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Arte na Creche

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A arte da reinvenção

Fios, tecidos e caixas de papel desafiam os pequenos a repensar seu uso

POR:

O QUE É?

Proposta de atividade permanente com materiais que tradicionalmente não são usados em experiências em artes visuais, como fios de elásticos, tecidos, pneus e caixas de papelão. Conteúdo originalmente publicado no site Arte na Creche, iniciativa do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) e do Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social (Impaes).


QUEM FEZ?

Instituto Avisa Lá, organização não-governamental (ONG) que contribui para qualificar a prática pedagógica das redes públicas de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas áreas de leitura, escrita e matemática.


PODE TE INSPIRAR PORQUE…

Ao brincar com caixas, pneus, redes de tecidos e parangolés, as crianças têm oportunidade de se expressar com a linguagem corporal e são estimuladas a usar objetos do cotidiano de suporte para brincadeiras sensoriais e manuseá-los de maneiras inusitadas.


ETAPA

Educação Infantil


ANO

Creche


CONTEÚDOS

Arte, manipulação de objetos, linguagem visual, jogos e brincadeiras

Reinvenções de objetos do cotidiano

Brincadeira com pneus
Crédito: Getty Images

Proposta

As experiências sensoriais têm um papel importante nos percursos de criação em artes com crianças de 0 a 3 anos. Um possível caminho para conectar a sensibilidade das crianças à esfera artística é a Arte Contemporânea, que tem como característica importante a pluralidade de experimentações nos modos de fazer.

As apropriações das crianças se aproximam dos caminhos de produções da Arte Contemporânea, sobretudo de artistas que convidam o público a interagir com determinados objetos e, com isso, a “ativar” a obra de arte. Essa ideia também pode ser relacionada à maneira como as crianças pequenas descobrem o mundo, sempre curiosas e abertas às experiências por meio de todos os sentidos.

Hélio Oiticica, grande expoente do movimento Neoconcretista no Brasil, produziu uma obra paradigmática nomeada Parangolés: dispõem-se pedaços de tecidos a serem explorados pelo público que pode vesti-los em brincadeiras com o corpo. Desse modo, os tecidos se movimentam no espaço e conferem novos sentidos à experiência visual com a cor. Com os sentidos ativados, o público experimenta a cor no próprio corpo, e não somente por meio da visão, como até então as artes visuais propunham.

Reinventar os objetos do cotidiano integra a brincadeira da criança ao interesse por explorar materiais do cotidiano que, a princípio, não são reconhecidos como brinquedos. Nesta proposta, mobilizada pela obra de artistas que convidam à interação, como Hélio Oiticica, a brincadeira, como forma de a criança conhecer o mundo, se vincula à experiência sensorial pela exploração de objetos do cotidiano, no mergulho de corpo inteiro em vivências com a cor.

A proposta contribui para ampliar as aprendizagens das crianças, pois favorece e cultiva a expressão infantil, inicialmente de forma exploratória e, aos poucos, de maneira organizada. Mas isso depende, em grande medida, do modo como os ambientes são organizados para oferecer desafios progressivos às crianças.

Tempo

Uma experiência de reinvenção de objetos do cotidiano aconteceu durante dois meses, duas vezes por semana, durante cerca de 30 minutos.

Espaço

A organização dos espaços considerou a movimentação e a exploração do corpo das crianças em diferentes contextos, possibilitando a brincadeira e as descobertas sensoriais. Os espaços físicos foram além da sala e se tornaram espaços conceituais, nos quais cada elemento teve uma intencionalidade.

Cada escolha se tornou uma potente intervenção da professora com relação a suas propostas pedagógicas. Nesse caso, o pátio externo foi utilizado para brincar com redes e tramas. O corredor foi escolhido como o mais adequado para a experiência de escorregar em caixas de papelão.

Foram utilizados nessa proposta:
- corredores;
- salas;
- jardins;
- pátios externos.

Materiais

Em uma proposta com foco nas experiências sensoriais ligadas a materiais do cotidiano, a professora optou por selecionar materiais que tradicionalmente não seriam utilizados em propostas ligadas ao campo de experiências das Artes Visuais. Considerando que na Arte Contemporânea qualquer material pode servir ao processo de experimentação estética, fios de elásticos, tecidos, pneus e caixas de papelão se mostraram ótimos recursos para as brincadeiras infantis. Os materiais foram dispostos de forma a incentivar as crianças à sua exploração.

