a criação são os fios condutores que unem a brincadeira e a arte. Brincar é para a criança uma forma de viver e de aprender a conviver, um modo sem paralelo de expressão plena da infância.

As creches são espaços privilegiados para que as crianças realizem brincadeiras de faz de conta, já que a possibilidade de interações entre elas favorece o desenvolvimento da própria brincadeira e da aprendizagem de viver em grupo.

Tempo

A brincadeira de faz de conta não ocorre apenas no tempo livre da criança na creche, mas sim desde o nascimento, marcando sua interação com o mundo e o ingresso no mundo da linguagem.

No início, é o adulto que brinca com o bebê, como quando esconde o rosto com um tecido e pergunta: “Cadê?” E em seguida retira o tecido e diz, sorrindo: “Achou!”. A repetição dessa brincadeira possibilita que o bebê, aos poucos, comece a efetivamente tomar parte nela, como quando começa a sorrir cada vez que a brincadeira acontece e depois, mais ativamente, quando começa a cobrir o próprio rosto, olhando para o adulto ou outra criança como a convidá-lo(a) a participar dessa experiência lúdica.

Aos poucos a criança começa a imitar os gestos dos pais ou de pessoas com as quais mantém um vínculo importante, quando, por exemplo, pega um telefone e emite sons ou balbucios, podendo fazer gestos com as mãos e expressões de impaciência, de surpresa etc. Nessa fase, são comuns também as brincadeiras de ninar bonecas, empurrar carrinhos etc., mas são ainda imitações dos gestos dos adultos ou de outras crianças. E é dessa forma, brincando de imitar, que elas, tão pequenas, vão se empenhando em conhecer esse mundo complexo do qual fazem parte.

Nesse processo, a imitação vai ampliando a essência da brincadeira: a imaginação. Imaginando, a criança começa a fazer de conta que é mãe, pai, professora, motorista, bombeiro, cabeleireiro, astronauta, fada, princesa. Assim, vivencia de forma imaginativa diferentes papeis sociais e psicológicos que observa e conhece em seu entorno.

Como se vê, o tempo da progressão das aprendizagens no campo da brincadeira extrapola a rotina escolar, acompanha a criança em todos os momentos e exige da creche uma rotina que assegure a continuidade do jogo, todos os dias.

Espaço

A proposta caracteriza-se pela organização em cantos do ambiente que as crianças utilizam regularmente, com materiais que favorecem o desenvolvimento de sua imaginação. Organizados, de preferência com a ajuda das crianças, os cantos podem conter objetos que compõem temas ou sugerem ações e papeis sociais que as crianças observam e imitam em suas brincadeiras.

Os espaços podem pertencer a duas categorias básicas:

- áreas amplas (quadras poliesportivas, corredores amplos etc.);
- salas de brincar.

A partir da observação atenta dos interesses das crianças, a professora planeja como organizará o espaço que será utilizado para a brincadeira de faz de conta. Pode, como apoio, utilizar instrumentos para planejar o contexto da brincadeira.

Materiais

- Brinquedos e objetos que se assemelham ao real (para as crianças menores)
- Objetos diversos (panelas, colheres)
- Caixas de papelão e outros materiais recicláveis
- Tecidos

Interações

A regularidade das experiências de brincadeira em ambientes especialmente organizados para este fim é fundamental para que as crianças aprendam a brincar com outras crianças e desenvolvam sua imaginação. Ao garantirmos essas vivências com regularidade, é possível observar como as crianças brincam, suas ações e interesses.

Atividades:
As proposições da professora podem desencadear as seguintes atividades das crianças:
1. Explorar os temas mais recorrentes nas brincadeiras das crianças.
2. Potencializar os espaços de brincar, organizando-os de modo a favorecer o acesso às crianças.
3. Potencializar os materiais cuidando da qualidade estética do que é oferecido, enriquecendo a diversidade de texturas, cores, composições.
4. Dar continuidade ao planejamento da brincadeira a partir das observações da professora de como as crianças se relacionam com os materiais, como interagem entre si, o que mais lhes interessa, quais enredos criam. Essas observações servem como insumos para o enriquecimento do contexto da brincadeira.

Observe
A partir das experiências que cada criança pode vivenciar, pode-se observar uma progressão no desenvolvimento da brincadeira que está diretamente relacionada ao desenvolvimento da linguagem verbal, da imaginação e da qualidade das interações das crianças entre si e entre elas e os adultos, mediadas pelos objetos.

No desenvolvimento desse percurso, é interessante observar:
1. O aprendizado progressivo das crianças e a forma como brincam:
- as crianças imitam gestos e vocalizações de modelos?
- ampliam seu próprio repertório de brincadeiras?
- como a criança utiliza os materiais: demonstra preferência? Utiliza reproduzindo a função do material ou projeta outras funções?

2. A comunicação e socialização com outras crianças:
- como são as interações da criança com outras crianças na brincadeira?
- como resolvem os conflitos que acontecem durante a brincadeira?
- negociam significados, regras, materiais, papeis?
- aprimoram o diálogo com outras crianças?
- como se relacionam com os adultos: há evolução da autonomia?

A voz de quem participou
“Eu observo como as crianças estão cada vez mais participativas, felizes, confiantes e criativas. O brincar com materiais não estruturados é muito importante, ele dá autonomia para a criança brincar do que quiser. É só dar alguns objetos, apresentar os materiais, organizar o ambiente desafiando-as e propondo novas situações e novos materiais e pronto, tudo se transforma em brincadeira, aguçando a sua criatividade a cada dia. As crianças nos surpreendem e nós, educadores, temos que criar as condições necessárias para que eles possam cada vez mais explorar suas potencialidades.” (Maria Lúcia da Silva Viana, professora da Creche Dona Benta)

“Não podemos falar de aprendizagem desvinculada do desejo, do encantamento que nos move, do planejamento que nos orienta e das ações que fundamentam nosso trabalho. Vemos nas brincadeiras com materiais de largo alcance como a criança pequena vive um intenso processo de exploração do mundo, dos ambientes e dos materiais. Cada criança tem sua maneira e ritmo próprio de explorar e descobrir nos materiais características e possibilidades." (Maria José Diniz Macedo, coordenadora pedagógica da Creche Dona Benta)


Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.
BROUGÈRE, G. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1997.
OLIVEIRA, Z.M.R. Jogo de papéis. São Paulo: Cortez, 2011.
OLIVEIRA, Z.M.R. (Org.). Creches, crianças, faz de conta & cia. Petrópolis: Vozes, 2011.
OLIVEIRA, Z.M.R. (Org.). O trabalho do professor na educação infantil. São Paulo: Biruta, 2012.
PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para a Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT, 2007. 
VIGOTSKI, L.S. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Ática, 2009.