Ao serem oferecidos em arranjos espaciais cuidadosamente preparados do ponto de vista estético, os objetos puderam ser apropriados pelas crianças, tornando-se instrumentos para descobrir o mundo pela brincadeira sensorial. Nas mãos das crianças, os objetos se transformaram e ganharam outras significações. Foram utilizados:
- Fios de elásticos
- Tecidos
- Pneus
- Caixas de papelão


Interações

As crianças puderam fazer suas escolhas nos momentos de brincadeiras a partir da organização dos espaços e da oferta de materiais. De forma simultânea, elas brincaram junto com seus pares e com a professora. Isto é, não foi definida uma ordem prévia com relação à “vez” de cada um brincar.

Como também não foram definidos os grupos, os pequenos puderam interagir a partir de suas próprias escolhas, o que certamente contribui para a progressiva conquista da autonomia infantil. Nesse contexto, foram importantes as interações entre as crianças ao inventarem brincadeiras de maneira coletiva, ou seguirem alguma sugestão inicial de um parceiro mais experiente, como a professora. Decidiram sobre como poderiam usar cada material com relação ao espaço em que foram dispostos, ou seja, experimentaram limites e dimensões espaciais nas brincadeiras corporais com os objetos.

Também descobriram usos inusitados para objetos do cotidiano, que se tornaram recursos para experiências de caráter expressivo.


Atividades

As proposições da professora puderam desencadear as seguintes atividades das crianças:
1. Brincadeiras com redes, com tecidos semelhantes à malha elástica.
2. Brincadeiras com caixas de papelão.
3. Brincadeiras com pneus.
4. Brincadeiras com “Parangolés” em diferentes texturas e cores.


Observe

No desenvolvimento dessa proposta, é interessante observar:

1. A exploração do movimento e postura corporal da criança e o conhecimento do próprio corpo:
- a proposta contribui para o fortalecimento de uma “cultura corporal” nas crianças?
- elas puderam se comunicar através de posturas corporais?
- tiveram a oportunidade de ampliar suas possibilidades de movimento e desenvolver competências corporais ao mobilizarem o corpo na exploração do espaço e dos materiais?

2. O desenvolvimento do convívio social e a descoberta de novos usos para materiais do dia a dia:
- as crianças brincaram e exploraram o espaço em pequenos grupos?
- puderam explorar os materiais nas brincadeiras?
- objetos do cotidiano serviram de suporte para brincadeiras sensoriais e foram manuseados de maneiras inusitadas?
- as crianças exploraram e conheceram diversas propriedades dos objetos?
- alimentaram o interesse em conhecer materiais diversos, cultivando sua sensibilidade?


A voz de quem participou

“Para garantir o protagonismo das crianças, foi preciso compreender que a brincadeira é o processo fundamental nessa fase do desenvolvimento, por este motivo as propostas permitiram que as crianças tivessem liberdade de escolha, desafios, descobertas e fossem autoras do seu fazer”.
(Professora Camila de Jesus Gomes, CEI Sagrada Família – Centro Social de Parelheiros)

“Esse trabalho com as crianças nos permitiu vivenciar momentos de descobertas, desafios e muita aprendizagem, nos fez ver que quando permitimos e damos a oportunidade, as crianças nos apontam caminhos. A partir das experiências com a arte, as crianças transformaram seu brincar, criaram relações com o outro e com o mundo”. (Elizabeth Rodrigues, Jaqueline Andrade, Letícia Pereira, Tatiane Silva – CEI Sagrada Família)

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
DEWEY, John. A arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
HOLM, Anna Marie. Baby-Art: os primeiros passos com a arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2007.
OITICICA FILHO, Cesar. O museu é o mundo. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2011.
PREFEITURA DA CIDADE DE SÂO Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para a Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT, 2007.  
SALOMÃO, Waly. Hélio Oiticica. Qual é o Parangolé? E outros escritos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.


Outras fontes de referência
www.heliooiticica.org.br/home/home.php

www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16122015-092949/pt-br.php

www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000300003

www.itaucultural.org.br